O Ideal da Cavalaria

O aparecimento da lenda arturiana, fermento da matéria da Bretanha e a sua ligação a uma realidade histórica, continua sendo um mistério. As críticas que vêem nela uma criação original do século XII ocultam o manifesto crisol céltico de que se encontram emanações ao longo das narrativas. Sendo a difusão da lenda céltica essencialmente oral, serviu de fundo comum à criação da lenda arturiana. A trama é simples: Artur é um soberano amado e respeitado na Bretanha, o melhor que jamis houve. Sua mulher, a bela Guenièvre, vive um amor ilícito com Lancelot du La. Ao lado do rei Artur reúnem-se os mais valorosos cavaleiros do reino; estão junto do senhor ao redor da famosa Távola Redonda. Nesta base simples tecem-se numerosas intrigas amorosas, aventuras incríveis que põem em cena os mais célebres cavaleiros: Gauvain, Lancelot, Perceval…nomes que ficam desde logo presos ao nosso imaginário. Enfrentam todos os perigos para salvarem o seu reino ou defenderem a sua dama, respeitando um novo ideal, mais espiritual, insuflado pelos autores do século XII. Estes, de fato enriqueceram consideravelmente a herança céltica, criando o célebre espírito cavalheiresco, ideal romanesco que se transformou na realidade em verdadeira ética que o cavaleiro deve respeitar. Para Chrétien troyes, o termo “cavalaria” é uma palavra-chave que se inscreve no centro da sua obra. Essa posição que se alcança pela investidura e que se torna uma qualidade coletiva já existia na Chanson 

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 Lancelot, Artur e Guiniévre, manuscrito séc. XII – França – British Libray.

No entanto, Chrétien de Troyes introduz uma nova noção fazendo dos seus heróis cavaleiros errantes, motivo que designa um guerreiro em perpétuo movimento, combatendo a cavalo. Estes cavaleiro são celibatários, não têm vínculos precisos e dedicam-se a viajar em busca de honra e de glória. São atraídos pelos lugares de festividade onder se organizam torneios. Nessa altura, tentam mostrar as suas proezas e aumentar a sua reputação, submetendo o maior número possível de adversários, sob o olhar admirador do elemento feminino. Estes cavaleiros viajantes muitas vezes com um senhor que dirige a tropa. Esta definição faz do cavaleiro um modelo complexo de conduta e de ação, obedecendo a um código íntimo de honra.

O cavaleiro errante encarna assim a coragem, a proeza, a lealdade de infalível, a fidelidade à palavra dada. tem que dar provas de temperança na batalha, de generosidade, tanto em relação aos amigos como aos inimigos, e de cortesia para com as mulheres. A liberalidade do cavaleiro que redistribui todos os seus bens às pessoas e aos pobres faz parte da sua fama. Os valores celebrados pela cavalaria são o fruto de uma longa educação. O bacharel, futuro cavaleiro, deve fazer a sua aprendizagem junto de um senhor de quem passas a ser o criado e depois o escudeiro. Aprende então tanto o manejo das armas como a ética de cavalaria. Uma vez investido, deverá demonstrar o seu valor atuando nos torneios ou participando das aventuras que surgem pela sua frente. Na procura de glória e reconhecimento, estes cavaleiros errantes vão realizar igualmente múltiplas buscas, das quais a mais prestigiosa é a do “GRAAL”>

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Cavaleiro Cavazzola com o seu escudero – 1518-1522.

Paulo Edmundo Vieira Marques 

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