Arquivo mensais:novembro 2013

As Origens da Cavalaria – A Teoria Germânica

cx301,5Diagrama das sete pombas que representam os sete dons do Espírito Santo, um cavaleiro a cavalo, o homem justo, com o escudo da fé e armado com as virtudes, e um anjo. A armadura do cavaleiro e os acessórios ornamentais, trappings, do cavalo, são rotulados com os nomes das virtudes. Acima do texto é de 7:1 Trabalho: militia est vita hominis super terram (a vida do homem na terra é uma guerra). Biblioteca Britânica. British Library.

A teoria mais aceita entre os historiadores a respeito da origem da Cavalaria, a mais aceita é a germânica. É proveniente de Tácito que, no seu livro Germania (cap.VIII), relata uma cerimônia durante a qual um adolescente, nascido livre, recebe a lança e o escudo, deixando a infância para se tornar um adulto, portanto um guerreiro. E Tácito conclui; tal é o hábito viril destes povos: tal é a primeira honra da sua juventude. A comparação deste rito de passagem com as mais antigas investiduras conhecidas (séc. XII) é impressionante: matriz simbólica comum, mesma concisão de estilo viril e mesma natureza profana do rito. A forma religiosa é ainda diminuta, pequena, a impregnação espiritual realiza-se no foro íntimo do guerreiro. Todavia, a recuperação deste rito germânico pela Igreja, que lhe  um corpo simbólico-metafísico de uma outra natureza, não teria sido suficiente para criar a Cavalaria cristã, se fatores sócio-políticos precisos não tivessem contribuído para lhe dar uma “alma” e as normas específicas para daí nascer uma casta, composta de homens estranhos uns aos outros, mas unidos, para além do tempo e do espaço, por um estado de espírito, uma visão do mundo e um modo de vida idênticos.

Nascida nos séculos XI e XII, a Cavalaria resultou da fusão de dois grupos dominantes da sociedade carolíngia: o grupo da nobreza proprietária, onde a fortuna e os privilégios se transmitem hereditariamente, mas sem vocação militar, e o grupo dos guerreiros profissionais livres “homens novos” sustentados na casa de um senhor. A origem desta mutação é devida ao aumento do prestígio das armas, reforçado pelo da investidura valorizada pela igreja. Desde logo, a Cavalaria é englobada na vassalagem e generaliza-se o uso de que, para ser vassalo, é necessário ser armado Cavaleiro.

A palavra MILES designa simultaneamente o cavaleiro, o combatente a cavalo, o nobre e o vassalo, sendo este nomeado miles noster pelo suserano. os privilégios da nobreza tornam-se os da Cavalaria e vice-versa: privilégios militares (uso de espada, etc.), fiscais (isenção de impostos públicos, os consuetudines, etc.), jurídicos (direitos de justiça, julgamento pelos seus pares, etc.) de direito privado (direito de feudo, uso de armas plenas, etc.) transmitem-se aos filhos do Cavaleiro. Ao londo dos séculos XII e XIII, a Cavalaria reforça a sua coesão, afirmando cada vez mais a originalidade dos seus valores e do seu estilo de vida. Este reforço é devido à emergência de novas forças sociais, como a rica burguesia rural, da qual dependerão financeiramente cada vez mais os Cavaleiros arruinados pelas guerras e pela vida cortesã. O Cavaleiro tem tendência a fechar-se sobre a sua linhagem, única capaz de lhe fornecer ajuda e solidariedade. Daí a existência de uma política familiar cavaleiresca: não divisão da terra e dos bens, casamentos vantajosos e não desiguais das filhas, filhos mais novos votados ao clericato; enquanto que o filho mais velho assume a direção da linhagem vivendo em indivisão ou morgadio. Das obrigações militares da nobreza decorre a maior parte dos seus hábitos. O direito de morgadio vem em parte da necessidade de confiar ao mais forte a herança que ele deve garantir, muitas vezes pela espada. A lei de herança por masculinidade explica-se também dessa forma, pois só o homem pode assegurar a defesa de um feudo.

Royal 16 G.VI, f.133vDetalhe de uma miniatura de Charlemagne em batalha com a sua Cavalaria contra os Saxões, France – Paris British Library

Paulo Edmundo Vieira Marques

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São Jorge – O Santo Patrono dos Cavaleiros

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 São Jorge e o Dragão. Saint George and the Dragon. Autor desconhecido. 1480-90. Óleo em painel. Toledo Museum Art.

São Jorge teria nascido e sofrido o martírio em Diospolis (Luydda), na Palestina, no reinado de Diocleciano. O seu culto é antigo e de muita intensidade, desde os séculos IV e V que lhe são consagradas igrejas e monumentos (Constantinopla, Roma, Palermo, Nápoles, Etc). Este culto foi trazido para Europa pelos Cruzados, onde se lhe juntou a luta com o dragão, adição que segundo alguns historiadores especializados, parece ter ocorrido na Itália. O mito, narrado na Lenda Doirada, parece uma versão cristianizada do caçador Orion, ou de Pégaso/Belerofonte, o matador de Quimera: Jorge, passando pela cidade líbia de Silene, lutou e livrou-se de um dragão que devorava o gado e os habitantes da cidade do norte da África. A bravura, a proeza do grande guerreiro, levou a população a converter-se. Patrono dos guerreiros no Oriente desde o século VIII, foi no século XI que se tornou, na Europa, o dos equitadores e dos Cavaleiros, modelo do Cavaleiro sublimado cuja gesta foi dada como exemplo à cavalaria a partir do século XII e dotada de armas imaginárias, um escudo de prata com uma cruz de goles, armas também atribuídas a Galahad:

 (também conhecido por Galaaz ou Gwalchavad) é um personagem lendário das histórias do Ciclo Arturiano. Galahad era um dos Cavaleiros da Távola do Rei Arthur e um dos três que conseguiu alcançar o Santo Graal. Era o filho de Ban de Benoic e de Helena de Carbonek. Galahad era considerado o cavaleiro mais puro e, consequentemente, o único a poder sentar-se na Cadeira Perigosa da Távola redonda, um assento que ficava sempre vazio, já que só o escolhido poderia se sentar. Pela sua pureza, Galaaz é considerado uma encarnação de Jesus na forma de cavaleiro. Galahad é associada ao escudo branco com uma cruz vermelho, o mesmo emblema dado aos templários pelo Papa Eugênio III. 

Galahad, era considerado e feito o Cavaleiro celestial, o “Desejado”, imagem do Messias e da Graça (Sephira chesed), detentor do mandato celeste e o único que completou a demanda do Graal, simbolizando a perfeição da via cavaleiresca.

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Zanino di Pietro – Saint George Killing the Dragon. Metade do século XV, provavelmente trabalho feito, conforme datações atuais no ano de  1463.

As razões que fizeram do santo o patrono dos cavaleiros ligam-se a dois níveis simbólicos. O nível exotérico, ligado ao fato de Jorge ser sempre representado a cavalo, ao contrário de São Miguel, e o Cavaleiro é um homem a cavalo por excelência, fazendo desta especificidade o próprio sinal do seu estado. O nível esotérico, que se manifesta em dois planos. Um plano religioso, em que o santo é a encarnação da luta do Bem contra o Mal (o dragão), obrigação de todo o “Cavaleiro que tem por dever combater o Mal, a injustiça, a malícia neste mundo para que triunfe o Bem do Senhor Deus” como prescreve uma Pontifical do século XIII, e um plano metafísico ligado à vocação interior do cavaleiro, que é a de dominar, canalizar e insuflar o Espírito Divino na matéria bruta, a matéria prima. A analogia do equitador Jorge e do cavaleiro é total: dominando os quatro elementos pelo montar do cavalo, o santo aperfeiçoa a Criação, o que lhe permite existir em permanência pelo controle que exerce sobre o dragão, símbolo da matéria caótica original, hostil ao divino. Há uma tradição e contos em diversas partes do mundo que aponta o ano 303 como ano da sua morte. Apesar de sua história se basear em documentos lendários e apócrifos (decreto gelasiano do século VI), a devoção a São Jorge se espalhou por todo o mundo.

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Saint George and the Dragon. Rogier van der Weyden. 1432-35. National Gallery of Art

As constatações feitas neste artigo mais se sustentam nas imagens, meu principal objetivo. O meu maior intuito é mostrar-lhes as pinturas e que tirem as suas conclusões. E que sempre quando se refere a São Jorge suscita várias e interessantes interpretações. Um abraço para todos.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Manuscritos Medievais

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 Esta é uma edição fac-símile estritamente limitada a 550 cópias numeradas do Hagadá Rothschild, parte de uma coleção medieval maior conhecida como o Miscellany Rothschild. O belíssimo e amplamente decorado Rothschild Hagadá , escrito em 1479, no norte da Itália, é parte maior de um manuscrito medieval iluminado conhecido como Miscellany Rothschild que se encontra na coleção do Museu de Israel.

A maioria dos livros medievais são preservados em bibliotecas de pesquisa, em virtude de sua importância histórica e seu manuseio requerer o auxílio de um profissional ou especialista no assunto, geralmente historiadores. Mas esses, livros, manuscritos, estão tornando-se mais acessíveis a cada dia por recursos on line, internet. Entretanto, também requer o auxílio de um conhecedor capacitado para que o objeto pesquisado realmente seja o documento histórico a que procuramos; um manuscrito medieval.

A rigor, qualquer documento escrito à mão é um manuscrito, do latim manuscriptus significa literalmente “escrito” (scriptus) “à mão” (manu). Assim cartas, pergaminhos, fragmentos e livros são considerados manuscritos. Mas são os livros que comumente são referidos como manuscritos. Um livro medieval ou códice, a palavra latina para ”tronco de árvore”, usado porque os primeiros livros eram feitos de tábuas de madeira revestidas com cera, similar ao método de hoje em dia, o livro moderno, mas em vez de produzir várias cópias, os escribas medievais não tinham os recursos para “editá-los”, em várias cópias, infelizmente. Os textos, as iluminuras, eram feitos a mão, minuciosamente elaborados e requintados de acordo com a vontade do patrão, patronos. E eram os patronos que determinavam o número de cópias que deveriam ser feitas, geralmente para presentear e se vangloriar do patrocínio. Era documentos belíssimos, incrivelmente decorados, uma luz aos olhos pela delicadeza e dedicação do escriba e iluminador.

Ele ou ela (havia escribas mulheres na Idade Média) podiam reunir uma série de textos que não são encontrados juntos em nenhum lugar, pois a sua originalidade era única. As cópias nunca continham os mesmos itens do original, mas seguidamente eram corrigidos para que nenhum detalhe passasse errôneo ao manuscrito original e que fossem percebidos àqueles que o adquirissem. Mas todo e qualquer manuscrito contém surpresas e desafios e que vale um olhar cuidadoso.

cv50Black Book of Hours 15th Century – Pierpont Morgan Library, New York, M. 493.

Manuscritos medievais são geralmente expostos em grandes bibliotecas de pesquisa, apesar de serem encontrados em coleções particulares, catedrais, faculdades e em residências privadas. Há grandes coleções, na Europa estão as principais. Destaca-se a da Biblioteca Britânica, em Londres, as várias bibliotecas de Oxford e da Bibliothèque Nationale da França. Algumas bibliotecas norte-americanas também possuem coleções significativas como: E. Henry Huntington Library, na Califórnia e da Biblioteca Newberry, em Illinois. Nunca tive em minhas mãos a oportunidade de pegar uma raridade tão linda destas, mas quem sabe um dia eu não tenha essa oportunidade de manusear essa maravilha do mundo medieval. Delicio-me navegando pelas bibliotecas do mundo, pesquisando esses preciosos documentos e tentando repassar àqueles que o desconhecem. Como se fossem tesouros, essas raridades maravilhosas, estão lá enterradas na internet, e eu as garimpo com dedicação e com a maior dedicação, pois as amo. Espero encontrá-las no maior número possível e colocar em meu site e blog para que vocês apreciem, tenho certeza que vão gostar.

cv83O Lutrell Psalter escrito e iluminado no segundo quarto do século XIV: contém os salmos, e cantigas, calendários e as festas das igrejas e seus festivais e dias dos santos para as respectivas rezas e outras liturgias.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Feira do Livro de Porto Alegre – 59ª Edição

A EDITORA PRADENSE venderá meu livro Torneios Medievais Espetáculos e Desafios na Corte de René I,  na sua banca na Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorre de 1º a 17 de novembro, Qualquer coisa falar com o Ricardo, gente boa, que lhe atenderá com a maior atenção e terá o maior prazer em apresentar meu trabalho. Aguardo a visita de todos os meus amigos, aficionados pelo medievo  e leitores em geral para prestigiar o meu livro. Se necessitarem de encomendas, por favor entrar em contato comigo pelo email pauloedmarques@gmail.com. Nos encontramos na praça. Um abraço para todos.

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Livros 3 (1)

Paulo Edmundo Vieira Marques

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