Os Amores Trágicos Medievais – Abelardo Uma Figura Central das “Escolas”

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Começo a escrever um artigo a respeito do amor trágico de Abelardo e Heloísa. Esse artigo será dividido em três partes para melhor compreensão ao leitor. Escrevo suas biografias entrelaçadas com aspectos históricos e a minha procura por fontes a respeito de tal contexto medieval.

Figuras emblemáticas, cativantes, que nos prende de sobremaneira, viveram o amor-paixão esmagado por um destino contrário mas, de certo modo, mais forte do que a infelicidade, do que a separação e da própria morte. Doce e arrebatador amor.

Analisando, como historiador, a história apaixonante e infeliz de Heloísa e Abelardo ilustra bem as contradições, da sociedade nos princípios do século XII. Em luta com a coação que lhes é imposta pela família, ou o casamento ou a Igreja, estas duas personagens instigantes, míticas, cuja realidade já não é posta em dúvida, não terão outra escolha senão a entrada no convento

Primeira Parte

ABELARDO UMA FIGURA CENTRAL DAS “ESCOLAS”

Pedro Abelardo, nasceu em 1079 em Pallet, perto de Nantes, na Bretanha de língua francesa. Da pequena nobreza., filho mais velho de um cavaleiro, teria podido seguir a carreira do pai. Possuía os tons de um ótimo escudeiro e absorvia os ensinamentos com facilidade. Excelente no manuseio com a espada, certamente seria frequentador assíduo dos torneios que àquela época iniciavam-se e com frequência para treinamento dos cavaleiros para as cruzadas. Preferiu entregar-se aos estudos. A família não se opôs. O pai era um cavaleiro destemido, piedoso que, embora laico, recebera um mínimo de educação. Homem rude mas justo. Já nessa época os estudos podiam ser a via de acesso a uma bela carreira eclesiástica. O pai desejava que o filho fosse um homem digno, não importava a profissão.

O fim do século XII, segundo Le Goff, foi com efeito um tempo de reforma na Igreja. Os bispos, desejosos de dispor de um clero mais digno, esforçaram-se por desenvolver as escolas ligadas às suas catedrais. Essas escolas propunham-se, antes de mais nada, formar jovens clérigos no estudo da Bíblia mas, segundo uma tradição que remontava a Santo Agostinho, considerava-se que o estudo das Escrituras devia ser precedido pelo das disciplinas da Antiguidade greco-latina, tais como a gramática, a retórica e a lógica, indispensáveis a uma boa compreensão do texto sagrado. Abelardo lançou-se pois no estudo dessas disciplinas profanas, sem dúvida pouco antes de 1100, e foi tal o seu interesse que atrasou por muito tempo o momento de passar à fase terminal do curso, quer dizer, dos estudos bíblicos.

Frequentou diversas escolas na região do Loire, depois chega a Paris, onde a escola da catedral de Notre-Dame já gozava de renome excepcional. Durante, aproximadamente, quinze anos Abelardo vai dedicar-se inteiramente ao estudo. Estudante, particularmente dotado, rapidamente abre a sua própria escola e atrai numerosos seguidores e ouvintes. Os seus antigos mestres e os antigos colegas invejam-no mas ele não teme o confronto. Virtuoso da dialética, triunfa em todas as disputas, o seu verbo brilhante seduz todos os que o escutam.

Por volta de 1112, decide-se passar aos estudos de teologia e vai para Laon, que era então o alto lugar desse ensinamento. Volta depois a Paris e inaugura, além das suas lições de gramática e dialética, um curso complementar das Escrituras. É admitido então como professor titular na escola de Notre-Dame (apesar de ter apenas ordens menores e não ser cônego da catedral), tem amigos na corte entre os grandes senhores, especialmente os Garland, favoritos do rei Luis VI. Vem-se de longe e paga-se caro para o escutar. Aos 35 anos de idade, é um homem em plena maturidade e com a vida totalmente estabilizada e conceituada. É então que conhece Heloísa e um amor trágico se anuncia.

AGUARDEM O ARTIGO, SEGUNDA PARTE, A SEGUIR QUE SE INTITULA: A PAIXÃO, E MUTILAÇÃO.

Uma análise que se impõe para o historiador, para mim pelo menos, segue o texto abaixo;

Heloísa e Abelardo realmente existiram

Até hoje encontro colegas historiadores, alunos e pessoas em geral, que acreditam piamente que Abelardo e Heloísa foi uma lenda assim como: Os Cavaleiros da Távola redonda, Canção de Rolando etc. Mas documentos tais como a Histoire de mes malheurs e as cartas que se lhe seguem, comprovam que Abelardo e Heloísa existiram realmente.

Esses documentos são tão extraordinários que por várias vezes os historiadores exprimiram dúvidas quanto a sua autenticidade e sugeriram que talvez se tratasse apenas de exercícios tardios de retórica escolar, datáveis do final do século XIII. No entanto, tais dúvidas, compreensíveis, não levaram a melhor: a convicção e a opinião largamente majoritárias consideram que os textos atribuídos a Heloísa e Abelardo são realmente deles e que a história que narram é uma história verídica, aventura pouco banal de dois seres fora do comum. Dão também um testemunho precioso dos conceitos do amor e de casal que vingavam, pelo menos em certos meios do Norte da França, na primeira metade do século XII. Atualmente, entre os historiadores, chegou-se a um acordo em considerar essa época por um lado como uma era de renascimento cultural e religioso, por outro como uma fase de grande dinamismo demográfico, econômico e social, que marca verdadeiramente o arranque do Ocidente medieval após longos séculos de uma quase imobilidade na Alta Idade Média.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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