O Armamento do Cavaleiro – Séculos XIV e XV – Tecnologia do Aço no Crepúsculo da Cavalaria

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O declínio do espírito cavaleiresco e a aparição das primeiras armas de fogo, a partir de 1314, arrastam uma reação geral tendente à proteção total do Cavaleiro. No fim do século XIV adotaram-se as primeiras placas de aço: ombreiras, joelheiras, cotoveleiras, grevas, braçais, guantes, coxais. O elmo dá lugar ao bacinete com viseira (1300), ao bacinete com malha de ferro, ao bacinete com viseira móvel. Outros capacetes aparecem: chapéu de ferro, salada barbita, elmeto, etc. Este reforço constante pelo acrescentar de peças rígidas articuladas, que destrona a cota de malha, tem o seu termo arnês pleno, ou arnês branco, a armadura integralmente metálica(século XV). Esta evolução traduz a perda do espírito cavaleiresco e do sentido da honra, agravando-se a decadência da Cavalaria a par dos aperfeiçoamentos da armadura. Assim o historiador P. Lacombe nota

“È singular que este progresso, estes cuidados complicados para defender a epiderme sejam associados aos tempos ditos da Cavalaria …Para mim, o pequeno soldado de infantaria dos nossos dias parece mais próximo do ideal militar…do que o enorme barão ferrado e couraçado”

Mas este couraçamento excessivo revela também as fraquezas da Cavalaria, sobretudo a francesa, no plano tático, cuja base eram as cargas em massa. Desprezando a infantaria e os arqueiros, seguros da invulnerabilidade proporcionada pelas suas carapaças de aço, os Cavaleiros, os “homens de ferro”, não cessam de se lançar nessas cargas impetuosas. A Cavalaria francesa não soube adaptar-se às novas condições do combate, continuando a aplicar as dos séculos XI e XII. Os resultados foram as derrotas de Crécy (1345), Poitiers (1354), Azincourt (1415), etc. A eficácia de outrora, que andava a par dos princípios cavaleirescos deu então lugar à proeza individual, ao desafio pelo desafio, sobretudo à ideia do “saber morrer” com brio, morrer belamente, segundo uma expressão do tempo, por fidelidade à ideia que se tem de si próprio e aos princípios próprios do seu estado.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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