Monthly Archives: October 2013

Ritual de Investidura de um Cavaleiro do Século XII

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1. [Invocação do Senhor, de Cristo e da Santa Mãe de de Deus]

2. “Senhor, ouve\as nossas preces, e digna-te abençoar com a Majestade da tua mão Direita esta espada, com que este Servidor desejou ser cingido, para que ela sirva para a proteção e defesa das igrejas, das viúvas, dos órfãos e de todos os servos de Deus contra o furor dos pagãos, e leve a todos os assaltantes terror e medo”

3. {Invocação da proteção divina]

4. “Quanto a ti, agora que estás a ponto de ser feito cavaleiro recorda estas palavras do Espírito Santo: “Valente guerreiro, cinge a tua espada (Salmo 45:4); esta espada, é de fato a do Espírito Santo, que é a palavra de Deus. Com esta imagem, afirma pois a Verdade, defende a igreja, os orfãos, as viúvas, os que rezam e os que trabalham , ergue-te prontamente contra aqueles que atacam a santa igreja, para surgir coroado, na presença de Cristo, armado do gládio da Verdade e da Justiça”

5. “Recebe esta espada, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

6. Recebe esta lança, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

7. Recebe este escudo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

8. Recebe estas esporas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém”

Ordinatio militis de Itália do Sul (século XII), ed. R.Elze, Konigskronung und Ritterweihe. Institutionen, Kultur une Gsesllschaft im Mittelatter. Festschrift Josef Fleckenstein zu seinem 65. Geburstag Sigmaringen, 1984,p.341.

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Paulo Edmundo Vieira Marques

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O Estandarte e a Cruz

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Em Paris, no dia 27 de abril de 1147, nas novas instalações do Templo, teve lugar um capítulo que reuniu cento e trinta cavaleiros “todos vestidos com os seus mantos brancos”. Os irmãos iam examinar a iniciativa de Luis VII que preparava uma nova cruzada e precisava da participação de um forte contingente das comendadorias da França e da Espanha. O capítulo foi honrado com a presença do papa Eugênio III. Foi aí que o Santo Padre concedeu aos Templários a cruz pátea de cor vermelha, ” afim de que este sinal triunfante lhes sirva de escudo e que eles nunca voltem rédeas face a qualquer infiel”.

Os irmãos usaram a cruz cosida no lado esquerdo do seu manto, um pouco acima do coração, e acrescentaram ao seu pendão o balsão, lembrando o grito de guerra dos cavaleiros ” A mim, bom senhor! Balsão ao socorro!” Esta expressão correspondia a “Vall cem” um templário valia por cem soldados. O estandarte era branco e negro, ‘para”, diz Jacques Vitry, “significar que eles (os Templários) são francos e benevolentes para com os seus amigos, negros e terríveis para com os seus inimigos…Leões na guerra, cordeiros na paz” A toda a volta estava bordada a divisa da ordem: “Non nobis, Domine, nom nobis, sed nomini tuo da gloriam” _ “Não a nós, Senhor, não a nós, mas a teu nome só dá a glória”

Nenhum combatente podia deixar o campo de batalha enquanto avistasse o balsão. Era, por isso, estritamente proibido baixar o estandarte e servir-se dele como lança, sob pena de castigo severo.

Fonte The Knight in History, Frances Gies.

Obs: Pesquisa feita em homenagem ao meu amigo escritor e amante do medievo Sergio Gallina. Que Deus o tenha, templário dos nossos tempos atuais. Lutador. Batlhador das palavras e das letras. Abraço, saúde.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Agincourt – Massacre de Cavaleiros Através das Flechas

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 Ilustração Batalha de Agincourt, John Gilbert, final séc. XIX.

É muito difícil para um historiador escrever um artigo, objetivamente, sucintamente, mas com conteúdo sobre um tema tão importante para a História Medieval como foi a Batalha de Agincourt. Mas eu tive um professor na PUCRS chamado Helder Gordim Silveira que certa vez me puxou para um canto e me disse objetivamente: Paulo a tua maior virtude como historiador é o teu poder de síntese para temas e contextos históricos, use-os da melhor maneira. Fiquei muito envaidecido. Quando não foi a minha surpresa que outro professor ainda mais experiente na escrita da História, professor Moacyr Flores, disse-me a mesma coisa. Creio que diante de opiniões tão capacitadas tenho certo respaldo para me aventurar em artigos que requerem certa objetividade. Espero que diante de análise de peritos, espero escrever um artigo que sustente as perspectivavas dos meus mestres e seja sensível e objetivo.

Foi Agincourt talvez a última batalha da Cavalaria. Com um desprezo manifesto pela infantaria, os cavaleiros franceses, embaraçados com equipamento demasiado pesado, vão morrer no assalto em que os arqueiros ingleses terão provado a supremacia das armas ligeiras.

Outubro de 1415. A chamada Guerra dos Cem Anos chega quase ao seu final. O desafio não mudou desde o reinado de Eduardo II, iniciador do conflito. A França sofre inúmeras derrotas, batido em Écluse, Crécy e Pitiers em 1340, 1346 e 156, o reino capetiano volta a reanimar graças a Carlos V. O rei, com a ajuda de dois valentes soldados, o bretão Bertrand du Guesclin e o cavaleiro Jean de Vienne, restabeleceu o equilíbrio. Infelizmente este monarca prudente morreu demasiado cedo. Carlos, seu filho, esta doente e só tem curtos instantes de lucidez. A esposa deste, Isabel da Baviera, conduz os assuntos. Frívola e ávida, raramente opta pelo interesse da França. À vista de todos a Borgonha tece a sua própria teia demasiado favorável à dos ingleses. Em Londres, Henrique V de Lancaster tem vinte e sete anos e reina desde 1413. Em política, persegue as ambições dos Plantagenetas. Quer anular as anexações de Felipe Augusto e recuperar os territórios cedidos aos ingleses pelo tratado de Brétigny de 1360, mas retomados por Carlos V. Indo ainda mais longe e situando-se na dependência de Eduardo III, aspira ao trono de França. Nesta perspectiva, Henrique V pensa desposar Catarina, a filha de Carlos VI. A princesa tem apenas 14 anos e o monarca tem pressa. Sem esperar os trâmites do casamento, que acabarão por chegar, com a dama munida de um belo dote, prepara-se para as hostilidades. A 28 de julho, o seu arauto apresenta-se ao rei da França, portador de uma carta na qual reivindica o reino da França. Em caso de recusa, ameça “cobrir essa terra de um dilúvio de sangue humano”. Carlos VI recebe a missiva num momento de lucidez. responde com dignidade: “O conselho da França tentou todas as vias para evitar a guerra; de resto, as suas ameaças não me assustam e se o Céu se dignar conceder-me saúde por algum tempo, vão me encontrar preparado para vos expulsar da França se cá ousar entrar”. Os dados são claros. Se Henrique V persiste nos seus desígnios, será de novo a guerra. E o inglês persiste. A 19 de Agosto de 1415, 1600 navios saem de Southampton e Portsmouth com cerca de 30 000 homens a bordo. Tendo desembarcado, anteriormente, não longe da embocadura do Sena, Henrique V dirige-se para Harfleur, que cerca a 18 de Agosto. Nessa altura, no descalabro geral da autoridade real, não existe exército francês devidamente constituído.

Um homem de coragem, o marechal Boucicaut, consegue no entanto preparar sem demora 6000 homens de armas com os quais persegue os sitiantes. A sua ação não pode todavia evitar a capitulação de Harfleur, que abre as portas ao inglês no domingo 22 de setembro. Henrique É muito difícil para um historiador escrever um artigo, objetivamente, sucintamente, mas com conteúdo sobre um tema tão importante para a História Medieval como foi a Batalha de Agincourt. Mas eu tive um professor na PUCRS chamado Helder Gordim Silveira que certa vez me puxou para um canto e me disse objetivamente: Paulo a tua maior virtude como historiador é o teu poder de síntese para temas e contextos históricos, use-os da melhor maneira. Fiquei muito envaidecido. Quando não foi a minha surpresa que outro professor ainda mais experiente na escrita da História, professor Moacyr Flores, disse-me a mesma coisa. Creio que diante de opiniões tão capacitadas tenho certo respaldo para me aventurar em artigos que requerem certa objetividade. Espero que diante de análise de peritos, espero escrever um artigo que sustente as perspectivavas dos meus mestres e seja sensível e objetivo.

Foi Agincourt talvez a última batalha da Cavalaria. Com um desprezo manifesto pela infantaria, os cavaleiros franceses, embaraçados com equipamento demasiado pesado, vão morrer no assalto em que os arqueiros ingleses terão provado a supremacia das armas ligeiras.

Outubro de 1415. A chamada Guerra dos Cem Anos chega quase ao seu final. O desafio não mudou desde o reinado de Eduardo II, iniciador do conflito. A França sofre inúmeras derrotas, batido em Écluse, Crécy e Pitiers em 1340, 1346 e 156, o reino capetiano volta a reanimar graças a Carlos V. O rei, com a ajuda de dois valentes soldados, o bretão Bertrand du Guesclin e o cavaleiro Jean de Vienne, restabeleceu o equilíbrio. Infelizmente este monarca prudente morreu demasiado cedo. Carlos, seu filho, esta doente e só tem curtos instantes de lucidez. A esposa deste, Isabel da Baviera, conduz os assuntos. Frívola e ávida, raramente opta pelo interesse da França. À vista de todos a Borgonha tece a sua própria teia demasiado favorável à dos ingleses. Em Londres, Henrique V de Lancaster tem vinte e sete anos e reina desde 1413. Em política, persegue as ambições dos Plantagenetas. Quer anular as anexações de Felipe Augusto e recuperar os territórios cedidos aos ingleses pelo tratado de Brétigny de 1360, mas retomados por Carlos V. Indo ainda mais longe e situando-se na dependência de Eduardo III, aspira ao trono de França. Nesta perspectiva, Henrique V pensa desposar Catarina, a filha de Carlos VI. A princesa tem apenas 14 anos e o monarca tem pressa. Sem esperar os trâmites do casamento, que acabarão por chegar, com a dama munida de um belo dote, prepara-se para as hostilidades. A 28 de julho, o seu arauto apresenta-se ao rei da França, portador de uma carta na qual reivindica o reino da França. Em caso de recusa, ameça “cobrir essa terra de um dilúvio de sangue humano”. Carlos VI recebe a missiva num momento de lucidez. responde com dignidade: “O conselho da França tentou todas as vias para evitar a guerra; de resto, as suas ameaças não me assustam e se o Céu se dignar conceder-me saúde por algum tempo, vão me encontrar preparado para vos expulsar da França se cá ousar entrar”. Os dados são claros. Se Henrique V persiste nos seus desígnios, será de novo a guerra. E o inglês persiste. A 19 de Agosto de 1415, 1600 navios saem de Southampton e Portsmouth com cerca de 30 000 homens a bordo. Tendo desembarcado, anteriormente, não longe da embocadura do Sena, Henrique V dirige-se para Harfleur, que cerca a 18 de Agosto. Nessa altura, no descalabro geral da autoridade real, não existe exército francês devidamente constituído.

Um homem de coragem, o marechal Boucicaut, consegue no entanto preparar sem demora 6000 homens de armas com os quais persegue os sitiantes. A sua ação não pode todavia evitar a capitulação de Harfleur, que abre as portas ao inglês no domingo 22 de setembro. Henrique É muito difícil para um historiador escrever um artigo, objetivamente, sucintamente, mas com conteúdo sobre um tema tão importante para a História Medieval como foi a Batalha de Agincourt. Mas eu tive um professor na PUCRS chamado Helder Gordim Silveira que certa vez me puxou para um canto e me disse objetivamente: Paulo a tua maior virtude como historiador é o teu poder de síntese para temas e contextos históricos, use-os da melhor maneira. Fiquei muito envaidecido. Quando não foi a minha surpresa que outro professor ainda mais experiente na escrita da História, professor Moacyr Flores, disse-me a mesma coisa. Creio que diante de opiniões tão capacitadas tenho certo respaldo para me aventurar em artigos que requerem certa objetividade. Espero que diante de análise de peritos, espero escrever um artigo que sustente as perspectivavas dos meus mestres e seja sensível e objetivo.

Foi Agincourt talvez a última batalha da Cavalaria. Com um desprezo manifesto pela infantaria, os cavaleiros franceses, embaraçados com equipamento demasiado pesado, vão morrer no assalto em que os arqueiros ingleses terão provado a supremacia das armas ligeiras.

Outubro de 1415. A chamada Guerra dos Cem Anos chega quase ao seu final. O desafio não mudou desde o reinado de Eduardo II, iniciador do conflito. A França sofre inúmeras derrotas, batido em Écluse, Crécy e Pitiers em 1340, 1346 e 156, o reino capetiano volta a reanimar graças a Carlos V. O rei, com a ajuda de dois valentes soldados, o bretão Bertrand du Guesclin e o cavaleiro Jean de Vienne, restabeleceu o equilíbrio. Infelizmente este monarca prudente morreu demasiado cedo. Carlos, seu filho, esta doente e só tem curtos instantes de lucidez. A esposa deste, Isabel da Baviera, conduz os assuntos. Frívola e ávida, raramente opta pelo interesse da França. À vista de todos a Borgonha tece a sua própria teia demasiado favorável à dos ingleses. Em Londres, Henrique V de Lancaster tem vinte e sete anos e reina desde 1413. Em política, persegue as ambições dos Plantagenetas. Quer anular as anexações de Felipe Augusto e recuperar os territórios cedidos aos ingleses pelo tratado de Brétigny de 1360, mas retomados por Carlos V. Indo ainda mais longe e situando-se na dependência de Eduardo III, aspira ao trono de França. Nesta perspectiva, Henrique V pensa desposar Catarina, a filha de Carlos VI. A princesa tem apenas 14 anos e o monarca tem pressa. Sem esperar os trâmites do casamento, que acabarão por chegar, com a dama munida de um belo dote, prepara-se para as hostilidades. A 28 de julho, o seu arauto apresenta-se ao rei da França, portador de uma carta na qual reivindica o reino da França. Em caso de recusa, ameça “cobrir essa terra de um dilúvio de sangue humano”. Carlos VI recebe a missiva num momento de lucidez. responde com dignidade: “O conselho da França tentou todas as vias para evitar a guerra; de resto, as suas ameaças não me assustam e se o Céu se dignar conceder-me saúde por algum tempo, vão me encontrar preparado para vos expulsar da França se cá ousar entrar”. Os dados são claros. Se Henrique V persiste nos seus desígnios, será de novo a guerra. E o inglês persiste. A 19 de Agosto de 1415, 1600 navios saem de Southampton e Portsmouth com cerca de 30 000 homens a bordo. Tendo desembarcado, anteriormente, não longe da embocadura do Sena, Henrique V dirige-se para Harfleur, que cerca a 18 de Agosto. Nessa altura, no descalabro geral da autoridade real, não existe exército francês devidamente constituído.

Um homem de coragem, o marechal Boucicaut, consegue no entanto preparar sem demora 6000 homens de armas com os quais persegue os sitiantes. A sua ação não pode todavia evitar a capitulação de Harfleur, que abre as portas ao inglês no domingo 22 de setembro. Henrique V dispõe agora de um bom porto na costa francesa. Mas a sorte é uma deusa caprichosa. Abandona o rei inglês. Enquanto metade da frota consegue sair da Inglaterra, a tempestade destrói a outra metade que ficara perto das margens normandas. Bloqueados em Harfleur por Boucicaut que não desistiu, os ingleses estão com falta de mantimentos. A doença dizima as fileiras. Para se livrar desse mau passo, Henrique V decide sair da cidade. Abandona a sua ideia inicial, formulada numa carta datada de Setembro, de seguir ao longo do Sena e encaminhar-se para Bordeaux logo após a queda de Harfleur. Por questão de honra, e antes de abandonar o continente, precisa pelo menos de percorrer algumas das terras que reivindica, decidindo subir para o norte ao longo da costa. A 8 de Outubro o exército põe-se a caminho. Não tem a sua volta mais de 26 000 homens e Boucicaut, agarrado aos seus cavaleiros, não o perde de vista. os pequenos ataques dos franceses, em Arques e depois sob os muros da pequena povoação de Eu, custa-lhes vidas. Não sem dificuldades, acaba por alcançar o Soma e consegue atravessar o rio. A sua intenção é agora chegar a Calais, cidade nas mãos dos ingleses desde 1347. Boucicaut continua mais presente do que nunca. Recebeu mesmo ajuda. O apelo de Carlos VI foi escutado. Os cavaleiros ergueram-se em massa para se oporem aos invasores. O condestável Carlos d’Albret, oficialmente o dignatário mais altamente colocado na hierarquia militar, chega com reforços. Todos eles, barões, fidalgos que acorreram confusamente, são cerca de 11 000 e representam os melhores da cavalaria francesa: juntaram-se a aeles 11 príncipes de sangue. No total, os franceses com os escudeiros e os milicianos comunais são agora numericamente os mais fortes: cerca de 40 000. Na sua frente V, que sofreu perdas, dispõe de menos de 20 000 homens válidos. Os franceses têm pois a vantagem do número, mas falta-lhes unidade de comando. O rei não se encontra ali, dado o seu estado. Boucicaut é prudente, mas d’Albret é meio afoito. Os príncipes de sangue agaram-se às suas prerrogativas. Querem impor os seus modos de ver. Em resumo, toda a gente fala e ninguém comanda realmente.

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 Henrique V, rei da Inglaterra. Pintura século XV.

Quanto a Henrique V, é o único senhor a bordo. para alcançar Calais, esta condenado a passar sobre o corpo dos franceses que formam barragem. Não hesita. Irá bater-se, tanto mais que sabe que os seus adversários só falam em lutar. Tendo transposto o Canche, escolhe ele próprio o sítio do confronto. Na noite de 24 de Outubro, o exército inglês abrigou-se como pôde na zona da aldeia de Maison celles, a cerca de 50 Km a sudeste de Calais, e comeu o pouco de que dispunha. O cenário é um planalto plantado de árvores, tendo ao centro a povoação de Maisoncelles. O lado oriental confina com o bosque de Tramencourt rodeado de fortes sebes; o de oeste ladeia a floresta de Agincourt, nome da modesta aldeia de algumas dezenas de casebres e um castelo feudal. Este terreno isolado é relativamente acanhado: menos de 3 Km de comprimento e 800 metros de largura, onde se irão defrontar os dois adversários, Boucicaut não é só corajoso. Vê com clareza. Desaconselha que se aventurem numa posição demasiado estreita para tentar irrupções e em que o inimigo pode compensar a sua inferioridade numérica. Mas D’Albret, os príncipes de sangue, todos os duques e condes, são de um nível superior ao seu. Têm maioria no conselho. É preciso atacar. O grupo francês, divide-se em três “batalhas”. Mas o espaço disponível impossibilita, como se viu, toda a noçao de manobra e não permite que se travem conjuntamente as três “batalhas”. Só poderão intervir sucessivamente num choque brutal de um grupo de cavaleiros e de escudeiros. Arqueiros, besteiros, milicianos comunais, são postos de parte. Os feudais não sabem que fazer com a infantaria, ou seja os simples soldados. Na sua retirada de Harfleur, o rei Henrique V perdeu o grosso dos cavalos. Conta sobretudo com os arqueiros, auxiliares fiéis do exército inglês. Crécy demonstrou isso. Além disso, exercitou-os na manobra do “pique”. Estes piques são longas hastes de vários pés, armadas\com uma grossa ponta de ferro em cada extremidade. Fixadas no solo e inclinadas sob comando, consituem verdadeiros espetos gigantes, quebrando a carga dos cavaleiros.

O Outono já esta bastante avançado. Choveu. A terra de Artois é escorregadia e pesada. Dificulta a marcha dos homens e dos animais. Voltou a chover na noite de 24 para 25 de Outubro. os ingleses dormiram praticamente enxutos, Henrique V mandara-os descansar abrigados. Em contrapartida, os franceses estão fatigados. Apanharam trombas de água e não fecharam os olhos. Na manhã daquele 25 de Outubro de 1415, os dois exércitos defrontam-se a algumas centenas de metros de distância. O silêncio é de rigor no campo britânico; um milhar de homens esta em coluna cerrada de frente. Henrique V encontra-se no centro do seu dispositivo, que compreende cerca de 14 000 combatentes. Aguarda o ataque. No campo francês reina o tumulto e a incerteza prevalece. No último momento Boucicaut conseguiu temperar o ardores belicosos. A ordem de atacar foi adiada e cada um acampa à vontade. Henrique V percebe que os franceses se furtam. O seu exército tem fome. Há vinte e quatro horas que a sua tropa não come. Decidindo-se forçar o destino, ordena marchar em frente. A este movimento imprevisto o grito “Às armas!” ressoa no acampamento francês. Todos se esforçam por retomar as posições um momento ocupadas e depois abandonadas após decisão de adiar a operação. Se o ardor é manifesto, a precipitação perturba a ordem inicialmente estabelecida. Resolutamente, duas colunas de 1200 e a 1500 cavaleiros franceses no total lançam-se contornando os bosques de Agincourt e de Tramincourt. A terra argilosa, recentemente revolvida e semeada, esta embebida de água. Os cavalos atola-se e avançam com lentidão.

cn68,51Batalha de Agincourt, manuscrito século XV.

A manobra do pique, dos ingleses, é executada com perfeição. A carga detém-se enquanto os arqueiros ingleses fazem chover nuvens de flechas mortais; os dois chefes da cavalaria são postos fora de combate Cliquet de Brabante morre, o conde de Vendôme é feito prisioneiro. O dia começa mal. O condestável d’Albret, com a sua “batalha”, mudará o curso das coisas? Os seus cavaleiros estão teoricamente montados, mas muito vão a pé por falta de espaço e na esperança de se baterem melhor. Por um momento d’Albret parece penetrar na frente adversa, mas é apanhado de flanco pelos arqueiros. Os cavalos, feridos de morte, tombam; os cavaleiros caem em terra. Incapazes de se levantarem sozinhos, ficam a mercê das estocadas inglesas. O condestável e o duque Brabante são os primeiros a ser mortos. O marechal Boucicaut, que não é dos que ficam atrás, é por sua vez gravemente ferido. Desaparece debaixo dos feridos e dos cadáveres. O confronto transforma-se em massacre. Desembocando vaga por vaga, em filas compactas, os franceses, precipitando-se em socorro, vêm morrer alternadamente sob os golpes dos arqueiros e da infantaria inglesa que dispõem de mais mobilidade. Mas o caso não fica terminado. Todos os grupos sofreram. O duque de Alençon agrupa os seus e os restos da “batalha” do condestável. Henrique V faz o mesmo e reconstitui-se em linha a 300 passos. Os dois exércitos vão enfrentar-se de novo. desta vez nas proximidades do castelo de Agincourt que se distingue por trás de uma linha de árvores. Durante longos momentos a escaramuça mostra-se incerta. Os arqueiros ingleses continuam a parecer temíveis. Vigilantes, penetram e ferem os adversários de flanco. os franceses possuem ainda a vantagem do número, mas incapazes de manobrarem, são mais do que nunca obrigados a combater de frente e pagam pelo grande peso dos seus equipamentos. O ímpeto abre-lhe passagem até ao monarca. Com um golpe de espada, afasta o duque de Gloucester, irmão do rei. Com outro, parte a coroa sobre o capacete do rei Henrique V. Mas os ingleses assaltam-no por todos os lados e ele cai mortalmente ferido. os seus fiéis, que o haviam seguido na ambição desesperada de matar o rei, partilham a sua sorte. Os franceses dispõem ainda de 15 000 homens capazes de combater. Mas já não têm chefes dignos desse nome para os conduzir ao inimigo. Todos os grandes feudais, capitães por direito, estão mortos, feridos ou prisioneiros. Perde-se uma possibilidade. O exército de Henrique V, abalado pelos sucessivos esforços dos cavaleiros franceses, poderia ser ainda repelido. Ninguém tem consciência de que a vitória é possível. O pânico dos milicianos nas retaguardas confirma que Agincourt será uma derrota. Henrique V esta senhor do campo de batalha e a barbárie vai enegrecer para sempre o seu sucesso. De fato, 4000 prisioneiros, todos nobres e mais ou menos feridos, estão nas suas mãos. De súbito os boatos da iminência de um novo ataque francês, ordena que os massacrem. Os arqueiros britânicos, a golpes de adaga, encarregam-se da vil tarefa antes de Henrique V mudar a sua decisão. Entretanto, cerca da metade dos prisioneiros estão já mortos. A batalha termina finalmente. Durou apenas três hora; 6000 cavaleiros franceses ficaram mortos, os conde de Venôme e de Richemont, com o marechal de Bocicaut, feridos, ficam prisioneiros. Há um outro prisioneiro famoso, Carlos d’Orleães, o poeta, pai de um futuro rei da França, Luis XII, ficará vinte e cinco anos em cativeiro na Inglaterra, onde cantará a pátria distante. Quanto aos ingleses, apenas tiveram 1600 mortos. A derrota de Agincourt, a 25 de Outubro de 1415, precipita a França naquilo que durante muito tempo foi qualificado nos manuais escolares de “vergonhoso tratado de Troyes” cedendo, em 1420, a França aos inglese. Para além destes incidentes políticos pode-se, evocando um feito de armas, perguntar as causas profundas deste naufrágio militar. Os cavaleiros franceses eram corajosos e não faltaram a essa virtude principal na arte da guerra: a coragem. Mas a coragem, e a história militar recorda-o, nem sempre basta para ganhar batalhas. Assim fica aberto o debate. Quem comandava em Agincourt? Ninguém e toda a gente, como se viu. Desde Felipe VI de Valois que a França esta dividida militarmente entre os marechais da França e os príncipes, estes com o título de tenentes do rei. Estas divisões repercutem-se no campo de batalha. Na ausência do rei, que é o caso em Agincourt, ninguém toma a direção, nem mesmo o condestável. Esta distorção do comando manifesta-se nos assaltos desordenados levados a cabo pelas diversas “batalhas”, na ausência de visão de conjunto da condução do combate. Este exército francês de Agincourt é apenas uma composição de acaso. Todos aqueles cavaleiros sonham com glória e saque, sem consciência de um desafio coletivo. Os milicianos comunais, recrutados para a ocasião, “armados de machados e maças”, têm falta de motivação e de profissionalismo. Os feudais não poderiam dar-lhes lugar. Os 6000 parisienses, bem armados, que poderiam rechaçar os arqueiros ingleses, foram recusados pelos duques de Bourbon e d’Alenço. O exército francês bateu-se sem infantaria. Arqueiros e besteiros foram mantidos em segunda linha e não contaram.

Os senhores da nobreza queriam para si só o ganho da vitória. mantiveram-se fiéis às velhas práticas mais agravadas. Com os anos, estes homens de armas, seguidos dos seus escudeiros e servos, não pararam de couraçar-se. A armadura pesa 25 Kg, o capacete de ferro sobre a cabeça, 5 Kg, as armas pelo menos mais 5 Kg. Assim vestido, o homem de guerra tornou-se uma verdadeira estátua de ferro. O cavaleiro, esmagado pelo peso,perdeu toda a mobilidade, quer combata a pé ou a cavalo. Para compensar, o seu cavalo abandonou boa parte da sua proteção e tornou-se vulnerável. Se o cavalo for morto sob ele, o cavaleiro atirado ao chão é incapaz de se erguer sozinho.

Agincourt, última batalha da Idade Média, túmulo da organização feudal, escreveram os historiadores. Carlos VII, o rei do exército permanente, Luis XI, rei do recurso aos contingentes estrangeiros, compreenderão que é necessário mudar de métodos. Antes deles, Joana, a Lorena, recordaria também que um exército implicava um impulso nacional e que a defesa do país a todos incumbia, nobres ou camponeses.

Fonte: Agincourt – Juliet Parker

Paulo Edmundo Vieira Marques

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Joana d’Arc – Herege Salvadora

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 Detalhe manuscrito final do século XV, França BNF.

Grande personagem da história medieval, talvez um dos mais importantes na minha opinião, Joana d”Arc nasceu em Domrémy, região da Loraine, França, em 1412, sendo um dos cinco filhos de Jacques d”Arc e Isabelle Romée. Como era normal à época, Joana ajudava nos trabalhos da casa e também auxiliava o pai no campo, principalmente com o gado.

Não sabia ler nem escrever. Crente, muito religiosa e menina séria, Joana era uma criança como as outras: brincava, cantava, dançava, sorria, mas chorava seguidamente. Até a sua morte foi uma pessoa emotiva e ponderada. Possuía uma personalidade muito forte, incondicional defensora da justiça. Intransigente mas ao mesmo tempo valente. Uma grande mulher.

Como os outros dos habitantes do campo e do vilarejo, a pequena Joana de Domrémy, ouvia falar seguidamente do estado calamitoso em que se encontrava o reino francês. Sabia da crueldade da guerra e da longa ocupação dos ingleses. Assustava-se seguidamente com os alertas quando os inimigos se aproximavam de seu povoado e fugiam para um refúgio mais próximo.

Ainda, diante das circunstâncias da ocupação inglesa, ainda menina tornou-se um soldado santo para alguns e a herege salvadora para outros. Desde o momento de sua morte tornou-se inspiração para milhares de historiadores, poetas e pintores. Cada um com a sua colocação e seu ponto de vista a respeito da heroína francesa contam uma história diferente.

Guiada pelo que ela achava eram vozes divinas, Joana acendeu nos franceses a força do maravilhoso cristão, da fé inabalável, e do aparecimento de um patriotismo popular alimentado pelo ódio inglês, ódio que subsistirá, ou reaparecerá.

Sua primeira vitória; persuadiu os compatriotas e o senhor Vaucouleurs, nobre francês e agente do Delfim, a dar-lhe uma espada e salvo conduto, roupas de homem e uma pequena escolta para se deslocar sem dificuldades, de noite, por vias afastadas, desde Champanha até à Touraine.

Na segunda vitória reconheceu o rei entre os cortesãos de Chinon; ultrapassou provas (mal conhecidas) que lhe foram impostas perante o Parlamento de Poitiers (e a constatação da sua virgindade feita pelas matronas) e conquistou a confiança e o respeito dos rudes soldados e dos seus comandantes, apesar de ser uma menina e mulher.

As vitórias seguintes ultrapassaram largamente as precedentes. Em primeiro lugar na qualidade de “chefe de Guerra”, mas apenas com algumas centenas de homens, atirou-se sobre Orleães cercada e libertou a cidade (8 de maio de 1429), chave de toda a penetração e ocupação inglesa nos Estados delfinais: vitória estratégica e moral considerável. Em seguida, e, sobretudo, decidiu o indeciso Carlos VII seguir o caminho de Reims para aí se fazer sagrar segundo os ritos, com o óleo de Santa Âmbula, e tornar-se assim o rei ungido com o Senhor e quase-padre recebendo o seu reino de Deus, mas eis quem, tranquilizando sem dúvida um monarca de quem a Donzela tinha sempre jurado a legitimidade humana e divina, lhe assegurou autoridade e prestígio. Para ele e, sobretudo para a Virgem se dirigiam a fidelidade e a fé populares, pois esta epopeia foi rapidamente conhecida e interpretada como um sinal do Céu.

“Em nome de Deus, devemos combatê-los. Teremos os ingleses em nossas mãos. Porque Deus nos enviou para puni-los. Hoje, o Delfim gentil terá a maior vitória que Ele conquistou durante muito tempo! Minhas vozes disseram-me que o inimigo vai ser nosso.”
Joana d’Arc

Em quatro meses, de abril a julho de 1419, Joana tinha conseguido o essencial e o inesperado. Por que é que Carlos VII se teria importado quando ela caiu, ferida, diante de Paris, foi presa em Compienha, vendida aos ingleses, julgada e condenada a fogueira por um tribunal composto com este intento? Ela tinha cumprido o seu intento, o rei já não precisava dela, e os ingleses ficaram encantados por se desembaraçarem daquela que tinham sempre considerado uma feiticeira, com enormes poderes.

Joana d’Arc morreu com 19 anos em Rouen, por perjúrio e heresia. Sua morte a fez muito poderosa. A partir do século XVI, na França, fez dela uma heroína nacional. Os homens de séculos subsequentes, principalmente os poetas e historiadores, levaram a sua história para suas peças, poemas e livros. Sua imagem foi exposta em várias estátuas. Ela tornou-se o espírito da França, a donzela, o santo guerreiro, o símbolo republicano e napoleônico para a oposição aos ingleses e para aqueles que tentavam invadir e ameaçar o território francês contra o estrangeiro. Na Segunda Guerra Mundial, Charles de Gaulle usou seu padrão, a sua marca, a Cruz de Lorena , como o símbolo da França Livre. Em 1920 ela foi canonizada como santa pelo Papa Bento XV.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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