Arquivo mensais:setembro 2013

O Ideal da Cavalaria

O aparecimento da lenda arturiana, fermento da matéria da Bretanha e a sua ligação a uma realidade histórica, continua sendo um mistério. As críticas que vêem nela uma criação original do século XII ocultam o manifesto crisol céltico de que se encontram emanações ao longo das narrativas. Sendo a difusão da lenda céltica essencialmente oral, serviu de fundo comum à criação da lenda arturiana. A trama é simples: Artur é um soberano amado e respeitado na Bretanha, o melhor que jamis houve. Sua mulher, a bela Guenièvre, vive um amor ilícito com Lancelot du La. Ao lado do rei Artur reúnem-se os mais valorosos cavaleiros do reino; estão junto do senhor ao redor da famosa Távola Redonda. Nesta base simples tecem-se numerosas intrigas amorosas, aventuras incríveis que põem em cena os mais célebres cavaleiros: Gauvain, Lancelot, Perceval…nomes que ficam desde logo presos ao nosso imaginário. Enfrentam todos os perigos para salvarem o seu reino ou defenderem a sua dama, respeitando um novo ideal, mais espiritual, insuflado pelos autores do século XII. Estes, de fato enriqueceram consideravelmente a herança céltica, criando o célebre espírito cavalheiresco, ideal romanesco que se transformou na realidade em verdadeira ética que o cavaleiro deve respeitar. Para Chrétien troyes, o termo “cavalaria” é uma palavra-chave que se inscreve no centro da sua obra. Essa posição que se alcança pela investidura e que se torna uma qualidade coletiva já existia na Chanson 

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 Lancelot, Artur e Guiniévre, manuscrito séc. XII – França – British Libray.

No entanto, Chrétien de Troyes introduz uma nova noção fazendo dos seus heróis cavaleiros errantes, motivo que designa um guerreiro em perpétuo movimento, combatendo a cavalo. Estes cavaleiro são celibatários, não têm vínculos precisos e dedicam-se a viajar em busca de honra e de glória. São atraídos pelos lugares de festividade onder se organizam torneios. Nessa altura, tentam mostrar as suas proezas e aumentar a sua reputação, submetendo o maior número possível de adversários, sob o olhar admirador do elemento feminino. Estes cavaleiros viajantes muitas vezes com um senhor que dirige a tropa. Esta definição faz do cavaleiro um modelo complexo de conduta e de ação, obedecendo a um código íntimo de honra.

O cavaleiro errante encarna assim a coragem, a proeza, a lealdade de infalível, a fidelidade à palavra dada. tem que dar provas de temperança na batalha, de generosidade, tanto em relação aos amigos como aos inimigos, e de cortesia para com as mulheres. A liberalidade do cavaleiro que redistribui todos os seus bens às pessoas e aos pobres faz parte da sua fama. Os valores celebrados pela cavalaria são o fruto de uma longa educação. O bacharel, futuro cavaleiro, deve fazer a sua aprendizagem junto de um senhor de quem passas a ser o criado e depois o escudeiro. Aprende então tanto o manejo das armas como a ética de cavalaria. Uma vez investido, deverá demonstrar o seu valor atuando nos torneios ou participando das aventuras que surgem pela sua frente. Na procura de glória e reconhecimento, estes cavaleiros errantes vão realizar igualmente múltiplas buscas, das quais a mais prestigiosa é a do “GRAAL”>

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Cavaleiro Cavazzola com o seu escudero – 1518-1522.

Paulo Edmundo Vieira Marques 

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A Pintura a Óleo – Uma das Grandes Inovações do Medievo

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Altarpierce de Ghent, cidade flamenga, 1432. Óleo 350×461 cm, da Catedral de St. Bavo.

Quero chamar a atenção para os leitores do meu blog para um fato significativo da nova mentalidade de que se possuído o homem europeu no medievo. É o fato de que a primeira grande inovação da pintura pré-renascentista tenha sido de natureza técnica, paralela ao emprego da pólvora, da bússola, do papel e da invenção de Gutenberg na arte da imprensa.É o processo de pintar a óleo que a Antiguidade e que o maior período da Idade Média não conheceram, a Renascença adotará e chegará aos nossos dias. Os pintores do passado haviam usado apenas as técnicas do afresco, da têmpera e da encáustica.

A encáustica é uma técnica de pintura , na qual o artista mistura cores em uma cera aquecida e derretida. Esta cera é aplicada na superfície a ser pintada; como é de secagem rápida, usa-se também colocar uma lâmpada ou outra fonte de calor sob o suporte da pintura; o calor amacia a tinta de cera, permitindo que o pintor obtenha vários efeitos de cor e textura. A encáustica era uma técnica muito usada na Grécia desde o século V a.C. até o século IX d.C., quando caiu em desuso. A reconstituição desta técnica foi possível em 1845, quando foi descoberta uma caixa de pintura encáustica no túmulo de um pintor em uma cidade francesa. Por não se deteriorar facilmente, a pintura permanece perfeita por vários anos. São famosos os retratos de múmias com este tipo de pintura. A palavra encáustica vem do grego, egkaustiké, que significa queimado.

A pintura a óleo consiste basicamente na dissolução dos pigmentos ou pós das tintas, constituídos de óxidos minerais, no óleo de linhaça refinado, que pode ser acompanhado de essência secativa. Em relação as técnicas que existiam é verdadeiramente revolucionário pela simplicidade da preparação, facilidade na execução, variedade dos efeitos expressivos, em particular da representação das texturas das diferentes matérias e nas gradações luminosas.

Permite com maior frequência, sem alterar a consistência da pintura, tantas correções quantas necessárias, além de interrupções demoradas na execução. Por estas e outras vantagens, a nova técnica difundiu-se na Europa, tornando-se preferida nos quadros de cavalete pela maioria dos pintores, aos tradicionais e laboriosos processos da têmpera e encáustica. Os mestres do renascimento, em todos os países, desde o italiano Leonardo da Vinci ao alemão Albert Durer, foram pintores de quadros a óleo. Uma exceção deve ser feita a Miguel Ângelo que não empregou a nova técnica. Considerava-a pelas facilidades de execução, própria para preguiçosos e mulheres.

A invenção ou o aperfeiçoamento da pintura a óleo tem sido objeto de controvérsias entre historiadores de arte. Muitos autores atribuem-lhe a invenção a dois artistas de Flandres, região na época constituída da Bélgica e Holanda, aos irmãos Hubert e Jasn Van Eyck !1390-1441). Foram notáveis não só pela invenção que lhes atribuem, como pelas qualidades artísticas, minucioso e incisivo realismo, poetizado pela sensibilidade aos efeitos luminosos, a a par de primorosa execução. Outros autores, no entanto, divergem. Atribuem aos irmãos Van Eyck apenas o aperfeiçoamento da técnica da pintura a óleo. O verdadeiro inventor, segundo esses autores, teria sido um monge um tanto misterioso, chamado Teófilo ou Rogkerus. Era ourives, pintor e vitralista, homem de muitas artes e saberes. Escrevera um tratado de arte, Diversarium artium schuedule, no qual se encontram conselhos e instruções sobre desenho, composição e receitas de tintas, misturas etc.

Invenção do misterioso monge alemão ou dos dois ir mãos flamengos, o fato é que a técnica do óleo rapidamente se difundia de Flandres aos demais países europeus, tendo sido logo conhecida e recebida com especial interesse pelos italianos, dadas as relações comerciais que a Itália mantinha com as cidades flamengas. A difusão da nova técnica entre os italianos teria sido obra de um mestre flamengo Roger van Der Weyden ou Roger de La Pasture !1397-1464), discípulo dos Van Eyck, que se demorara em Florença, nos meados do século, em viagem para Roma.

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 A virgem e a Criança, Roger Van Weyden, 1454, óleo sobre tela, Wysokość: 31,9 cm

Segundo o historiador de arte italiano Giorgio Vasari (1512-1574), também arquiteto e pintor, celebrizado por seu livro, Vidas de \pintores, Escultores e Arquitetos Ilustres, no qual faz a biografia de numetrosos artistas italianos do XIII ao XIV séculos, Roger de La Pasture teria revelado o segredo da f´poumula do óleo ao florentino Domenico Veneziano (1410-1457), que o teria transmitido a Andrea del Castagno (1423-1457). Para ficar dono exclusivo da importante e prodigiosa receita, Castagno assassinara Veneziano. Durante muito tempo, acreditara-se história de Vasari, cujo livro depois se verificaria estar cheio de inexatidões, até que pesquisas nos arquivos florentinos revelaram ter a pretensa vítima falecido quatro anos depois do suposto assassino, desfazendo-se a versão do crime. Ao que tudo indica a verdadeira história, ou melhor a mais aproximada realidade, da difusão do óleo entre os italianos estaria no livro do mesmo Vasari. O divulgador da nova técnica teria sido Antonello de Messina (1430-1479). Antonello nascera na cidade siciliana de Messina, mas, estilisticamente, pertence à escola veneziana, pelas infl~encias que recebera de Giovanni Bellini (1430-1516), o fundador da escola veneziana renascentista. Estivera em Flandres de onde trouxera a fórmula do óleo, tornan do-a conhecida em veneza. Todavia, a obra flamenga a óleo que despertara maior entusiasmo e admiração dos florentinos, especialmente de Andrea Verrochio (1435-1488) e de seu discípulo Leonardo da Vinci (1452-1519), fora o tríptico A adoração dos Pastores, de Hugo van Der Goes (- 1482, pintada para o florentino Tommaso Portinari, repreasentante em Bruges do banco da família Médicis.

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Hugo van der Goes, Adoração aos Pastores Portinari Retábulo (1475-1476)

As excelências da nova técnica poder ser avaliadas tanto por sua imediata aceitação na época quanto por seu generalizado emprego ainda em nossos dias. As pinturas foram de um esplendor ímpar que nos encantam até hoje de forma cativante, misteriosa, instigante. Ahhh, esses homens artistas do medievo que até os nossos dias nos contemplam com tanta beleza, muito, muito obrigado.

Obs: Este artigo foi escrito em homenagem ao meu filho primogênito Paulo Eduardo Scalzilli Vieira Marques, apreciador da boa arte.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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A Violência, como Hoje, Recurso dos Maridos Enganados no Medievo

ck9227Marriage Feast at Cana Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam, Netherlands. Painting, Oil on panel, 93 x 72 cm Bosch – 1450-1516)

Através dos tempos é bem entendido que um certo número de casais não respeita a fidelidade conjugal. Mas enquanto o marido pode intentar uma ação no plano penal, ele pode ser perseguido apenas no plano civil. O que convenhamos acontece até os nossos dias.

No ano de 1338 uma mulher enganada é condenada a pagar uma multa por ter batido num marido infiel que nem sequer tem a desculpa de ter sido seduzido porquanto a sua parceira, criada deles, pretende ter sido violada. as cartas de remissão mencionam talvez e sobretudo os adultérios femininos na medida em que o marido mata por vezes o amante, enquanto que a mulher enganada só raramente recorre à violência.

O governador de Chauny que acaba de fazer a ronda, pois os ingleses andam perto, estamos na época da Guerra dos cem Anos, encontra a porta do quarto fechada, ao voltar para casa cerca de 4 ou 5 horas da manhã. Pede à mulher para abrir, e vê entre a cama e a parede um rapaz novo em camisa e sem ceroulas. Enfurecido, mata-o com um golpe de alfange

Jeannot Chavant d’Amberre encontrou a mulher Tomasse, por duas vezes, a cometer adultério, uma vez com o reitor, uma outra com um laico. Por duas vezes correu com ela, mas perdoou-lhe contra a promessa de nunca mais recomeçar. Ao surpreendê-la novamente em flagrante delito, dá-lhe duas facadas e pontapés no ventre.

As mulheres, àquela época, apreciavam os clérigos. Estes relativamente instruídos, dispensam sem dúvida mais atenções às suas amantes do que os boçais laicos. As funções que exercem permitem-lhes exercer pressão sobre as suas paroquianas. Finalmente, a mulher afastada do sacerdócio imagina talvez, graças a um amante clérigo, que tem relações privilegiadas com sagrado. Deduz-se, até hoje, que a mulher dá muita, mas muita importância para a sua segurança. Casamento, mas sólido e com pitada grande de carinho por parte do marido, a violência, sem dúvida, diminuiria hoje e no medievo.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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O Surgimento do Purgatório

ck9211GIRALDI, Guglielmo. Frontispiece do purgatório de Dante, 1477-1482, Biblioteca do Vaticano.

O aparecimento do imaginário do purgatório remonta no final do século XII. A ideia não nasce do nada. mas como demonstrou Jacques Le Goff, é então que aparece o conceito de um lugar específico, no qual as almas se podem purificar de certas faltas.

Sem dúvida, os pecados mortais não confessados, para os quais a penitência não foi realizada na terra, podem ser expiados no purgatório. Já é muito, e isso abre a via do paraíso a muitos indivíduos, e sobretudo a grupos sociais que a Igreja colocava até então numa posição muito delicada, como por exemplo os usurários. Nesse sentido, o purgatório é realmente uma esperança: o castigo necessário não será sempre eterno.

A partir de fins do século XIII, as imagens mostram as almas do purgatório, atormentadas pelas chamas é certo, mas também reconfortadas e em breve libertadas pelos anjos. Pouco depois, nos princípios do século XIV, Dante dá ao purgatório, na Divina Comédia, uma importância inédita, igual á do inferno e do paraíso. É um sinal entre outros do sucesso crescente da nova crença nesse terceiro lugar. Ao mesmo tempo que o purgatório se afirma, os teólogos escolásticos, sobretudo no século XIII, sintetizam os conceitos do outro mundo, a geografia do além modifica-se.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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