Arquivo mensais:agosto 2013

Os Pontiagudos Alongados – Sapatos Medievais

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Os sapatos com os dedos longos e extremamente torneados começaram a ser usados no início do século XII na Europa Ocidental. As origens desses sapatos foram, por fatos não muito comprovados e mais por tradição, colocado nos pés do conde d’Anjou, que tinha a necessidade de cobrir os dito cujos em virtude de deformidades enormes. Acredita-se que seriam enormes joanetes ou dedos disformes e grandes, tanto que o chamavam de o nobre pato. Outra tradição coloca a origem de tal sapato vinda dos árabes, Oriente Próximo, e que a mesma teria existido desde os sumérios, mas também sem possibilidades de comprovação histórica. Há certos manuscritos, século XIII, que relatam cruzados citarem tais calçados como sendo cômodos e que levariam tal comodidade aos seus reinos e feudos. Esta última análise nos parece mais convincente, pois há relatos de 12 cruzados transcritos em pergaminhos, encontrados em uma embarcação náufraga, que foi encontrada muito bem conservada, no mar Mediterrâneo, que nos diz que os mesmos, os cavaleiros, levariam vários pares para as suas esposas e filhos.

Uma série de obras sobre a história do figurino medieval refere este tipo de calçado de “pigases”, que parecem encontrar suas origens na menção de pigaciæ e pigatiæ em Ordericus Vitalis, ou “pigache” em francês. Estes referidos sapatos com pontas longas começaram a aparecer no início do século XII. No entanto no decorrer dos anos suas pontas foram crescendo exageradamente, crendo que mais longos os sapatos mais elegantes e sofisticados eram eles. Algumas pontas atingiam mais da metade do calçado, às vezes, atingindo mais de 20 cm. Os sapatos mais longos eram “recheados” com acreditem, musgo, cabelo, lã e até farinha de trigo.

As variações dos calçados em suas extremidades tinham como adornos: rabo de peixe, serpente, escorpião e outras. Mas a maioria usava os

calçados sem maiores extravagâncias. Acho que os exageros ocorriam em festas, grifo meu. Esse estilo, das pontas longas, permaneceu popular ainda no século XIII e XIV, mas nunca desapareceu completamente ainda no século XV, mantendo um padrão mais sóbrio e com tecidos de pelúcia, veludo entre outros. Os sapatos com estilos pontiagudos foram em sua maioria usados pela aristocracia, sendo que as pessoas comuns usavam sapatos com pontas arredondadas, mas há certas controvérsias entre os historiadores. As pesquisas continuam e certamente aparecerão novos fatos e fontes comprovando outra tese, esse é o trabalho do historiador.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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A Morte Negra – O Triste Cotidiano Medieval

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A fome, as pragas e os desastres causados pelos humanos criaram então problemas sérios, mesmo antes de 1348. A “peste negra” de 1348-1349 foi, claramente, uma grande catástrofe, mas a população tinha atingido o seu auge medieval alguns anos antes de ela surgir, em 1250, em zonas da bacia do Mediterrâneo, e entre 1275 e 1310, na maior parte do norte. A famosa peste “bubônica” foi apenas uma das três epidemias que surgiram em 1348. Começo na China, tendo trazido de lá para Gênova através das pulgas que vinham nos navios e que se alojavam no pelo de ratos castanhos. Por volta do verão de 1348, já se tinha espalhado pela França central e, no final de 1349, pelo resto da Inglaterra e dos Países Baixos. Alastrou-se depois para o nordeste, para a Escandinávia e a Europa eslava. Apareciam pústulas nas virilhas ou nos sovacos. Se rebentassem, a morte era inevitável; se não a recuperação era possível. Uma epidemia pneumônica, espalhada pelo contato humano através dos pulmões, e uma epidemia septicêmica, eram invariável e rapidamente fatais.

Durante todo este ano (1348) e o seguinte, a mortalidade de homens e mulheres, dos novos mais ainda do que os velhos, em Paris e no reino de França, e também, diz-se em outras partes do mundo foi tão grande que era quase impossível enterrar os mortos. As pessoas ficavam doentes apenas dois ou três dias e depois morriam subitamente, como se estivessem de perfeita saúde. Aquele que estava bem num dia morria no seguinte e era levado para a sua sepultura. […]Esta praga e doença veio da ymaginatione ou associação e contágio, pois se um homem são visitava um doente apenas raramente evitava o risco da morte. Em muitas cidades, os padres temerosos retiravam-se, deixando o exercício das suas funções para religiosos mais corajosos. Em muitos locais nem dois de entre vinte conseguiam sobreviver. A mortalidade era tão elevada no Hôtel-Dieu em Paris que, durante muito tempo, se levavam diariamente mais de 500 mortos, devotamente colocados em carros, vagões, para serem enterrados no cemitério dos Santos Inocentes. […] Muitas aldeias do campo e muitas casas em boas cidades ficaram vazias e desertas. Muitas casas, incluindo mesmo algumas magníficas habitações, depressa caíram em ruínas.

Chronicle Jean de Venette, fatos ocorridos entre 1340 e 1368. França.

Em termos humanos, a peste foi um desastre. Poucas regiões foram poupadas, e a maioria delas perdeu entre um quatro a um terço da população. A mortalidade era mais alta nas cidades, muitas das quais perderam praticamente, metade de seus habitantes. Muitas aldeias inteiras deixaram, eventualmente, de existir, e muitas delas nõ 1348-1349, mas durante as várias pragas que se seguiram.

Isto porque a catástrofe não terminou em 1349. Houve pragas em 1358, 1361, outra em 1368-1369, que poderá ter sido mais grave nos Paíse Baixos do que a de 1348-1349, e uma outra, em 1374-1375, que foi particularmente grave na Inglaterra. Daí em diante, as pragas abrandaram um pouco, surgindo apenas uma outra em 1400, que afetou toda a Europa. Uma geração separou esta última de uma peste em 1438, mas entre essa e as de 1480 ocorreram epidemias frequentes. A Inglaterra sofreu, pelo menos, sete epidemias entre 1430 e 1480, a maioria das quais nos anos de 1430 e 1470, e apenas duas delas foram de outras pestes que não a bubônica. Lamentável cotidiano medieval.

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Máscara medieval contra contaminação das pestes e epidemias. Usadas frequentemente pelos médicos, padres e voluntários.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Iluminuras Eróticas

Na Idade Média, apesar das restrições da Igreja, o cotidiano conjugal, o erotismo, obviamente de forma moderada era retratado nas belas, lindas iluminuras, principalmente nos séculos XIV e XV. Na maioria das vezes mostrando a alegria do casal no seu convívio diário, mas a partir do século XV, as ilustrações também tomam um rumo irônico e crítico. O sexo, e as suas circunstâncias são expostas mais vezes para o público em geral. 

Certas barreiras são ultrapassadas perante a Igreja, identificando os artistas como protagonistas das artes das iluminuras, e com certa liberdade de expressão mais flexível, desde que não seja apelativa e passível de investigações da inquisição. E as novelas Decameron de Giovani Boccaccio muito contribuiu para essa flexibilização.

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 Roman de la rose, 1352

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Boccaccio, Decameron, século XV

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Boccaccio, Decameron, século XV

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Boccaccio, Decameron, século XV

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Roman Arthurien, século XIII

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O Instigante Frederico I Barba Roxa – Uma Biografia e Imagens.

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 Frederico Barba Roxa, manuscrito século XII, autor desconhecido

Escrevo essa pequena biografia para registrar um dos maiores cavaleiros medievais. Pouco estudado mas uma vida cheia de indagações que nos levam a pesquisas e perspectivas futuras a respeito do imperador Frederico.

Frederico I da Germânia nascido em Waiblingen ou Ravensburg, 1122 e morto em Cilícia, 10 de junho de 1190), também conhecido por Frederico Barbaroxa, Frederico Barbarossa (ou simplesmente o Barbarossa) e sob a forma aportuguesada de Frederico Barba-Ruiva. Foi imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1152-1190), rei da Itália (1155-1190). O nome “Barbaroxa”, forma aportuguesada do italiano “barbarossa” (isto é, barba ruiva) popularizou-se apesar de seu evidente despropósito, pois o significado original é “barba vermelha”, devido à longa barba ruiva que ele usava.

Grande cavaleiro, ganhador de vários torneios medievais. Em razão destas vitórias, manteve sequestrado vários oponentes e ganhou destes dezenas de cavalos e armaduras. Um dos melhores lanceiros descritos em manuscritos nas justas, luta somente com um oponente, pois possuía uma técnica singular de levantar e direcionar o bastão-lança contra o adversário somente quando estava a poucos metros do mesmo. Aspecto inigualável durante a Idade Média em torneios. Usava, sempre, simultaneamente três espadas e três adagas que se entrelaçava junto a sua cintura. Armas brancas pesadíssimas, mas que segundo alguns não perturbava o imperador em momento nenhum.

Pertencente a casa dos Hohenstaufen, filho de Felipe, O Zarolho, com a morte de seu pai, herdou o ducado da Suábia, e foi eleito imperador pela Dieta de Franco-Forte com a morte de seu tio, Conrado III em 1152. Coroado em Roma em 1155 pelo Papa Adriano IV. Todo o seu reinado seria preenchido por uma série de batalhas para lá dos Alpes, onde chocou-se com a feroz resistência das cidades lombardas, principalmente Milão, apoiadas pelo papado. O imperador entrou rapidamente em conflito com a Santa Sé em 1159, contra o Papa Alexandre III, eleito pelos cardeais e reconhecido na Itália, França e Inglaterra, suscitou o antipapa Vitor IV, que fez reconhecer no sínodo de Pávia, os conflitos foram enormes e sangrentos em virtude da atitude anti Roma adotada pelo imperador Barba Roxa. Frederico foi finalmente vencido em Legnano, em 1176, pelas tropas da Liga Lombarda e teve de assinas a Paz DE Veneza, em 1177, humilhando-se prosternou-se aos pés do Papa, que apenas por este preço lhe concedeu o beijo da paz. As pessoas que conheciam Barba Roxa, jurariam que ele nunca faria isto. A rudeza do imperador e o seu orgulho curvaram-se diante do pontífice. Depois pela Paz de Constança, 1183, reconheceu a independência, de fato, das cidades lombardas.

Chefiou a III Cruzada com Filipe Augusto e Ricardo Coração de Leão, em 1189, realmente um trio de ferro, grandes cavaleiros e grande carisma junto as suas tropas. Obteve alguns êxitos sobre os turcos na Ásia Menor, mas o seu exército foi dizimado pelas doenças e esse grande cavaleiro, depois de enfrentar as mais terríveis e sangrentas batalhas, teve o infortúnio de morrer afogado nas águas do rio que hoje se chama Tarsus Xayi.

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 Frederico I Barba Roxa e o seu filho numa miniatura da Crónica dos Guelfos (século XIII).

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A Cota de Malha Medieval – Incômoda mas Eficaz

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A cota de malha medieval se chamava originalmente mail(malha) ou chain (cota) na Inglaterra e maille na França maillé significa “trançado”. Somente no século XVIII o termo “cota de malha” se tornou comum. Também conhecido na Europa como Hauberk, palavra dos francos, que significava “proteção do coração e pescoço”

A malha é construída a partir de elos de arame circulares, feitos em torno de um cilindro. Quando prontos, os elos são soldados ou fixos com rebites, formando uma túnica. O resultado é uma armadura flexível, mas incômoda e pesada. Chega a pesar entre 14 e 20 Kg. Eficaz contra a maioria das armas de corte, vulneráveis a bestas e armas pesadas como lanças e massas e martelos maiores. Em virtude disso, os guerreiros, contra golpes mais intensos, a usavam sobre uma armadura acolchoada, feita de lã e outros materiais que ofereciam mais resistência contra impactos.

Os fabricantes de cota de malha enlouqueciam lentamente, unindo os elos para formar a malha, contam os manuscritos nos relatos dos ferreiros das cortes medievais.

O autor romano Varro atribui a invenção da cota aos celtas. O exemplar mais antigo existente foi encontrado em Ciumeşti na Romênia moderna e é datado do século V a.C, entre 400 e 450. Exércitos romanos adotaram tecnologia semelhante de pois de encontrá-lo. A cota de malha foi amplamente usada durante a primeira metade do último milênio, estando presente em toda a Europa e Ásia, mas foi no século XII d.C. que atingiu o ápice. Cobrindo todo o corpo do cavaleiro, do guerreiro, a túnica básica de malha era associada a peças individuais para os braços, as pernas e a cabeça, de modo a oferecer uma proteção mais completa.

A cota de malha encontrada nos labirintos da Catedral de Praga, que data do século XII, é um dos primeiros exemplares encontrados intactos na Europa Central e que alguns historiadores alegam ter pertencido a São Venceslau, mas sem maiores análises para comprovação.

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Estátua em homenagem a São Venceslau, Catedral St. Vitu’s, de 1373, Praga, República Tcheca.

Os cavaleiros não usaram essa armadura, cota de malha, por muito tempo. Placas de metal forma sendo aplicadas e adicionadas à malha e as armaduras se tornarem cada vez mais sofisticadas, a partir do final do século XIV. Já os soldados de infantaria vestiram cota de malha até o fim da Idade Média. No Japão , uma forma de cota de malha chamada kusari Katabira (jaqueta cadeia) era comumente usado pelos samurais. Acota de malha foi uma peça de defesa e ainda hoje continua a atrair a atenção de todos. Sua eficácia foi notável, mas usá-la requeria uma certa paciência e habilidade de manuseio. Salvou inúmeras vidas na Idade Média e foi, sem dúvida, segundo dito popular, a segunda pele dos anjos que forneciam aos cavaleiros.

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Os anéis de uma cota de malha medieval.

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