Perigos e Desafios de uma Peregrinação no Medievo – Santiago de Compostela

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 Catedral de Santiago de Compostela – Muitos historiadores e estudiosos acreditam  que no século XII, Compostela se sobressaiu como um destino de peregrinação. Em última análise, a maneira pela qual adquiriu tal proeminência pode continuar a ser uma questão de conjectura, a verdade é que as autoridades de lá, tanto secular e eclesiástica acreditava que eles estavam em uma posição para elevar o santuário de Santiago de Compostela a um estatuto de igualdade com o de Roma e Jerusalém.

As peregrinações à Santiago de Compostela, na Idade Média, na maioria das vezes, os seus viajantes faziam o seu percurso a pé. Árdua, perigosa, desconfortável, maravilhosa e gratificante trilha. No entanto, para certas etapas particularmente difíceis, como a travessia dos Pirenéus, era-lhes permitida alugar montadas, cavalos ou muares ou mulas, que se encontravam nos albergues situados no sopé da montanha. As etapas dos Pirenéus eram temidas porque os peregrinos receavam-se perder-se. Era por essa razão que os mosteiros e os albergues situados no caminho faziam tocar o sino a intervalos regulares.

O peregrino alojava-se em casa dos habitantes ou, para os mais abastados, na albergaria, mas os peregrinos, principalmente aqueles advindos do norte, não gostavam das hospedagens espanholas por motivos variados, mas não apreciavam objetivamente a comida e a pouca higiene. Os pobres do medievo recebiam muitas vezes hospitalidade num estabelecimento religioso. Não só cada abadia tinha, em princípio, um serviço de esmola para os viajantes mas a partir do século XII desenvolveu-se toda uma rede hospitalar destinada especialmente aos pobres e peregrinos.

Esses hospitais ou hospícios (na Idade Média, as duas palavras são sinônimas) fundados por iniciativa dos reis, de bispos ou de simples particulares, eram muitas vezes confiados a comunidades religiosas: cônegos de Santo Agostinho, templários, cavaleiros hospitalários de São João de jerusalém ou ordens específicas como a de Aubrac, fundada em fins do século XI para acolher os peregrinos, o de Santa Cristina no desfiladeiro de Somport e o de Ronceveaux no desfiladeiro com o mesmo nome. Num manuscrito do princípio do século XIII, chamado La Preciosa, gaba-se o bom acolhimento feito aos peregrinos: os banhos oferecidos aos que chegam, a boa comida (havia mesmo uma sala repleta de frutas: perincipalmente romãs e amêndoas. os cuidados médicos, a assistência aos moribundos.

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A  linda cidade de Conques, na França, um dos trajetos e paradas de descanso da peregrinação à Santiago de Compostela.

Na estrada, o peregrino não estava livre de perigos. Em princípio, a partida fazia-se na primavera ou no principio do verão, mas durava vários meses para os peregrinos do norte da Europa (em média seis meses, apesar de haver registros de recordes de 2 meses) e o viajante afrontava o frio e mau tempo. Mais insidiosos eram os perigos vindos dos homens: ladrões e salteadores de estrada. Era por isso que a maioria dos peregrinos viajava em grupo ou se agrupava no caminho, muitas vezes com viajantes da mesma região.

A este propósito, um dos milagres mais célebres de Santiago relata a História do enforcado tirado da forca: segundo a versão mais desenvolvida, um jovem que viajava com os pais para Compostela recusa, na albergaria, os avanços de uma criada. Despeitada, esta esconde-lhe na bagagem uma taça preciosa e depois vai denunciá-lo como ladrão. preso, o jovem é condenado à morte e enforcado mas Santiago apoia-o milagrosamente, e no seu regresso os pais encontram-no vivo.

O “jacquet” , em francês Santiago denomina-se Saint Jacques, daí o nome dado aos peregrinos franceses de jacquet, finalmente chega ao santuário de santiago de Compostela. A visita é gratificante, observa várias relíquias que a catedral contém, ajoelha-se diante da imagem de Santiago que esta no Altar-mor, depõe a sua oferenda num grande cofre segundo um ritual preciso. Muitos passam a noite rezando na igreja e o quadro pitoresco dado por um documento do século XII aplica-se também aos séculos seguintes: os peregrinos franceses, alemães, italianos, gregos, cantam e rezam juntos, cada um na sua língua, enquanto se ouvem os sons de toda a espécie de instrumentos musicais.

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As rotas e paradas de descando dos caminhos de Santiago de Compostela – The pilgrim routes to Santiago de Compostela

A concha é a prova e a proteção do peregrino penitente. Um certo números de peregrinos continuava a sua peregrinação até o Padrão, lugar onde, segundo a lenda, o corpo do santo teria dado à costa numa barca de pedra. Por vezes, aproveitam para apanhar conchas na praia que depois cosem no alforge ou nos fatos. A maioria compra de fato essas conchas ou reproduções delas em chumbo no adro da catedral. Foram encontradas mais de duzentas conchas em túmulos de peregrinos espalhados por toda a Europa.

No caminho de regresso, a concha atesta a execução da peregrinação e coloca o peregrino sob a proteção direta do apóstolo. Uma vez de volta a casa, o peregrino não se esquece de venerar a Santiago por ocasião do seu dia, sobretudo se fizer parte de uma das confrarias de Santiago que proliferam no século XIV e que permitem prolongar os efeitos da peregrinação reconstituindo a grande família dos que enfrentaram a estrada para ir venerar o santo.

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Existe evidência arqueológica para a associação da concha com a peregrinação compostelana, sob a forma de uma concha que foi descoberta dentro de um túmulo ao longo da nave norte da Catedral de Santiago. Devido à sua localização, é datado de até 1120. A primeira prova escrita para a concha como símbolo da peregrinação é um dos milagres incluído no Livro II do Liber Sancti Iacobi que é datada de 1106. Assim, podemos concluir que a concha foi usada como um símbolo da peregrinação a Santiago de Compostela, no início do século XII, e parece plausível concluir que a tradição manteve-se no decorrer dos tempos.

Paulo Edmundo Vieira Marques

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