Detalhe manuscrito final do século XV, França BNF.
Grande personagem da história medieval, talvez um dos mais importantes na minha opinião, Joana d”Arc nasceu em Domrémy, região da Loraine, França, em 1412, sendo um dos cinco filhos de Jacques d”Arc e Isabelle Romée. Como era normal à época, Joana ajudava nos trabalhos da casa e também auxiliava o pai no campo, principalmente com o gado.
Não sabia ler nem escrever. Crente, muito religiosa e menina séria, Joana era uma criança como as outras: brincava, cantava, dançava, sorria, mas chorava seguidamente. Até a sua morte foi uma pessoa emotiva e ponderada. Possuía uma personalidade muito forte, incondicional defensora da justiça. Intransigente mas ao mesmo tempo valente. Uma grande mulher.
Como os outros dos habitantes do campo e do vilarejo, a pequena Joana de Domrémy, ouvia falar seguidamente do estado calamitoso em que se encontrava o reino francês. Sabia da crueldade da guerra e da longa ocupação dos ingleses. Assustava-se seguidamente com os alertas quando os inimigos se aproximavam de seu povoado e fugiam para um refúgio mais próximo.
Ainda, diante das circunstâncias da ocupação inglesa, ainda menina tornou-se um soldado santo para alguns e a herege salvadora para outros. Desde o momento de sua morte tornou-se inspiração para milhares de historiadores, poetas e pintores. Cada um com a sua colocação e seu ponto de vista a respeito da heroína francesa contam uma história diferente.
Guiada pelo que ela achava eram vozes divinas, Joana acendeu nos franceses a força do maravilhoso cristão, da fé inabalável, e do aparecimento de um patriotismo popular alimentado pelo ódio inglês, ódio que subsistirá, ou reaparecerá.
Sua primeira vitória; persuadiu os compatriotas e o senhor Vaucouleurs, nobre francês e agente do Delfim, a dar-lhe uma espada e salvo conduto, roupas de homem e uma pequena escolta para se deslocar sem dificuldades, de noite, por vias afastadas, desde Champanha até à Touraine.
Na segunda vitória reconheceu o rei entre os cortesãos de Chinon; ultrapassou provas (mal conhecidas) que lhe foram impostas perante o Parlamento de Poitiers (e a constatação da sua virgindade feita pelas matronas) e conquistou a confiança e o respeito dos rudes soldados e dos seus comandantes, apesar de ser uma menina e mulher.
As vitórias seguintes ultrapassaram largamente as precedentes. Em primeiro lugar na qualidade de “chefe de Guerra”, mas apenas com algumas centenas de homens, atirou-se sobre Orleães cercada e libertou a cidade (8 de maio de 1429), chave de toda a penetração e ocupação inglesa nos Estados delfinais: vitória estratégica e moral considerável. Em seguida, e, sobretudo, decidiu o indeciso Carlos VII seguir o caminho de Reims para aí se fazer sagrar segundo os ritos, com o óleo de Santa Âmbula, e tornar-se assim o rei ungido com o Senhor e quase-padre recebendo o seu reino de Deus, mas eis quem, tranquilizando sem dúvida um monarca de quem a Donzela tinha sempre jurado a legitimidade humana e divina, lhe assegurou autoridade e prestígio. Para ele e, sobretudo para a Virgem se dirigiam a fidelidade e a fé populares, pois esta epopeia foi rapidamente conhecida e interpretada como um sinal do Céu.
“Em nome de Deus, devemos combatê-los. Teremos os ingleses em nossas mãos. Porque Deus nos enviou para puni-los. Hoje, o Delfim gentil terá a maior vitória que Ele conquistou durante muito tempo! Minhas vozes disseram-me que o inimigo vai ser nosso.”
Joana d’Arc
Em quatro meses, de abril a julho de 1419, Joana tinha conseguido o essencial e o inesperado. Por que é que Carlos VII se teria importado quando ela caiu, ferida, diante de Paris, foi presa em Compienha, vendida aos ingleses, julgada e condenada a fogueira por um tribunal composto com este intento? Ela tinha cumprido o seu intento, o rei já não precisava dela, e os ingleses ficaram encantados por se desembaraçarem daquela que tinham sempre considerado uma feiticeira, com enormes poderes.
Joana d’Arc morreu com 19 anos em Rouen, por perjúrio e heresia. Sua morte a fez muito poderosa. A partir do século XVI, na França, fez dela uma heroína nacional. Os homens de séculos subsequentes, principalmente os poetas e historiadores, levaram a sua história para suas peças, poemas e livros. Sua imagem foi exposta em várias estátuas. Ela tornou-se o espírito da França, a donzela, o santo guerreiro, o símbolo republicano e napoleônico para a oposição aos ingleses e para aqueles que tentavam invadir e ameaçar o território francês contra o estrangeiro. Na Segunda Guerra Mundial, Charles de Gaulle usou seu padrão, a sua marca, a Cruz de Lorena , como o símbolo da França Livre. Em 1920 ela foi canonizada como santa pelo Papa Bento XV.
Paulo Edmundo Vieira Marques
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