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O Armamento do Cavaleiro – Séculos XIV e XV – Tecnologia do Aço no Crepúsculo da Cavalaria

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O declínio do espírito cavaleiresco e a aparição das primeiras armas de fogo, a partir de 1314, arrastam uma reação geral tendente à proteção total do Cavaleiro. No fim do século XIV adotaram-se as primeiras placas de aço: ombreiras, joelheiras, cotoveleiras, grevas, braçais, guantes, coxais. O elmo dá lugar ao bacinete com viseira (1300), ao bacinete com malha de ferro, ao bacinete com viseira móvel. Outros capacetes aparecem: chapéu de ferro, salada barbita, elmeto, etc. Este reforço constante pelo acrescentar de peças rígidas articuladas, que destrona a cota de malha, tem o seu termo arnês pleno, ou arnês branco, a armadura integralmente metálica(século XV). Esta evolução traduz a perda do espírito cavaleiresco e do sentido da honra, agravando-se a decadência da Cavalaria a par dos aperfeiçoamentos da armadura. Assim o historiador P. Lacombe nota

“È singular que este progresso, estes cuidados complicados para defender a epiderme sejam associados aos tempos ditos da Cavalaria …Para mim, o pequeno soldado de infantaria dos nossos dias parece mais próximo do ideal militar…do que o enorme barão ferrado e couraçado”

Mas este couraçamento excessivo revela também as fraquezas da Cavalaria, sobretudo a francesa, no plano tático, cuja base eram as cargas em massa. Desprezando a infantaria e os arqueiros, seguros da invulnerabilidade proporcionada pelas suas carapaças de aço, os Cavaleiros, os “homens de ferro”, não cessam de se lançar nessas cargas impetuosas. A Cavalaria francesa não soube adaptar-se às novas condições do combate, continuando a aplicar as dos séculos XI e XII. Os resultados foram as derrotas de Crécy (1345), Poitiers (1354), Azincourt (1415), etc. A eficácia de outrora, que andava a par dos princípios cavaleirescos deu então lugar à proeza individual, ao desafio pelo desafio, sobretudo à ideia do “saber morrer” com brio, morrer belamente, segundo uma expressão do tempo, por fidelidade à ideia que se tem de si próprio e aos princípios próprios do seu estado.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Jogos Medievais. A Péla, um dos precursores do tênis atual.

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Esta Iluminura que consta em manuscrito de 1450, mostra como o jogo da péla com a bola tradicional jogado nos claustros monásticos. Fonte BNF

Os séculos XIII e XIV não são ainda os grandes séculos do jogo da péla que não vê um desenvolvimento muito marcante antes do final da Idade Média. Nascido no claustro, sem dúvida como um dos divertimentos concedidos a título anual e excepcional aos noviços jovens ou aos meninos do coro, o jogo da péla consiste em lançar-se uma bola chamada “éteuf”. A particularidade é poder aproveitar-se dos ressaltos da “bola” contra o muro do santuário ou no teto da galeria do claustro. No século XIII, o jogo da péla saiu do claustro e começou a sua ascensão rumo à notoriedade. Sabe-se que em 1292 havia treze artesãos parisienses que ganhavam a vida a fabricar “eteufs”. O que demonstra o favoritismo de que o jogo beneficiava todos os meios. Contudo, é só na segunda metade do século XIV que começam a surgir terrenos especialmente adaptados à ptrática o que, tanto pelas suas dimensões como pela arquitetura que não deixa de lembrar o claustro, indica um jogo em vias de codificação. As regras exatas continuam, porém, desconhecidas até hoje.

No entanto o jogo, praticado com as mãos nuas ou eventualmente enluvadas, exige uma entrega física total e sem dúvida uma grande rapides na apreciação da trajetória da “bola” de maneira a poder reenviá-la habilmente ao oponente. Foi sem dúvida por tê-la jogafo sem moderação que o rei Luis X, num dia de 1316, passou desta para melhor.

A partir do jogo da péla certas regras foram incorporadas, raquetes de colher de pau de cozinha, foram introduzidas, telas feitas com arames etc., originando o nosso atua jogo de tênis. Também as quadras foram determinadas com medidas mais aproximadas as atuais no século XVIII.

Obs. Essa pesquisa é uma homenagem ao meu filho Bruno Saclzilli Vieira Marques, professor de Educação Física dos mais qualificados, amante dos esportes, estudioso como eu dos jogos antigos e precursores.

 

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Os Amores Trágicos Medievais – Abelardo Uma Figura Central das “Escolas”

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Começo a escrever um artigo a respeito do amor trágico de Abelardo e Heloísa. Esse artigo será dividido em três partes para melhor compreensão ao leitor. Escrevo suas biografias entrelaçadas com aspectos históricos e a minha procura por fontes a respeito de tal contexto medieval.

Figuras emblemáticas, cativantes, que nos prende de sobremaneira, viveram o amor-paixão esmagado por um destino contrário mas, de certo modo, mais forte do que a infelicidade, do que a separação e da própria morte. Doce e arrebatador amor.

Analisando, como historiador, a história apaixonante e infeliz de Heloísa e Abelardo ilustra bem as contradições, da sociedade nos princípios do século XII. Em luta com a coação que lhes é imposta pela família, ou o casamento ou a Igreja, estas duas personagens instigantes, míticas, cuja realidade já não é posta em dúvida, não terão outra escolha senão a entrada no convento

Primeira Parte

ABELARDO UMA FIGURA CENTRAL DAS “ESCOLAS”

Pedro Abelardo, nasceu em 1079 em Pallet, perto de Nantes, na Bretanha de língua francesa. Da pequena nobreza., filho mais velho de um cavaleiro, teria podido seguir a carreira do pai. Possuía os tons de um ótimo escudeiro e absorvia os ensinamentos com facilidade. Excelente no manuseio com a espada, certamente seria frequentador assíduo dos torneios que àquela época iniciavam-se e com frequência para treinamento dos cavaleiros para as cruzadas. Preferiu entregar-se aos estudos. A família não se opôs. O pai era um cavaleiro destemido, piedoso que, embora laico, recebera um mínimo de educação. Homem rude mas justo. Já nessa época os estudos podiam ser a via de acesso a uma bela carreira eclesiástica. O pai desejava que o filho fosse um homem digno, não importava a profissão.

O fim do século XII, segundo Le Goff, foi com efeito um tempo de reforma na Igreja. Os bispos, desejosos de dispor de um clero mais digno, esforçaram-se por desenvolver as escolas ligadas às suas catedrais. Essas escolas propunham-se, antes de mais nada, formar jovens clérigos no estudo da Bíblia mas, segundo uma tradição que remontava a Santo Agostinho, considerava-se que o estudo das Escrituras devia ser precedido pelo das disciplinas da Antiguidade greco-latina, tais como a gramática, a retórica e a lógica, indispensáveis a uma boa compreensão do texto sagrado. Abelardo lançou-se pois no estudo dessas disciplinas profanas, sem dúvida pouco antes de 1100, e foi tal o seu interesse que atrasou por muito tempo o momento de passar à fase terminal do curso, quer dizer, dos estudos bíblicos.

Frequentou diversas escolas na região do Loire, depois chega a Paris, onde a escola da catedral de Notre-Dame já gozava de renome excepcional. Durante, aproximadamente, quinze anos Abelardo vai dedicar-se inteiramente ao estudo. Estudante, particularmente dotado, rapidamente abre a sua própria escola e atrai numerosos seguidores e ouvintes. Os seus antigos mestres e os antigos colegas invejam-no mas ele não teme o confronto. Virtuoso da dialética, triunfa em todas as disputas, o seu verbo brilhante seduz todos os que o escutam.

Por volta de 1112, decide-se passar aos estudos de teologia e vai para Laon, que era então o alto lugar desse ensinamento. Volta depois a Paris e inaugura, além das suas lições de gramática e dialética, um curso complementar das Escrituras. É admitido então como professor titular na escola de Notre-Dame (apesar de ter apenas ordens menores e não ser cônego da catedral), tem amigos na corte entre os grandes senhores, especialmente os Garland, favoritos do rei Luis VI. Vem-se de longe e paga-se caro para o escutar. Aos 35 anos de idade, é um homem em plena maturidade e com a vida totalmente estabilizada e conceituada. É então que conhece Heloísa e um amor trágico se anuncia.

AGUARDEM O ARTIGO, SEGUNDA PARTE, A SEGUIR QUE SE INTITULA: A PAIXÃO, E MUTILAÇÃO.

Uma análise que se impõe para o historiador, para mim pelo menos, segue o texto abaixo;

Heloísa e Abelardo realmente existiram

Até hoje encontro colegas historiadores, alunos e pessoas em geral, que acreditam piamente que Abelardo e Heloísa foi uma lenda assim como: Os Cavaleiros da Távola redonda, Canção de Rolando etc. Mas documentos tais como a Histoire de mes malheurs e as cartas que se lhe seguem, comprovam que Abelardo e Heloísa existiram realmente.

Esses documentos são tão extraordinários que por várias vezes os historiadores exprimiram dúvidas quanto a sua autenticidade e sugeriram que talvez se tratasse apenas de exercícios tardios de retórica escolar, datáveis do final do século XIII. No entanto, tais dúvidas, compreensíveis, não levaram a melhor: a convicção e a opinião largamente majoritárias consideram que os textos atribuídos a Heloísa e Abelardo são realmente deles e que a história que narram é uma história verídica, aventura pouco banal de dois seres fora do comum. Dão também um testemunho precioso dos conceitos do amor e de casal que vingavam, pelo menos em certos meios do Norte da França, na primeira metade do século XII. Atualmente, entre os historiadores, chegou-se a um acordo em considerar essa época por um lado como uma era de renascimento cultural e religioso, por outro como uma fase de grande dinamismo demográfico, econômico e social, que marca verdadeiramente o arranque do Ocidente medieval após longos séculos de uma quase imobilidade na Alta Idade Média.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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As Origens da Cavalaria – A Teoria Germânica

cx301,5Diagrama das sete pombas que representam os sete dons do Espírito Santo, um cavaleiro a cavalo, o homem justo, com o escudo da fé e armado com as virtudes, e um anjo. A armadura do cavaleiro e os acessórios ornamentais, trappings, do cavalo, são rotulados com os nomes das virtudes. Acima do texto é de 7:1 Trabalho: militia est vita hominis super terram (a vida do homem na terra é uma guerra). Biblioteca Britânica. British Library.

A teoria mais aceita entre os historiadores a respeito da origem da Cavalaria, a mais aceita é a germânica. É proveniente de Tácito que, no seu livro Germania (cap.VIII), relata uma cerimônia durante a qual um adolescente, nascido livre, recebe a lança e o escudo, deixando a infância para se tornar um adulto, portanto um guerreiro. E Tácito conclui; tal é o hábito viril destes povos: tal é a primeira honra da sua juventude. A comparação deste rito de passagem com as mais antigas investiduras conhecidas (séc. XII) é impressionante: matriz simbólica comum, mesma concisão de estilo viril e mesma natureza profana do rito. A forma religiosa é ainda diminuta, pequena, a impregnação espiritual realiza-se no foro íntimo do guerreiro. Todavia, a recuperação deste rito germânico pela Igreja, que lhe  um corpo simbólico-metafísico de uma outra natureza, não teria sido suficiente para criar a Cavalaria cristã, se fatores sócio-políticos precisos não tivessem contribuído para lhe dar uma “alma” e as normas específicas para daí nascer uma casta, composta de homens estranhos uns aos outros, mas unidos, para além do tempo e do espaço, por um estado de espírito, uma visão do mundo e um modo de vida idênticos.

Nascida nos séculos XI e XII, a Cavalaria resultou da fusão de dois grupos dominantes da sociedade carolíngia: o grupo da nobreza proprietária, onde a fortuna e os privilégios se transmitem hereditariamente, mas sem vocação militar, e o grupo dos guerreiros profissionais livres “homens novos” sustentados na casa de um senhor. A origem desta mutação é devida ao aumento do prestígio das armas, reforçado pelo da investidura valorizada pela igreja. Desde logo, a Cavalaria é englobada na vassalagem e generaliza-se o uso de que, para ser vassalo, é necessário ser armado Cavaleiro.

A palavra MILES designa simultaneamente o cavaleiro, o combatente a cavalo, o nobre e o vassalo, sendo este nomeado miles noster pelo suserano. os privilégios da nobreza tornam-se os da Cavalaria e vice-versa: privilégios militares (uso de espada, etc.), fiscais (isenção de impostos públicos, os consuetudines, etc.), jurídicos (direitos de justiça, julgamento pelos seus pares, etc.) de direito privado (direito de feudo, uso de armas plenas, etc.) transmitem-se aos filhos do Cavaleiro. Ao londo dos séculos XII e XIII, a Cavalaria reforça a sua coesão, afirmando cada vez mais a originalidade dos seus valores e do seu estilo de vida. Este reforço é devido à emergência de novas forças sociais, como a rica burguesia rural, da qual dependerão financeiramente cada vez mais os Cavaleiros arruinados pelas guerras e pela vida cortesã. O Cavaleiro tem tendência a fechar-se sobre a sua linhagem, única capaz de lhe fornecer ajuda e solidariedade. Daí a existência de uma política familiar cavaleiresca: não divisão da terra e dos bens, casamentos vantajosos e não desiguais das filhas, filhos mais novos votados ao clericato; enquanto que o filho mais velho assume a direção da linhagem vivendo em indivisão ou morgadio. Das obrigações militares da nobreza decorre a maior parte dos seus hábitos. O direito de morgadio vem em parte da necessidade de confiar ao mais forte a herança que ele deve garantir, muitas vezes pela espada. A lei de herança por masculinidade explica-se também dessa forma, pois só o homem pode assegurar a defesa de um feudo.

Royal 16 G.VI, f.133vDetalhe de uma miniatura de Charlemagne em batalha com a sua Cavalaria contra os Saxões, France – Paris British Library

Paulo Edmundo Vieira Marques

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São Jorge – O Santo Patrono dos Cavaleiros

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 São Jorge e o Dragão. Saint George and the Dragon. Autor desconhecido. 1480-90. Óleo em painel. Toledo Museum Art.

São Jorge teria nascido e sofrido o martírio em Diospolis (Luydda), na Palestina, no reinado de Diocleciano. O seu culto é antigo e de muita intensidade, desde os séculos IV e V que lhe são consagradas igrejas e monumentos (Constantinopla, Roma, Palermo, Nápoles, Etc). Este culto foi trazido para Europa pelos Cruzados, onde se lhe juntou a luta com o dragão, adição que segundo alguns historiadores especializados, parece ter ocorrido na Itália. O mito, narrado na Lenda Doirada, parece uma versão cristianizada do caçador Orion, ou de Pégaso/Belerofonte, o matador de Quimera: Jorge, passando pela cidade líbia de Silene, lutou e livrou-se de um dragão que devorava o gado e os habitantes da cidade do norte da África. A bravura, a proeza do grande guerreiro, levou a população a converter-se. Patrono dos guerreiros no Oriente desde o século VIII, foi no século XI que se tornou, na Europa, o dos equitadores e dos Cavaleiros, modelo do Cavaleiro sublimado cuja gesta foi dada como exemplo à cavalaria a partir do século XII e dotada de armas imaginárias, um escudo de prata com uma cruz de goles, armas também atribuídas a Galahad:

 (também conhecido por Galaaz ou Gwalchavad) é um personagem lendário das histórias do Ciclo Arturiano. Galahad era um dos Cavaleiros da Távola do Rei Arthur e um dos três que conseguiu alcançar o Santo Graal. Era o filho de Ban de Benoic e de Helena de Carbonek. Galahad era considerado o cavaleiro mais puro e, consequentemente, o único a poder sentar-se na Cadeira Perigosa da Távola redonda, um assento que ficava sempre vazio, já que só o escolhido poderia se sentar. Pela sua pureza, Galaaz é considerado uma encarnação de Jesus na forma de cavaleiro. Galahad é associada ao escudo branco com uma cruz vermelho, o mesmo emblema dado aos templários pelo Papa Eugênio III. 

Galahad, era considerado e feito o Cavaleiro celestial, o “Desejado”, imagem do Messias e da Graça (Sephira chesed), detentor do mandato celeste e o único que completou a demanda do Graal, simbolizando a perfeição da via cavaleiresca.

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Zanino di Pietro – Saint George Killing the Dragon. Metade do século XV, provavelmente trabalho feito, conforme datações atuais no ano de  1463.

As razões que fizeram do santo o patrono dos cavaleiros ligam-se a dois níveis simbólicos. O nível exotérico, ligado ao fato de Jorge ser sempre representado a cavalo, ao contrário de São Miguel, e o Cavaleiro é um homem a cavalo por excelência, fazendo desta especificidade o próprio sinal do seu estado. O nível esotérico, que se manifesta em dois planos. Um plano religioso, em que o santo é a encarnação da luta do Bem contra o Mal (o dragão), obrigação de todo o “Cavaleiro que tem por dever combater o Mal, a injustiça, a malícia neste mundo para que triunfe o Bem do Senhor Deus” como prescreve uma Pontifical do século XIII, e um plano metafísico ligado à vocação interior do cavaleiro, que é a de dominar, canalizar e insuflar o Espírito Divino na matéria bruta, a matéria prima. A analogia do equitador Jorge e do cavaleiro é total: dominando os quatro elementos pelo montar do cavalo, o santo aperfeiçoa a Criação, o que lhe permite existir em permanência pelo controle que exerce sobre o dragão, símbolo da matéria caótica original, hostil ao divino. Há uma tradição e contos em diversas partes do mundo que aponta o ano 303 como ano da sua morte. Apesar de sua história se basear em documentos lendários e apócrifos (decreto gelasiano do século VI), a devoção a São Jorge se espalhou por todo o mundo.

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Saint George and the Dragon. Rogier van der Weyden. 1432-35. National Gallery of Art

As constatações feitas neste artigo mais se sustentam nas imagens, meu principal objetivo. O meu maior intuito é mostrar-lhes as pinturas e que tirem as suas conclusões. E que sempre quando se refere a São Jorge suscita várias e interessantes interpretações. Um abraço para todos.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Manuscritos Medievais

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 Esta é uma edição fac-símile estritamente limitada a 550 cópias numeradas do Hagadá Rothschild, parte de uma coleção medieval maior conhecida como o Miscellany Rothschild. O belíssimo e amplamente decorado Rothschild Hagadá , escrito em 1479, no norte da Itália, é parte maior de um manuscrito medieval iluminado conhecido como Miscellany Rothschild que se encontra na coleção do Museu de Israel.

A maioria dos livros medievais são preservados em bibliotecas de pesquisa, em virtude de sua importância histórica e seu manuseio requerer o auxílio de um profissional ou especialista no assunto, geralmente historiadores. Mas esses, livros, manuscritos, estão tornando-se mais acessíveis a cada dia por recursos on line, internet. Entretanto, também requer o auxílio de um conhecedor capacitado para que o objeto pesquisado realmente seja o documento histórico a que procuramos; um manuscrito medieval.

A rigor, qualquer documento escrito à mão é um manuscrito, do latim manuscriptus significa literalmente “escrito” (scriptus) “à mão” (manu). Assim cartas, pergaminhos, fragmentos e livros são considerados manuscritos. Mas são os livros que comumente são referidos como manuscritos. Um livro medieval ou códice, a palavra latina para ”tronco de árvore”, usado porque os primeiros livros eram feitos de tábuas de madeira revestidas com cera, similar ao método de hoje em dia, o livro moderno, mas em vez de produzir várias cópias, os escribas medievais não tinham os recursos para “editá-los”, em várias cópias, infelizmente. Os textos, as iluminuras, eram feitos a mão, minuciosamente elaborados e requintados de acordo com a vontade do patrão, patronos. E eram os patronos que determinavam o número de cópias que deveriam ser feitas, geralmente para presentear e se vangloriar do patrocínio. Era documentos belíssimos, incrivelmente decorados, uma luz aos olhos pela delicadeza e dedicação do escriba e iluminador.

Ele ou ela (havia escribas mulheres na Idade Média) podiam reunir uma série de textos que não são encontrados juntos em nenhum lugar, pois a sua originalidade era única. As cópias nunca continham os mesmos itens do original, mas seguidamente eram corrigidos para que nenhum detalhe passasse errôneo ao manuscrito original e que fossem percebidos àqueles que o adquirissem. Mas todo e qualquer manuscrito contém surpresas e desafios e que vale um olhar cuidadoso.

cv50Black Book of Hours 15th Century – Pierpont Morgan Library, New York, M. 493.

Manuscritos medievais são geralmente expostos em grandes bibliotecas de pesquisa, apesar de serem encontrados em coleções particulares, catedrais, faculdades e em residências privadas. Há grandes coleções, na Europa estão as principais. Destaca-se a da Biblioteca Britânica, em Londres, as várias bibliotecas de Oxford e da Bibliothèque Nationale da França. Algumas bibliotecas norte-americanas também possuem coleções significativas como: E. Henry Huntington Library, na Califórnia e da Biblioteca Newberry, em Illinois. Nunca tive em minhas mãos a oportunidade de pegar uma raridade tão linda destas, mas quem sabe um dia eu não tenha essa oportunidade de manusear essa maravilha do mundo medieval. Delicio-me navegando pelas bibliotecas do mundo, pesquisando esses preciosos documentos e tentando repassar àqueles que o desconhecem. Como se fossem tesouros, essas raridades maravilhosas, estão lá enterradas na internet, e eu as garimpo com dedicação e com a maior dedicação, pois as amo. Espero encontrá-las no maior número possível e colocar em meu site e blog para que vocês apreciem, tenho certeza que vão gostar.

cv83O Lutrell Psalter escrito e iluminado no segundo quarto do século XIV: contém os salmos, e cantigas, calendários e as festas das igrejas e seus festivais e dias dos santos para as respectivas rezas e outras liturgias.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Feira do Livro de Porto Alegre – 59ª Edição

A EDITORA PRADENSE venderá meu livro Torneios Medievais Espetáculos e Desafios na Corte de René I,  na sua banca na Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorre de 1º a 17 de novembro, Qualquer coisa falar com o Ricardo, gente boa, que lhe atenderá com a maior atenção e terá o maior prazer em apresentar meu trabalho. Aguardo a visita de todos os meus amigos, aficionados pelo medievo  e leitores em geral para prestigiar o meu livro. Se necessitarem de encomendas, por favor entrar em contato comigo pelo email pauloedmarques@gmail.com. Nos encontramos na praça. Um abraço para todos.

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Livros 3 (1)

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Ritual de Investidura de um Cavaleiro do Século XII

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1. [Invocação do Senhor, de Cristo e da Santa Mãe de de Deus]

2. “Senhor, ouve\as nossas preces, e digna-te abençoar com a Majestade da tua mão Direita esta espada, com que este Servidor desejou ser cingido, para que ela sirva para a proteção e defesa das igrejas, das viúvas, dos órfãos e de todos os servos de Deus contra o furor dos pagãos, e leve a todos os assaltantes terror e medo”

3. {Invocação da proteção divina]

4. “Quanto a ti, agora que estás a ponto de ser feito cavaleiro recorda estas palavras do Espírito Santo: “Valente guerreiro, cinge a tua espada (Salmo 45:4); esta espada, é de fato a do Espírito Santo, que é a palavra de Deus. Com esta imagem, afirma pois a Verdade, defende a igreja, os orfãos, as viúvas, os que rezam e os que trabalham , ergue-te prontamente contra aqueles que atacam a santa igreja, para surgir coroado, na presença de Cristo, armado do gládio da Verdade e da Justiça”

5. “Recebe esta espada, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

6. Recebe esta lança, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

7. Recebe este escudo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

8. Recebe estas esporas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém”

Ordinatio militis de Itália do Sul (século XII), ed. R.Elze, Konigskronung und Ritterweihe. Institutionen, Kultur une Gsesllschaft im Mittelatter. Festschrift Josef Fleckenstein zu seinem 65. Geburstag Sigmaringen, 1984,p.341.

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Paulo Edmundo Vieira Marques

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O Estandarte e a Cruz

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Em Paris, no dia 27 de abril de 1147, nas novas instalações do Templo, teve lugar um capítulo que reuniu cento e trinta cavaleiros “todos vestidos com os seus mantos brancos”. Os irmãos iam examinar a iniciativa de Luis VII que preparava uma nova cruzada e precisava da participação de um forte contingente das comendadorias da França e da Espanha. O capítulo foi honrado com a presença do papa Eugênio III. Foi aí que o Santo Padre concedeu aos Templários a cruz pátea de cor vermelha, ” afim de que este sinal triunfante lhes sirva de escudo e que eles nunca voltem rédeas face a qualquer infiel”.

Os irmãos usaram a cruz cosida no lado esquerdo do seu manto, um pouco acima do coração, e acrescentaram ao seu pendão o balsão, lembrando o grito de guerra dos cavaleiros ” A mim, bom senhor! Balsão ao socorro!” Esta expressão correspondia a “Vall cem” um templário valia por cem soldados. O estandarte era branco e negro, ‘para”, diz Jacques Vitry, “significar que eles (os Templários) são francos e benevolentes para com os seus amigos, negros e terríveis para com os seus inimigos…Leões na guerra, cordeiros na paz” A toda a volta estava bordada a divisa da ordem: “Non nobis, Domine, nom nobis, sed nomini tuo da gloriam” _ “Não a nós, Senhor, não a nós, mas a teu nome só dá a glória”

Nenhum combatente podia deixar o campo de batalha enquanto avistasse o balsão. Era, por isso, estritamente proibido baixar o estandarte e servir-se dele como lança, sob pena de castigo severo.

Fonte The Knight in History, Frances Gies.

Obs: Pesquisa feita em homenagem ao meu amigo escritor e amante do medievo Sergio Gallina. Que Deus o tenha, templário dos nossos tempos atuais. Lutador. Batlhador das palavras e das letras. Abraço, saúde.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Agincourt – Massacre de Cavaleiros Através das Flechas

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 Ilustração Batalha de Agincourt, John Gilbert, final séc. XIX.

É muito difícil para um historiador escrever um artigo, objetivamente, sucintamente, mas com conteúdo sobre um tema tão importante para a História Medieval como foi a Batalha de Agincourt. Mas eu tive um professor na PUCRS chamado Helder Gordim Silveira que certa vez me puxou para um canto e me disse objetivamente: Paulo a tua maior virtude como historiador é o teu poder de síntese para temas e contextos históricos, use-os da melhor maneira. Fiquei muito envaidecido. Quando não foi a minha surpresa que outro professor ainda mais experiente na escrita da História, professor Moacyr Flores, disse-me a mesma coisa. Creio que diante de opiniões tão capacitadas tenho certo respaldo para me aventurar em artigos que requerem certa objetividade. Espero que diante de análise de peritos, espero escrever um artigo que sustente as perspectivavas dos meus mestres e seja sensível e objetivo.

Foi Agincourt talvez a última batalha da Cavalaria. Com um desprezo manifesto pela infantaria, os cavaleiros franceses, embaraçados com equipamento demasiado pesado, vão morrer no assalto em que os arqueiros ingleses terão provado a supremacia das armas ligeiras.

Outubro de 1415. A chamada Guerra dos Cem Anos chega quase ao seu final. O desafio não mudou desde o reinado de Eduardo II, iniciador do conflito. A França sofre inúmeras derrotas, batido em Écluse, Crécy e Pitiers em 1340, 1346 e 156, o reino capetiano volta a reanimar graças a Carlos V. O rei, com a ajuda de dois valentes soldados, o bretão Bertrand du Guesclin e o cavaleiro Jean de Vienne, restabeleceu o equilíbrio. Infelizmente este monarca prudente morreu demasiado cedo. Carlos, seu filho, esta doente e só tem curtos instantes de lucidez. A esposa deste, Isabel da Baviera, conduz os assuntos. Frívola e ávida, raramente opta pelo interesse da França. À vista de todos a Borgonha tece a sua própria teia demasiado favorável à dos ingleses. Em Londres, Henrique V de Lancaster tem vinte e sete anos e reina desde 1413. Em política, persegue as ambições dos Plantagenetas. Quer anular as anexações de Felipe Augusto e recuperar os territórios cedidos aos ingleses pelo tratado de Brétigny de 1360, mas retomados por Carlos V. Indo ainda mais longe e situando-se na dependência de Eduardo III, aspira ao trono de França. Nesta perspectiva, Henrique V pensa desposar Catarina, a filha de Carlos VI. A princesa tem apenas 14 anos e o monarca tem pressa. Sem esperar os trâmites do casamento, que acabarão por chegar, com a dama munida de um belo dote, prepara-se para as hostilidades. A 28 de julho, o seu arauto apresenta-se ao rei da França, portador de uma carta na qual reivindica o reino da França. Em caso de recusa, ameça “cobrir essa terra de um dilúvio de sangue humano”. Carlos VI recebe a missiva num momento de lucidez. responde com dignidade: “O conselho da França tentou todas as vias para evitar a guerra; de resto, as suas ameaças não me assustam e se o Céu se dignar conceder-me saúde por algum tempo, vão me encontrar preparado para vos expulsar da França se cá ousar entrar”. Os dados são claros. Se Henrique V persiste nos seus desígnios, será de novo a guerra. E o inglês persiste. A 19 de Agosto de 1415, 1600 navios saem de Southampton e Portsmouth com cerca de 30 000 homens a bordo. Tendo desembarcado, anteriormente, não longe da embocadura do Sena, Henrique V dirige-se para Harfleur, que cerca a 18 de Agosto. Nessa altura, no descalabro geral da autoridade real, não existe exército francês devidamente constituído.

Um homem de coragem, o marechal Boucicaut, consegue no entanto preparar sem demora 6000 homens de armas com os quais persegue os sitiantes. A sua ação não pode todavia evitar a capitulação de Harfleur, que abre as portas ao inglês no domingo 22 de setembro. Henrique É muito difícil para um historiador escrever um artigo, objetivamente, sucintamente, mas com conteúdo sobre um tema tão importante para a História Medieval como foi a Batalha de Agincourt. Mas eu tive um professor na PUCRS chamado Helder Gordim Silveira que certa vez me puxou para um canto e me disse objetivamente: Paulo a tua maior virtude como historiador é o teu poder de síntese para temas e contextos históricos, use-os da melhor maneira. Fiquei muito envaidecido. Quando não foi a minha surpresa que outro professor ainda mais experiente na escrita da História, professor Moacyr Flores, disse-me a mesma coisa. Creio que diante de opiniões tão capacitadas tenho certo respaldo para me aventurar em artigos que requerem certa objetividade. Espero que diante de análise de peritos, espero escrever um artigo que sustente as perspectivavas dos meus mestres e seja sensível e objetivo.

Foi Agincourt talvez a última batalha da Cavalaria. Com um desprezo manifesto pela infantaria, os cavaleiros franceses, embaraçados com equipamento demasiado pesado, vão morrer no assalto em que os arqueiros ingleses terão provado a supremacia das armas ligeiras.

Outubro de 1415. A chamada Guerra dos Cem Anos chega quase ao seu final. O desafio não mudou desde o reinado de Eduardo II, iniciador do conflito. A França sofre inúmeras derrotas, batido em Écluse, Crécy e Pitiers em 1340, 1346 e 156, o reino capetiano volta a reanimar graças a Carlos V. O rei, com a ajuda de dois valentes soldados, o bretão Bertrand du Guesclin e o cavaleiro Jean de Vienne, restabeleceu o equilíbrio. Infelizmente este monarca prudente morreu demasiado cedo. Carlos, seu filho, esta doente e só tem curtos instantes de lucidez. A esposa deste, Isabel da Baviera, conduz os assuntos. Frívola e ávida, raramente opta pelo interesse da França. À vista de todos a Borgonha tece a sua própria teia demasiado favorável à dos ingleses. Em Londres, Henrique V de Lancaster tem vinte e sete anos e reina desde 1413. Em política, persegue as ambições dos Plantagenetas. Quer anular as anexações de Felipe Augusto e recuperar os territórios cedidos aos ingleses pelo tratado de Brétigny de 1360, mas retomados por Carlos V. Indo ainda mais longe e situando-se na dependência de Eduardo III, aspira ao trono de França. Nesta perspectiva, Henrique V pensa desposar Catarina, a filha de Carlos VI. A princesa tem apenas 14 anos e o monarca tem pressa. Sem esperar os trâmites do casamento, que acabarão por chegar, com a dama munida de um belo dote, prepara-se para as hostilidades. A 28 de julho, o seu arauto apresenta-se ao rei da França, portador de uma carta na qual reivindica o reino da França. Em caso de recusa, ameça “cobrir essa terra de um dilúvio de sangue humano”. Carlos VI recebe a missiva num momento de lucidez. responde com dignidade: “O conselho da França tentou todas as vias para evitar a guerra; de resto, as suas ameaças não me assustam e se o Céu se dignar conceder-me saúde por algum tempo, vão me encontrar preparado para vos expulsar da França se cá ousar entrar”. Os dados são claros. Se Henrique V persiste nos seus desígnios, será de novo a guerra. E o inglês persiste. A 19 de Agosto de 1415, 1600 navios saem de Southampton e Portsmouth com cerca de 30 000 homens a bordo. Tendo desembarcado, anteriormente, não longe da embocadura do Sena, Henrique V dirige-se para Harfleur, que cerca a 18 de Agosto. Nessa altura, no descalabro geral da autoridade real, não existe exército francês devidamente constituído.

Um homem de coragem, o marechal Boucicaut, consegue no entanto preparar sem demora 6000 homens de armas com os quais persegue os sitiantes. A sua ação não pode todavia evitar a capitulação de Harfleur, que abre as portas ao inglês no domingo 22 de setembro. Henrique É muito difícil para um historiador escrever um artigo, objetivamente, sucintamente, mas com conteúdo sobre um tema tão importante para a História Medieval como foi a Batalha de Agincourt. Mas eu tive um professor na PUCRS chamado Helder Gordim Silveira que certa vez me puxou para um canto e me disse objetivamente: Paulo a tua maior virtude como historiador é o teu poder de síntese para temas e contextos históricos, use-os da melhor maneira. Fiquei muito envaidecido. Quando não foi a minha surpresa que outro professor ainda mais experiente na escrita da História, professor Moacyr Flores, disse-me a mesma coisa. Creio que diante de opiniões tão capacitadas tenho certo respaldo para me aventurar em artigos que requerem certa objetividade. Espero que diante de análise de peritos, espero escrever um artigo que sustente as perspectivavas dos meus mestres e seja sensível e objetivo.

Foi Agincourt talvez a última batalha da Cavalaria. Com um desprezo manifesto pela infantaria, os cavaleiros franceses, embaraçados com equipamento demasiado pesado, vão morrer no assalto em que os arqueiros ingleses terão provado a supremacia das armas ligeiras.

Outubro de 1415. A chamada Guerra dos Cem Anos chega quase ao seu final. O desafio não mudou desde o reinado de Eduardo II, iniciador do conflito. A França sofre inúmeras derrotas, batido em Écluse, Crécy e Pitiers em 1340, 1346 e 156, o reino capetiano volta a reanimar graças a Carlos V. O rei, com a ajuda de dois valentes soldados, o bretão Bertrand du Guesclin e o cavaleiro Jean de Vienne, restabeleceu o equilíbrio. Infelizmente este monarca prudente morreu demasiado cedo. Carlos, seu filho, esta doente e só tem curtos instantes de lucidez. A esposa deste, Isabel da Baviera, conduz os assuntos. Frívola e ávida, raramente opta pelo interesse da França. À vista de todos a Borgonha tece a sua própria teia demasiado favorável à dos ingleses. Em Londres, Henrique V de Lancaster tem vinte e sete anos e reina desde 1413. Em política, persegue as ambições dos Plantagenetas. Quer anular as anexações de Felipe Augusto e recuperar os territórios cedidos aos ingleses pelo tratado de Brétigny de 1360, mas retomados por Carlos V. Indo ainda mais longe e situando-se na dependência de Eduardo III, aspira ao trono de França. Nesta perspectiva, Henrique V pensa desposar Catarina, a filha de Carlos VI. A princesa tem apenas 14 anos e o monarca tem pressa. Sem esperar os trâmites do casamento, que acabarão por chegar, com a dama munida de um belo dote, prepara-se para as hostilidades. A 28 de julho, o seu arauto apresenta-se ao rei da França, portador de uma carta na qual reivindica o reino da França. Em caso de recusa, ameça “cobrir essa terra de um dilúvio de sangue humano”. Carlos VI recebe a missiva num momento de lucidez. responde com dignidade: “O conselho da França tentou todas as vias para evitar a guerra; de resto, as suas ameaças não me assustam e se o Céu se dignar conceder-me saúde por algum tempo, vão me encontrar preparado para vos expulsar da França se cá ousar entrar”. Os dados são claros. Se Henrique V persiste nos seus desígnios, será de novo a guerra. E o inglês persiste. A 19 de Agosto de 1415, 1600 navios saem de Southampton e Portsmouth com cerca de 30 000 homens a bordo. Tendo desembarcado, anteriormente, não longe da embocadura do Sena, Henrique V dirige-se para Harfleur, que cerca a 18 de Agosto. Nessa altura, no descalabro geral da autoridade real, não existe exército francês devidamente constituído.

Um homem de coragem, o marechal Boucicaut, consegue no entanto preparar sem demora 6000 homens de armas com os quais persegue os sitiantes. A sua ação não pode todavia evitar a capitulação de Harfleur, que abre as portas ao inglês no domingo 22 de setembro. Henrique V dispõe agora de um bom porto na costa francesa. Mas a sorte é uma deusa caprichosa. Abandona o rei inglês. Enquanto metade da frota consegue sair da Inglaterra, a tempestade destrói a outra metade que ficara perto das margens normandas. Bloqueados em Harfleur por Boucicaut que não desistiu, os ingleses estão com falta de mantimentos. A doença dizima as fileiras. Para se livrar desse mau passo, Henrique V decide sair da cidade. Abandona a sua ideia inicial, formulada numa carta datada de Setembro, de seguir ao longo do Sena e encaminhar-se para Bordeaux logo após a queda de Harfleur. Por questão de honra, e antes de abandonar o continente, precisa pelo menos de percorrer algumas das terras que reivindica, decidindo subir para o norte ao longo da costa. A 8 de Outubro o exército põe-se a caminho. Não tem a sua volta mais de 26 000 homens e Boucicaut, agarrado aos seus cavaleiros, não o perde de vista. os pequenos ataques dos franceses, em Arques e depois sob os muros da pequena povoação de Eu, custa-lhes vidas. Não sem dificuldades, acaba por alcançar o Soma e consegue atravessar o rio. A sua intenção é agora chegar a Calais, cidade nas mãos dos ingleses desde 1347. Boucicaut continua mais presente do que nunca. Recebeu mesmo ajuda. O apelo de Carlos VI foi escutado. Os cavaleiros ergueram-se em massa para se oporem aos invasores. O condestável Carlos d’Albret, oficialmente o dignatário mais altamente colocado na hierarquia militar, chega com reforços. Todos eles, barões, fidalgos que acorreram confusamente, são cerca de 11 000 e representam os melhores da cavalaria francesa: juntaram-se a aeles 11 príncipes de sangue. No total, os franceses com os escudeiros e os milicianos comunais são agora numericamente os mais fortes: cerca de 40 000. Na sua frente V, que sofreu perdas, dispõe de menos de 20 000 homens válidos. Os franceses têm pois a vantagem do número, mas falta-lhes unidade de comando. O rei não se encontra ali, dado o seu estado. Boucicaut é prudente, mas d’Albret é meio afoito. Os príncipes de sangue agaram-se às suas prerrogativas. Querem impor os seus modos de ver. Em resumo, toda a gente fala e ninguém comanda realmente.

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 Henrique V, rei da Inglaterra. Pintura século XV.

Quanto a Henrique V, é o único senhor a bordo. para alcançar Calais, esta condenado a passar sobre o corpo dos franceses que formam barragem. Não hesita. Irá bater-se, tanto mais que sabe que os seus adversários só falam em lutar. Tendo transposto o Canche, escolhe ele próprio o sítio do confronto. Na noite de 24 de Outubro, o exército inglês abrigou-se como pôde na zona da aldeia de Maison celles, a cerca de 50 Km a sudeste de Calais, e comeu o pouco de que dispunha. O cenário é um planalto plantado de árvores, tendo ao centro a povoação de Maisoncelles. O lado oriental confina com o bosque de Tramencourt rodeado de fortes sebes; o de oeste ladeia a floresta de Agincourt, nome da modesta aldeia de algumas dezenas de casebres e um castelo feudal. Este terreno isolado é relativamente acanhado: menos de 3 Km de comprimento e 800 metros de largura, onde se irão defrontar os dois adversários, Boucicaut não é só corajoso. Vê com clareza. Desaconselha que se aventurem numa posição demasiado estreita para tentar irrupções e em que o inimigo pode compensar a sua inferioridade numérica. Mas D’Albret, os príncipes de sangue, todos os duques e condes, são de um nível superior ao seu. Têm maioria no conselho. É preciso atacar. O grupo francês, divide-se em três “batalhas”. Mas o espaço disponível impossibilita, como se viu, toda a noçao de manobra e não permite que se travem conjuntamente as três “batalhas”. Só poderão intervir sucessivamente num choque brutal de um grupo de cavaleiros e de escudeiros. Arqueiros, besteiros, milicianos comunais, são postos de parte. Os feudais não sabem que fazer com a infantaria, ou seja os simples soldados. Na sua retirada de Harfleur, o rei Henrique V perdeu o grosso dos cavalos. Conta sobretudo com os arqueiros, auxiliares fiéis do exército inglês. Crécy demonstrou isso. Além disso, exercitou-os na manobra do “pique”. Estes piques são longas hastes de vários pés, armadas\com uma grossa ponta de ferro em cada extremidade. Fixadas no solo e inclinadas sob comando, consituem verdadeiros espetos gigantes, quebrando a carga dos cavaleiros.

O Outono já esta bastante avançado. Choveu. A terra de Artois é escorregadia e pesada. Dificulta a marcha dos homens e dos animais. Voltou a chover na noite de 24 para 25 de Outubro. os ingleses dormiram praticamente enxutos, Henrique V mandara-os descansar abrigados. Em contrapartida, os franceses estão fatigados. Apanharam trombas de água e não fecharam os olhos. Na manhã daquele 25 de Outubro de 1415, os dois exércitos defrontam-se a algumas centenas de metros de distância. O silêncio é de rigor no campo britânico; um milhar de homens esta em coluna cerrada de frente. Henrique V encontra-se no centro do seu dispositivo, que compreende cerca de 14 000 combatentes. Aguarda o ataque. No campo francês reina o tumulto e a incerteza prevalece. No último momento Boucicaut conseguiu temperar o ardores belicosos. A ordem de atacar foi adiada e cada um acampa à vontade. Henrique V percebe que os franceses se furtam. O seu exército tem fome. Há vinte e quatro horas que a sua tropa não come. Decidindo-se forçar o destino, ordena marchar em frente. A este movimento imprevisto o grito “Às armas!” ressoa no acampamento francês. Todos se esforçam por retomar as posições um momento ocupadas e depois abandonadas após decisão de adiar a operação. Se o ardor é manifesto, a precipitação perturba a ordem inicialmente estabelecida. Resolutamente, duas colunas de 1200 e a 1500 cavaleiros franceses no total lançam-se contornando os bosques de Agincourt e de Tramincourt. A terra argilosa, recentemente revolvida e semeada, esta embebida de água. Os cavalos atola-se e avançam com lentidão.

cn68,51Batalha de Agincourt, manuscrito século XV.

A manobra do pique, dos ingleses, é executada com perfeição. A carga detém-se enquanto os arqueiros ingleses fazem chover nuvens de flechas mortais; os dois chefes da cavalaria são postos fora de combate Cliquet de Brabante morre, o conde de Vendôme é feito prisioneiro. O dia começa mal. O condestável d’Albret, com a sua “batalha”, mudará o curso das coisas? Os seus cavaleiros estão teoricamente montados, mas muito vão a pé por falta de espaço e na esperança de se baterem melhor. Por um momento d’Albret parece penetrar na frente adversa, mas é apanhado de flanco pelos arqueiros. Os cavalos, feridos de morte, tombam; os cavaleiros caem em terra. Incapazes de se levantarem sozinhos, ficam a mercê das estocadas inglesas. O condestável e o duque Brabante são os primeiros a ser mortos. O marechal Boucicaut, que não é dos que ficam atrás, é por sua vez gravemente ferido. Desaparece debaixo dos feridos e dos cadáveres. O confronto transforma-se em massacre. Desembocando vaga por vaga, em filas compactas, os franceses, precipitando-se em socorro, vêm morrer alternadamente sob os golpes dos arqueiros e da infantaria inglesa que dispõem de mais mobilidade. Mas o caso não fica terminado. Todos os grupos sofreram. O duque de Alençon agrupa os seus e os restos da “batalha” do condestável. Henrique V faz o mesmo e reconstitui-se em linha a 300 passos. Os dois exércitos vão enfrentar-se de novo. desta vez nas proximidades do castelo de Agincourt que se distingue por trás de uma linha de árvores. Durante longos momentos a escaramuça mostra-se incerta. Os arqueiros ingleses continuam a parecer temíveis. Vigilantes, penetram e ferem os adversários de flanco. os franceses possuem ainda a vantagem do número, mas incapazes de manobrarem, são mais do que nunca obrigados a combater de frente e pagam pelo grande peso dos seus equipamentos. O ímpeto abre-lhe passagem até ao monarca. Com um golpe de espada, afasta o duque de Gloucester, irmão do rei. Com outro, parte a coroa sobre o capacete do rei Henrique V. Mas os ingleses assaltam-no por todos os lados e ele cai mortalmente ferido. os seus fiéis, que o haviam seguido na ambição desesperada de matar o rei, partilham a sua sorte. Os franceses dispõem ainda de 15 000 homens capazes de combater. Mas já não têm chefes dignos desse nome para os conduzir ao inimigo. Todos os grandes feudais, capitães por direito, estão mortos, feridos ou prisioneiros. Perde-se uma possibilidade. O exército de Henrique V, abalado pelos sucessivos esforços dos cavaleiros franceses, poderia ser ainda repelido. Ninguém tem consciência de que a vitória é possível. O pânico dos milicianos nas retaguardas confirma que Agincourt será uma derrota. Henrique V esta senhor do campo de batalha e a barbárie vai enegrecer para sempre o seu sucesso. De fato, 4000 prisioneiros, todos nobres e mais ou menos feridos, estão nas suas mãos. De súbito os boatos da iminência de um novo ataque francês, ordena que os massacrem. Os arqueiros britânicos, a golpes de adaga, encarregam-se da vil tarefa antes de Henrique V mudar a sua decisão. Entretanto, cerca da metade dos prisioneiros estão já mortos. A batalha termina finalmente. Durou apenas três hora; 6000 cavaleiros franceses ficaram mortos, os conde de Venôme e de Richemont, com o marechal de Bocicaut, feridos, ficam prisioneiros. Há um outro prisioneiro famoso, Carlos d’Orleães, o poeta, pai de um futuro rei da França, Luis XII, ficará vinte e cinco anos em cativeiro na Inglaterra, onde cantará a pátria distante. Quanto aos ingleses, apenas tiveram 1600 mortos. A derrota de Agincourt, a 25 de Outubro de 1415, precipita a França naquilo que durante muito tempo foi qualificado nos manuais escolares de “vergonhoso tratado de Troyes” cedendo, em 1420, a França aos inglese. Para além destes incidentes políticos pode-se, evocando um feito de armas, perguntar as causas profundas deste naufrágio militar. Os cavaleiros franceses eram corajosos e não faltaram a essa virtude principal na arte da guerra: a coragem. Mas a coragem, e a história militar recorda-o, nem sempre basta para ganhar batalhas. Assim fica aberto o debate. Quem comandava em Agincourt? Ninguém e toda a gente, como se viu. Desde Felipe VI de Valois que a França esta dividida militarmente entre os marechais da França e os príncipes, estes com o título de tenentes do rei. Estas divisões repercutem-se no campo de batalha. Na ausência do rei, que é o caso em Agincourt, ninguém toma a direção, nem mesmo o condestável. Esta distorção do comando manifesta-se nos assaltos desordenados levados a cabo pelas diversas “batalhas”, na ausência de visão de conjunto da condução do combate. Este exército francês de Agincourt é apenas uma composição de acaso. Todos aqueles cavaleiros sonham com glória e saque, sem consciência de um desafio coletivo. Os milicianos comunais, recrutados para a ocasião, “armados de machados e maças”, têm falta de motivação e de profissionalismo. Os feudais não poderiam dar-lhes lugar. Os 6000 parisienses, bem armados, que poderiam rechaçar os arqueiros ingleses, foram recusados pelos duques de Bourbon e d’Alenço. O exército francês bateu-se sem infantaria. Arqueiros e besteiros foram mantidos em segunda linha e não contaram.

Os senhores da nobreza queriam para si só o ganho da vitória. mantiveram-se fiéis às velhas práticas mais agravadas. Com os anos, estes homens de armas, seguidos dos seus escudeiros e servos, não pararam de couraçar-se. A armadura pesa 25 Kg, o capacete de ferro sobre a cabeça, 5 Kg, as armas pelo menos mais 5 Kg. Assim vestido, o homem de guerra tornou-se uma verdadeira estátua de ferro. O cavaleiro, esmagado pelo peso,perdeu toda a mobilidade, quer combata a pé ou a cavalo. Para compensar, o seu cavalo abandonou boa parte da sua proteção e tornou-se vulnerável. Se o cavalo for morto sob ele, o cavaleiro atirado ao chão é incapaz de se erguer sozinho.

Agincourt, última batalha da Idade Média, túmulo da organização feudal, escreveram os historiadores. Carlos VII, o rei do exército permanente, Luis XI, rei do recurso aos contingentes estrangeiros, compreenderão que é necessário mudar de métodos. Antes deles, Joana, a Lorena, recordaria também que um exército implicava um impulso nacional e que a defesa do país a todos incumbia, nobres ou camponeses.

Fonte: Agincourt – Juliet Parker

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Joana d’Arc – Herege Salvadora

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 Detalhe manuscrito final do século XV, França BNF.

Grande personagem da história medieval, talvez um dos mais importantes na minha opinião, Joana d”Arc nasceu em Domrémy, região da Loraine, França, em 1412, sendo um dos cinco filhos de Jacques d”Arc e Isabelle Romée. Como era normal à época, Joana ajudava nos trabalhos da casa e também auxiliava o pai no campo, principalmente com o gado.

Não sabia ler nem escrever. Crente, muito religiosa e menina séria, Joana era uma criança como as outras: brincava, cantava, dançava, sorria, mas chorava seguidamente. Até a sua morte foi uma pessoa emotiva e ponderada. Possuía uma personalidade muito forte, incondicional defensora da justiça. Intransigente mas ao mesmo tempo valente. Uma grande mulher.

Como os outros dos habitantes do campo e do vilarejo, a pequena Joana de Domrémy, ouvia falar seguidamente do estado calamitoso em que se encontrava o reino francês. Sabia da crueldade da guerra e da longa ocupação dos ingleses. Assustava-se seguidamente com os alertas quando os inimigos se aproximavam de seu povoado e fugiam para um refúgio mais próximo.

Ainda, diante das circunstâncias da ocupação inglesa, ainda menina tornou-se um soldado santo para alguns e a herege salvadora para outros. Desde o momento de sua morte tornou-se inspiração para milhares de historiadores, poetas e pintores. Cada um com a sua colocação e seu ponto de vista a respeito da heroína francesa contam uma história diferente.

Guiada pelo que ela achava eram vozes divinas, Joana acendeu nos franceses a força do maravilhoso cristão, da fé inabalável, e do aparecimento de um patriotismo popular alimentado pelo ódio inglês, ódio que subsistirá, ou reaparecerá.

Sua primeira vitória; persuadiu os compatriotas e o senhor Vaucouleurs, nobre francês e agente do Delfim, a dar-lhe uma espada e salvo conduto, roupas de homem e uma pequena escolta para se deslocar sem dificuldades, de noite, por vias afastadas, desde Champanha até à Touraine.

Na segunda vitória reconheceu o rei entre os cortesãos de Chinon; ultrapassou provas (mal conhecidas) que lhe foram impostas perante o Parlamento de Poitiers (e a constatação da sua virgindade feita pelas matronas) e conquistou a confiança e o respeito dos rudes soldados e dos seus comandantes, apesar de ser uma menina e mulher.

As vitórias seguintes ultrapassaram largamente as precedentes. Em primeiro lugar na qualidade de “chefe de Guerra”, mas apenas com algumas centenas de homens, atirou-se sobre Orleães cercada e libertou a cidade (8 de maio de 1429), chave de toda a penetração e ocupação inglesa nos Estados delfinais: vitória estratégica e moral considerável. Em seguida, e, sobretudo, decidiu o indeciso Carlos VII seguir o caminho de Reims para aí se fazer sagrar segundo os ritos, com o óleo de Santa Âmbula, e tornar-se assim o rei ungido com o Senhor e quase-padre recebendo o seu reino de Deus, mas eis quem, tranquilizando sem dúvida um monarca de quem a Donzela tinha sempre jurado a legitimidade humana e divina, lhe assegurou autoridade e prestígio. Para ele e, sobretudo para a Virgem se dirigiam a fidelidade e a fé populares, pois esta epopeia foi rapidamente conhecida e interpretada como um sinal do Céu.

“Em nome de Deus, devemos combatê-los. Teremos os ingleses em nossas mãos. Porque Deus nos enviou para puni-los. Hoje, o Delfim gentil terá a maior vitória que Ele conquistou durante muito tempo! Minhas vozes disseram-me que o inimigo vai ser nosso.”
Joana d’Arc

Em quatro meses, de abril a julho de 1419, Joana tinha conseguido o essencial e o inesperado. Por que é que Carlos VII se teria importado quando ela caiu, ferida, diante de Paris, foi presa em Compienha, vendida aos ingleses, julgada e condenada a fogueira por um tribunal composto com este intento? Ela tinha cumprido o seu intento, o rei já não precisava dela, e os ingleses ficaram encantados por se desembaraçarem daquela que tinham sempre considerado uma feiticeira, com enormes poderes.

Joana d’Arc morreu com 19 anos em Rouen, por perjúrio e heresia. Sua morte a fez muito poderosa. A partir do século XVI, na França, fez dela uma heroína nacional. Os homens de séculos subsequentes, principalmente os poetas e historiadores, levaram a sua história para suas peças, poemas e livros. Sua imagem foi exposta em várias estátuas. Ela tornou-se o espírito da França, a donzela, o santo guerreiro, o símbolo republicano e napoleônico para a oposição aos ingleses e para aqueles que tentavam invadir e ameaçar o território francês contra o estrangeiro. Na Segunda Guerra Mundial, Charles de Gaulle usou seu padrão, a sua marca, a Cruz de Lorena , como o símbolo da França Livre. Em 1920 ela foi canonizada como santa pelo Papa Bento XV.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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O Ideal da Cavalaria

O aparecimento da lenda arturiana, fermento da matéria da Bretanha e a sua ligação a uma realidade histórica, continua sendo um mistério. As críticas que vêem nela uma criação original do século XII ocultam o manifesto crisol céltico de que se encontram emanações ao longo das narrativas. Sendo a difusão da lenda céltica essencialmente oral, serviu de fundo comum à criação da lenda arturiana. A trama é simples: Artur é um soberano amado e respeitado na Bretanha, o melhor que jamis houve. Sua mulher, a bela Guenièvre, vive um amor ilícito com Lancelot du La. Ao lado do rei Artur reúnem-se os mais valorosos cavaleiros do reino; estão junto do senhor ao redor da famosa Távola Redonda. Nesta base simples tecem-se numerosas intrigas amorosas, aventuras incríveis que põem em cena os mais célebres cavaleiros: Gauvain, Lancelot, Perceval…nomes que ficam desde logo presos ao nosso imaginário. Enfrentam todos os perigos para salvarem o seu reino ou defenderem a sua dama, respeitando um novo ideal, mais espiritual, insuflado pelos autores do século XII. Estes, de fato enriqueceram consideravelmente a herança céltica, criando o célebre espírito cavalheiresco, ideal romanesco que se transformou na realidade em verdadeira ética que o cavaleiro deve respeitar. Para Chrétien troyes, o termo “cavalaria” é uma palavra-chave que se inscreve no centro da sua obra. Essa posição que se alcança pela investidura e que se torna uma qualidade coletiva já existia na Chanson 

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 Lancelot, Artur e Guiniévre, manuscrito séc. XII – França – British Libray.

No entanto, Chrétien de Troyes introduz uma nova noção fazendo dos seus heróis cavaleiros errantes, motivo que designa um guerreiro em perpétuo movimento, combatendo a cavalo. Estes cavaleiro são celibatários, não têm vínculos precisos e dedicam-se a viajar em busca de honra e de glória. São atraídos pelos lugares de festividade onder se organizam torneios. Nessa altura, tentam mostrar as suas proezas e aumentar a sua reputação, submetendo o maior número possível de adversários, sob o olhar admirador do elemento feminino. Estes cavaleiros viajantes muitas vezes com um senhor que dirige a tropa. Esta definição faz do cavaleiro um modelo complexo de conduta e de ação, obedecendo a um código íntimo de honra.

O cavaleiro errante encarna assim a coragem, a proeza, a lealdade de infalível, a fidelidade à palavra dada. tem que dar provas de temperança na batalha, de generosidade, tanto em relação aos amigos como aos inimigos, e de cortesia para com as mulheres. A liberalidade do cavaleiro que redistribui todos os seus bens às pessoas e aos pobres faz parte da sua fama. Os valores celebrados pela cavalaria são o fruto de uma longa educação. O bacharel, futuro cavaleiro, deve fazer a sua aprendizagem junto de um senhor de quem passas a ser o criado e depois o escudeiro. Aprende então tanto o manejo das armas como a ética de cavalaria. Uma vez investido, deverá demonstrar o seu valor atuando nos torneios ou participando das aventuras que surgem pela sua frente. Na procura de glória e reconhecimento, estes cavaleiros errantes vão realizar igualmente múltiplas buscas, das quais a mais prestigiosa é a do “GRAAL”>

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Cavaleiro Cavazzola com o seu escudero – 1518-1522.

Paulo Edmundo Vieira Marques 

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A Pintura a Óleo – Uma das Grandes Inovações do Medievo

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Altarpierce de Ghent, cidade flamenga, 1432. Óleo 350×461 cm, da Catedral de St. Bavo.

Quero chamar a atenção para os leitores do meu blog para um fato significativo da nova mentalidade de que se possuído o homem europeu no medievo. É o fato de que a primeira grande inovação da pintura pré-renascentista tenha sido de natureza técnica, paralela ao emprego da pólvora, da bússola, do papel e da invenção de Gutenberg na arte da imprensa.É o processo de pintar a óleo que a Antiguidade e que o maior período da Idade Média não conheceram, a Renascença adotará e chegará aos nossos dias. Os pintores do passado haviam usado apenas as técnicas do afresco, da têmpera e da encáustica.

A encáustica é uma técnica de pintura , na qual o artista mistura cores em uma cera aquecida e derretida. Esta cera é aplicada na superfície a ser pintada; como é de secagem rápida, usa-se também colocar uma lâmpada ou outra fonte de calor sob o suporte da pintura; o calor amacia a tinta de cera, permitindo que o pintor obtenha vários efeitos de cor e textura. A encáustica era uma técnica muito usada na Grécia desde o século V a.C. até o século IX d.C., quando caiu em desuso. A reconstituição desta técnica foi possível em 1845, quando foi descoberta uma caixa de pintura encáustica no túmulo de um pintor em uma cidade francesa. Por não se deteriorar facilmente, a pintura permanece perfeita por vários anos. São famosos os retratos de múmias com este tipo de pintura. A palavra encáustica vem do grego, egkaustiké, que significa queimado.

A pintura a óleo consiste basicamente na dissolução dos pigmentos ou pós das tintas, constituídos de óxidos minerais, no óleo de linhaça refinado, que pode ser acompanhado de essência secativa. Em relação as técnicas que existiam é verdadeiramente revolucionário pela simplicidade da preparação, facilidade na execução, variedade dos efeitos expressivos, em particular da representação das texturas das diferentes matérias e nas gradações luminosas.

Permite com maior frequência, sem alterar a consistência da pintura, tantas correções quantas necessárias, além de interrupções demoradas na execução. Por estas e outras vantagens, a nova técnica difundiu-se na Europa, tornando-se preferida nos quadros de cavalete pela maioria dos pintores, aos tradicionais e laboriosos processos da têmpera e encáustica. Os mestres do renascimento, em todos os países, desde o italiano Leonardo da Vinci ao alemão Albert Durer, foram pintores de quadros a óleo. Uma exceção deve ser feita a Miguel Ângelo que não empregou a nova técnica. Considerava-a pelas facilidades de execução, própria para preguiçosos e mulheres.

A invenção ou o aperfeiçoamento da pintura a óleo tem sido objeto de controvérsias entre historiadores de arte. Muitos autores atribuem-lhe a invenção a dois artistas de Flandres, região na época constituída da Bélgica e Holanda, aos irmãos Hubert e Jasn Van Eyck !1390-1441). Foram notáveis não só pela invenção que lhes atribuem, como pelas qualidades artísticas, minucioso e incisivo realismo, poetizado pela sensibilidade aos efeitos luminosos, a a par de primorosa execução. Outros autores, no entanto, divergem. Atribuem aos irmãos Van Eyck apenas o aperfeiçoamento da técnica da pintura a óleo. O verdadeiro inventor, segundo esses autores, teria sido um monge um tanto misterioso, chamado Teófilo ou Rogkerus. Era ourives, pintor e vitralista, homem de muitas artes e saberes. Escrevera um tratado de arte, Diversarium artium schuedule, no qual se encontram conselhos e instruções sobre desenho, composição e receitas de tintas, misturas etc.

Invenção do misterioso monge alemão ou dos dois ir mãos flamengos, o fato é que a técnica do óleo rapidamente se difundia de Flandres aos demais países europeus, tendo sido logo conhecida e recebida com especial interesse pelos italianos, dadas as relações comerciais que a Itália mantinha com as cidades flamengas. A difusão da nova técnica entre os italianos teria sido obra de um mestre flamengo Roger van Der Weyden ou Roger de La Pasture !1397-1464), discípulo dos Van Eyck, que se demorara em Florença, nos meados do século, em viagem para Roma.

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 A virgem e a Criança, Roger Van Weyden, 1454, óleo sobre tela, Wysokość: 31,9 cm

Segundo o historiador de arte italiano Giorgio Vasari (1512-1574), também arquiteto e pintor, celebrizado por seu livro, Vidas de \pintores, Escultores e Arquitetos Ilustres, no qual faz a biografia de numetrosos artistas italianos do XIII ao XIV séculos, Roger de La Pasture teria revelado o segredo da f´poumula do óleo ao florentino Domenico Veneziano (1410-1457), que o teria transmitido a Andrea del Castagno (1423-1457). Para ficar dono exclusivo da importante e prodigiosa receita, Castagno assassinara Veneziano. Durante muito tempo, acreditara-se história de Vasari, cujo livro depois se verificaria estar cheio de inexatidões, até que pesquisas nos arquivos florentinos revelaram ter a pretensa vítima falecido quatro anos depois do suposto assassino, desfazendo-se a versão do crime. Ao que tudo indica a verdadeira história, ou melhor a mais aproximada realidade, da difusão do óleo entre os italianos estaria no livro do mesmo Vasari. O divulgador da nova técnica teria sido Antonello de Messina (1430-1479). Antonello nascera na cidade siciliana de Messina, mas, estilisticamente, pertence à escola veneziana, pelas infl~encias que recebera de Giovanni Bellini (1430-1516), o fundador da escola veneziana renascentista. Estivera em Flandres de onde trouxera a fórmula do óleo, tornan do-a conhecida em veneza. Todavia, a obra flamenga a óleo que despertara maior entusiasmo e admiração dos florentinos, especialmente de Andrea Verrochio (1435-1488) e de seu discípulo Leonardo da Vinci (1452-1519), fora o tríptico A adoração dos Pastores, de Hugo van Der Goes (- 1482, pintada para o florentino Tommaso Portinari, repreasentante em Bruges do banco da família Médicis.

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Hugo van der Goes, Adoração aos Pastores Portinari Retábulo (1475-1476)

As excelências da nova técnica poder ser avaliadas tanto por sua imediata aceitação na época quanto por seu generalizado emprego ainda em nossos dias. As pinturas foram de um esplendor ímpar que nos encantam até hoje de forma cativante, misteriosa, instigante. Ahhh, esses homens artistas do medievo que até os nossos dias nos contemplam com tanta beleza, muito, muito obrigado.

Obs: Este artigo foi escrito em homenagem ao meu filho primogênito Paulo Eduardo Scalzilli Vieira Marques, apreciador da boa arte.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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A Violência, como Hoje, Recurso dos Maridos Enganados no Medievo

ck9227Marriage Feast at Cana Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam, Netherlands. Painting, Oil on panel, 93 x 72 cm Bosch – 1450-1516)

Através dos tempos é bem entendido que um certo número de casais não respeita a fidelidade conjugal. Mas enquanto o marido pode intentar uma ação no plano penal, ele pode ser perseguido apenas no plano civil. O que convenhamos acontece até os nossos dias.

No ano de 1338 uma mulher enganada é condenada a pagar uma multa por ter batido num marido infiel que nem sequer tem a desculpa de ter sido seduzido porquanto a sua parceira, criada deles, pretende ter sido violada. as cartas de remissão mencionam talvez e sobretudo os adultérios femininos na medida em que o marido mata por vezes o amante, enquanto que a mulher enganada só raramente recorre à violência.

O governador de Chauny que acaba de fazer a ronda, pois os ingleses andam perto, estamos na época da Guerra dos cem Anos, encontra a porta do quarto fechada, ao voltar para casa cerca de 4 ou 5 horas da manhã. Pede à mulher para abrir, e vê entre a cama e a parede um rapaz novo em camisa e sem ceroulas. Enfurecido, mata-o com um golpe de alfange

Jeannot Chavant d’Amberre encontrou a mulher Tomasse, por duas vezes, a cometer adultério, uma vez com o reitor, uma outra com um laico. Por duas vezes correu com ela, mas perdoou-lhe contra a promessa de nunca mais recomeçar. Ao surpreendê-la novamente em flagrante delito, dá-lhe duas facadas e pontapés no ventre.

As mulheres, àquela época, apreciavam os clérigos. Estes relativamente instruídos, dispensam sem dúvida mais atenções às suas amantes do que os boçais laicos. As funções que exercem permitem-lhes exercer pressão sobre as suas paroquianas. Finalmente, a mulher afastada do sacerdócio imagina talvez, graças a um amante clérigo, que tem relações privilegiadas com sagrado. Deduz-se, até hoje, que a mulher dá muita, mas muita importância para a sua segurança. Casamento, mas sólido e com pitada grande de carinho por parte do marido, a violência, sem dúvida, diminuiria hoje e no medievo.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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O Surgimento do Purgatório

ck9211GIRALDI, Guglielmo. Frontispiece do purgatório de Dante, 1477-1482, Biblioteca do Vaticano.

O aparecimento do imaginário do purgatório remonta no final do século XII. A ideia não nasce do nada. mas como demonstrou Jacques Le Goff, é então que aparece o conceito de um lugar específico, no qual as almas se podem purificar de certas faltas.

Sem dúvida, os pecados mortais não confessados, para os quais a penitência não foi realizada na terra, podem ser expiados no purgatório. Já é muito, e isso abre a via do paraíso a muitos indivíduos, e sobretudo a grupos sociais que a Igreja colocava até então numa posição muito delicada, como por exemplo os usurários. Nesse sentido, o purgatório é realmente uma esperança: o castigo necessário não será sempre eterno.

A partir de fins do século XIII, as imagens mostram as almas do purgatório, atormentadas pelas chamas é certo, mas também reconfortadas e em breve libertadas pelos anjos. Pouco depois, nos princípios do século XIV, Dante dá ao purgatório, na Divina Comédia, uma importância inédita, igual á do inferno e do paraíso. É um sinal entre outros do sucesso crescente da nova crença nesse terceiro lugar. Ao mesmo tempo que o purgatório se afirma, os teólogos escolásticos, sobretudo no século XIII, sintetizam os conceitos do outro mundo, a geografia do além modifica-se.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Os Pontiagudos Alongados – Sapatos Medievais

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Os sapatos com os dedos longos e extremamente torneados começaram a ser usados no início do século XII na Europa Ocidental. As origens desses sapatos foram, por fatos não muito comprovados e mais por tradição, colocado nos pés do conde d’Anjou, que tinha a necessidade de cobrir os dito cujos em virtude de deformidades enormes. Acredita-se que seriam enormes joanetes ou dedos disformes e grandes, tanto que o chamavam de o nobre pato. Outra tradição coloca a origem de tal sapato vinda dos árabes, Oriente Próximo, e que a mesma teria existido desde os sumérios, mas também sem possibilidades de comprovação histórica. Há certos manuscritos, século XIII, que relatam cruzados citarem tais calçados como sendo cômodos e que levariam tal comodidade aos seus reinos e feudos. Esta última análise nos parece mais convincente, pois há relatos de 12 cruzados transcritos em pergaminhos, encontrados em uma embarcação náufraga, que foi encontrada muito bem conservada, no mar Mediterrâneo, que nos diz que os mesmos, os cavaleiros, levariam vários pares para as suas esposas e filhos.

Uma série de obras sobre a história do figurino medieval refere este tipo de calçado de “pigases”, que parecem encontrar suas origens na menção de pigaciæ e pigatiæ em Ordericus Vitalis, ou “pigache” em francês. Estes referidos sapatos com pontas longas começaram a aparecer no início do século XII. No entanto no decorrer dos anos suas pontas foram crescendo exageradamente, crendo que mais longos os sapatos mais elegantes e sofisticados eram eles. Algumas pontas atingiam mais da metade do calçado, às vezes, atingindo mais de 20 cm. Os sapatos mais longos eram “recheados” com acreditem, musgo, cabelo, lã e até farinha de trigo.

As variações dos calçados em suas extremidades tinham como adornos: rabo de peixe, serpente, escorpião e outras. Mas a maioria usava os

calçados sem maiores extravagâncias. Acho que os exageros ocorriam em festas, grifo meu. Esse estilo, das pontas longas, permaneceu popular ainda no século XIII e XIV, mas nunca desapareceu completamente ainda no século XV, mantendo um padrão mais sóbrio e com tecidos de pelúcia, veludo entre outros. Os sapatos com estilos pontiagudos foram em sua maioria usados pela aristocracia, sendo que as pessoas comuns usavam sapatos com pontas arredondadas, mas há certas controvérsias entre os historiadores. As pesquisas continuam e certamente aparecerão novos fatos e fontes comprovando outra tese, esse é o trabalho do historiador.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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A Morte Negra – O Triste Cotidiano Medieval

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A fome, as pragas e os desastres causados pelos humanos criaram então problemas sérios, mesmo antes de 1348. A “peste negra” de 1348-1349 foi, claramente, uma grande catástrofe, mas a população tinha atingido o seu auge medieval alguns anos antes de ela surgir, em 1250, em zonas da bacia do Mediterrâneo, e entre 1275 e 1310, na maior parte do norte. A famosa peste “bubônica” foi apenas uma das três epidemias que surgiram em 1348. Começo na China, tendo trazido de lá para Gênova através das pulgas que vinham nos navios e que se alojavam no pelo de ratos castanhos. Por volta do verão de 1348, já se tinha espalhado pela França central e, no final de 1349, pelo resto da Inglaterra e dos Países Baixos. Alastrou-se depois para o nordeste, para a Escandinávia e a Europa eslava. Apareciam pústulas nas virilhas ou nos sovacos. Se rebentassem, a morte era inevitável; se não a recuperação era possível. Uma epidemia pneumônica, espalhada pelo contato humano através dos pulmões, e uma epidemia septicêmica, eram invariável e rapidamente fatais.

Durante todo este ano (1348) e o seguinte, a mortalidade de homens e mulheres, dos novos mais ainda do que os velhos, em Paris e no reino de França, e também, diz-se em outras partes do mundo foi tão grande que era quase impossível enterrar os mortos. As pessoas ficavam doentes apenas dois ou três dias e depois morriam subitamente, como se estivessem de perfeita saúde. Aquele que estava bem num dia morria no seguinte e era levado para a sua sepultura. […]Esta praga e doença veio da ymaginatione ou associação e contágio, pois se um homem são visitava um doente apenas raramente evitava o risco da morte. Em muitas cidades, os padres temerosos retiravam-se, deixando o exercício das suas funções para religiosos mais corajosos. Em muitos locais nem dois de entre vinte conseguiam sobreviver. A mortalidade era tão elevada no Hôtel-Dieu em Paris que, durante muito tempo, se levavam diariamente mais de 500 mortos, devotamente colocados em carros, vagões, para serem enterrados no cemitério dos Santos Inocentes. […] Muitas aldeias do campo e muitas casas em boas cidades ficaram vazias e desertas. Muitas casas, incluindo mesmo algumas magníficas habitações, depressa caíram em ruínas.

Chronicle Jean de Venette, fatos ocorridos entre 1340 e 1368. França.

Em termos humanos, a peste foi um desastre. Poucas regiões foram poupadas, e a maioria delas perdeu entre um quatro a um terço da população. A mortalidade era mais alta nas cidades, muitas das quais perderam praticamente, metade de seus habitantes. Muitas aldeias inteiras deixaram, eventualmente, de existir, e muitas delas nõ 1348-1349, mas durante as várias pragas que se seguiram.

Isto porque a catástrofe não terminou em 1349. Houve pragas em 1358, 1361, outra em 1368-1369, que poderá ter sido mais grave nos Paíse Baixos do que a de 1348-1349, e uma outra, em 1374-1375, que foi particularmente grave na Inglaterra. Daí em diante, as pragas abrandaram um pouco, surgindo apenas uma outra em 1400, que afetou toda a Europa. Uma geração separou esta última de uma peste em 1438, mas entre essa e as de 1480 ocorreram epidemias frequentes. A Inglaterra sofreu, pelo menos, sete epidemias entre 1430 e 1480, a maioria das quais nos anos de 1430 e 1470, e apenas duas delas foram de outras pestes que não a bubônica. Lamentável cotidiano medieval.

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Máscara medieval contra contaminação das pestes e epidemias. Usadas frequentemente pelos médicos, padres e voluntários.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Iluminuras Eróticas

Na Idade Média, apesar das restrições da Igreja, o cotidiano conjugal, o erotismo, obviamente de forma moderada era retratado nas belas, lindas iluminuras, principalmente nos séculos XIV e XV. Na maioria das vezes mostrando a alegria do casal no seu convívio diário, mas a partir do século XV, as ilustrações também tomam um rumo irônico e crítico. O sexo, e as suas circunstâncias são expostas mais vezes para o público em geral. 

Certas barreiras são ultrapassadas perante a Igreja, identificando os artistas como protagonistas das artes das iluminuras, e com certa liberdade de expressão mais flexível, desde que não seja apelativa e passível de investigações da inquisição. E as novelas Decameron de Giovani Boccaccio muito contribuiu para essa flexibilização.

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 Roman de la rose, 1352

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Boccaccio, Decameron, século XV

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Boccaccio, Decameron, século XV

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Boccaccio, Decameron, século XV

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Roman Arthurien, século XIII

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O Instigante Frederico I Barba Roxa – Uma Biografia e Imagens.

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 Frederico Barba Roxa, manuscrito século XII, autor desconhecido

Escrevo essa pequena biografia para registrar um dos maiores cavaleiros medievais. Pouco estudado mas uma vida cheia de indagações que nos levam a pesquisas e perspectivas futuras a respeito do imperador Frederico.

Frederico I da Germânia nascido em Waiblingen ou Ravensburg, 1122 e morto em Cilícia, 10 de junho de 1190), também conhecido por Frederico Barbaroxa, Frederico Barbarossa (ou simplesmente o Barbarossa) e sob a forma aportuguesada de Frederico Barba-Ruiva. Foi imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1152-1190), rei da Itália (1155-1190). O nome “Barbaroxa”, forma aportuguesada do italiano “barbarossa” (isto é, barba ruiva) popularizou-se apesar de seu evidente despropósito, pois o significado original é “barba vermelha”, devido à longa barba ruiva que ele usava.

Grande cavaleiro, ganhador de vários torneios medievais. Em razão destas vitórias, manteve sequestrado vários oponentes e ganhou destes dezenas de cavalos e armaduras. Um dos melhores lanceiros descritos em manuscritos nas justas, luta somente com um oponente, pois possuía uma técnica singular de levantar e direcionar o bastão-lança contra o adversário somente quando estava a poucos metros do mesmo. Aspecto inigualável durante a Idade Média em torneios. Usava, sempre, simultaneamente três espadas e três adagas que se entrelaçava junto a sua cintura. Armas brancas pesadíssimas, mas que segundo alguns não perturbava o imperador em momento nenhum.

Pertencente a casa dos Hohenstaufen, filho de Felipe, O Zarolho, com a morte de seu pai, herdou o ducado da Suábia, e foi eleito imperador pela Dieta de Franco-Forte com a morte de seu tio, Conrado III em 1152. Coroado em Roma em 1155 pelo Papa Adriano IV. Todo o seu reinado seria preenchido por uma série de batalhas para lá dos Alpes, onde chocou-se com a feroz resistência das cidades lombardas, principalmente Milão, apoiadas pelo papado. O imperador entrou rapidamente em conflito com a Santa Sé em 1159, contra o Papa Alexandre III, eleito pelos cardeais e reconhecido na Itália, França e Inglaterra, suscitou o antipapa Vitor IV, que fez reconhecer no sínodo de Pávia, os conflitos foram enormes e sangrentos em virtude da atitude anti Roma adotada pelo imperador Barba Roxa. Frederico foi finalmente vencido em Legnano, em 1176, pelas tropas da Liga Lombarda e teve de assinas a Paz DE Veneza, em 1177, humilhando-se prosternou-se aos pés do Papa, que apenas por este preço lhe concedeu o beijo da paz. As pessoas que conheciam Barba Roxa, jurariam que ele nunca faria isto. A rudeza do imperador e o seu orgulho curvaram-se diante do pontífice. Depois pela Paz de Constança, 1183, reconheceu a independência, de fato, das cidades lombardas.

Chefiou a III Cruzada com Filipe Augusto e Ricardo Coração de Leão, em 1189, realmente um trio de ferro, grandes cavaleiros e grande carisma junto as suas tropas. Obteve alguns êxitos sobre os turcos na Ásia Menor, mas o seu exército foi dizimado pelas doenças e esse grande cavaleiro, depois de enfrentar as mais terríveis e sangrentas batalhas, teve o infortúnio de morrer afogado nas águas do rio que hoje se chama Tarsus Xayi.

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 Frederico I Barba Roxa e o seu filho numa miniatura da Crónica dos Guelfos (século XIII).

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A Cota de Malha Medieval – Incômoda mas Eficaz

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A cota de malha medieval se chamava originalmente mail(malha) ou chain (cota) na Inglaterra e maille na França maillé significa “trançado”. Somente no século XVIII o termo “cota de malha” se tornou comum. Também conhecido na Europa como Hauberk, palavra dos francos, que significava “proteção do coração e pescoço”

A malha é construída a partir de elos de arame circulares, feitos em torno de um cilindro. Quando prontos, os elos são soldados ou fixos com rebites, formando uma túnica. O resultado é uma armadura flexível, mas incômoda e pesada. Chega a pesar entre 14 e 20 Kg. Eficaz contra a maioria das armas de corte, vulneráveis a bestas e armas pesadas como lanças e massas e martelos maiores. Em virtude disso, os guerreiros, contra golpes mais intensos, a usavam sobre uma armadura acolchoada, feita de lã e outros materiais que ofereciam mais resistência contra impactos.

Os fabricantes de cota de malha enlouqueciam lentamente, unindo os elos para formar a malha, contam os manuscritos nos relatos dos ferreiros das cortes medievais.

O autor romano Varro atribui a invenção da cota aos celtas. O exemplar mais antigo existente foi encontrado em Ciumeşti na Romênia moderna e é datado do século V a.C, entre 400 e 450. Exércitos romanos adotaram tecnologia semelhante de pois de encontrá-lo. A cota de malha foi amplamente usada durante a primeira metade do último milênio, estando presente em toda a Europa e Ásia, mas foi no século XII d.C. que atingiu o ápice. Cobrindo todo o corpo do cavaleiro, do guerreiro, a túnica básica de malha era associada a peças individuais para os braços, as pernas e a cabeça, de modo a oferecer uma proteção mais completa.

A cota de malha encontrada nos labirintos da Catedral de Praga, que data do século XII, é um dos primeiros exemplares encontrados intactos na Europa Central e que alguns historiadores alegam ter pertencido a São Venceslau, mas sem maiores análises para comprovação.

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Estátua em homenagem a São Venceslau, Catedral St. Vitu’s, de 1373, Praga, República Tcheca.

Os cavaleiros não usaram essa armadura, cota de malha, por muito tempo. Placas de metal forma sendo aplicadas e adicionadas à malha e as armaduras se tornarem cada vez mais sofisticadas, a partir do final do século XIV. Já os soldados de infantaria vestiram cota de malha até o fim da Idade Média. No Japão , uma forma de cota de malha chamada kusari Katabira (jaqueta cadeia) era comumente usado pelos samurais. Acota de malha foi uma peça de defesa e ainda hoje continua a atrair a atenção de todos. Sua eficácia foi notável, mas usá-la requeria uma certa paciência e habilidade de manuseio. Salvou inúmeras vidas na Idade Média e foi, sem dúvida, segundo dito popular, a segunda pele dos anjos que forneciam aos cavaleiros.

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Os anéis de uma cota de malha medieval.

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