A Investidura de um Príncipe no Século XII

Eis tal como é contada nas Chroniques des comtes d”Anjou et des seigneurs d’Amboise, a investidura de Geoffroy Plantageneta no Pentecostes, a 10 de junho de 1128, em Roen.
Espero que com essa pesquisa e análise, eu tenha a possibilitado de auxiliar o meu amigo e escritor Sergio Gallina em suas peregrinações investigativas sobre esse período para a confecção de sua próxima obra.

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Manuscrito século XII. Investidura príncipe, o saber e o conhecimento. BNF. Fla.43.

“Ao nascer do dia, segundo o costume relativo à recepção dos novos cavaleiros, preparou-se um banho. Quando o rei (da Inglaterra) soube pelo seu camareiro que Angevin e os que tinham vindo com ele haviam terminado as suas abluções* , mandou-os ir à sua presença. Após ter lavado o corpo e saído do lugar da ablução, o nobre descendente do conde de Anjou foi vestido com uma camisa de linho; por cima levou um traje tecido a ouro e uma cota curta cor de púrpura. Vestiu calções de seda e calçou sapatos com imagens de pequenos leões de ouro, inclusive no salto. Os seus companheiros, que esperavam receber com ele a cavalaria, estavam todos igualmente vestidos de linho e púrpura. Assim enfeitados, produzidos com tais adornos, aliando a brancura do lírio à púrpura da rosa, o futuro genro do rei (da Inglaterra) abandonou os seus aposentos privados e surgiu em público, junto com a sua nobre companhia. Foi então que trouxeram os cavalos e as armas; entregaram-nos a cada um, segundo as suas necessidades. A Angevin, entregaram um magnífico cavalo da Espanha, tão rápido, dizia-se, que ultrapassava amplamente na corrida os pássaros voando. Revestiram-no de uma incomparável de malha dupla, que nenhum golpe de lança ou dardo podia trespassar. Vestiram-lhe também calções de dupla malha de ferro. Ajustaram-lhe as esporas de ouro; penduram-lhe ao pescoço um escudo pintado dom dois pequeninos leões de ouro; na cabeça colocaram-lhe um capacete brilhante com numerosas pedras preciosas, tão bem temperado que nenhuma espada podia furá-lo ou amolgá-lo. deram-lhe uma lança de freixo**, com ponta de ferro do Poitou. Finalmente, entregaram-lhe uma espada retirada do tesouro real, com a marca antiga do famoso ferreiro Véland, que outrora a forjara com grande cuidado através de múltiplas operações e zelo. Assim armado, o nosso cavaleiro, que cedo viria a ser a flor da cavalaria, monta a cavalo com uma agilidade extrema. Que mais dizer? Nesse dia, em honra dos novos cavaleiros e em alegria, passou-se todo o tempo em exercícios guerreiros; o regozijo em honra dos novos recrutas duraram sete dias inteiros no palácio real”.

*Purificação pela lavagem de todo o corpo ou parte dele. As abluções parecem ser quase tão antigas quanto a própria adoração exterior. Moisés as ordenou, os pagãos as adotaram, e Maomé e seus seguidores fizeram que elas perdurassem: dessa forma elas têm sido introduzidas entre muitas nações, e compõem uma parte considerável de todas as religiões supersticiosas. Os sacerdotes egípcios tinham suas abluções diurnas e noturnas; os gregos, suas aspersões; os romanos, suas purificações e lavagens; os judeus, sua limpeza de mãos e pés, além de seus batismos; os antigos cristãos praticavam a ablução antes da comunhão, o que a igreja romana ainda conserva antes da missa, algumas vezes depois; os sírios, coptas, etc., têm suas lavagens solenes na sexta-feira da Paixão; os turcos, suas abluções mais e menos importantes, etc.
A purificação, entre os romanos, era uma cerimônia solene pela qual eles purificavam suas cidades, campos, exércitos ou o povo, depois de qualquer crime ou impureza. As purificações poderiam ser realizadas por fogo, enxofre, água ou ar; o último era aplicado por ventilação, ou abanava-se aquilo que seria purificado. Todas as classes de pessoas, com exceção dos escravos, poderiam realizar algum tipo de purificação. Quando uma pessoa morria, a casa devia ser limpada de uma maneira específica; pessoas recém casadas eram aspergidas com água, pelo sacerdote. As pessoas, algumas vezes, em suas purificações, corriam nuas várias vezes pelas ruas. Raramente havia algum ato realizado que no começo e final do qual alguma cerimônia não era exigida para purificarem-se e acalmarem os deuses.

**O freixo (Fraxinus excelsior) é uma árvore da família das Oleáceas, a mesma família a que pertence a oliveira.

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O Livro dos Príncipes, Bodleian Library- Manuscripts. Séc. XIV

Paulo Edmundo Vieira Marques

 

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