A Caça na Mesa Medieval

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 Horae ad usum Romanum. Fonte: gallica.bnf.fr Biblioteca Nacional da França, do Departamento de Manuscritos, Latina 1156 B, fol. 4R.

Primeiramente a caça tem uma utilidade concreta evidente. Permite limitar proliferação de animais, particularmente dos prejudiciais à época. Se os camponeses não apreciam particularmente ver o bando de caçadores atravessar as suas terras, também não aceitam as raposas nas suas capoeiras nem os estragos dos javalis nas suas plantações. Caçar lontras que atacam os viveiros ou os lobos que atacam os rebanhos faz parte da função senhorial. Qualquer grande senhorio tem os seus caçadores de lontras e de lobos e o príncipe participa por vezes nessa caça administrativa, que não é forçosamente muito gloriosa. Assim, dessa maneira de caça, os lobos podem ser envenenados, encurralados em armadilhas (no cepo, no fosso ou com agulhas escondidas na isca). Em um manuscrito, nas contas da gruerie, direito real, de Borgonha mencionam para 1354 a captura de 11 lobos, 4 lobas e 34 lobinhos. Também se caça o lobo de uma forma, digamos, mais digna mas muito raramente. Assim quando a crise multiplica os baldios nos princípios do século XV, os lobos à procura de alimento recuam para as vilas. Consta em alguns escritos do início do século XV, que se lê lobos entrarem nas ruas da capital atacarem crianças indefesas. Grandes batidas foram organizadas para amenizar a proliferação dos lobos à Paris.

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 Livre de Chasse de Gaston Phébus. século XV. Paris, BnF, Département des manuscrits.

A caça fornece peles e sobretudo carne. As primeiras são muito úteis numa sociedade em que o aquecimento é praticamente inexistente. Pobres e ricos usam-na no interior de suas vestimentas, cada um escolhendo segundo as suas possibilidades e posses. A caça grossa fornece uma parte apreciável da alimentação da nobreza, se bem que os camponeses tinham a experiência e discernimento para escolher caças pequenas que tinham um potencial nutricional muito grande, esquilos, ratos do mato etc. Qualquer grande senhor tinha a possibilidade de alimentar a sua família, o seu palácio (servidores, clérigos ou pagens). Os camponeses e demais alimentam-se estritamente do necessário no que se refere a carnes, os vegetais, em compensação, são a alimentação preferencial juntamente com os cereais, o pão principalmente. No reinado do rei Carlos XVI, a montaria fornece todos os dias à mesa real duas a três peças capturadas nas florestas da bacia parisiense abundantes em caça. Como os solares, castelos adjacentes, abrigam cerca de oitocentos pessoas, compras de carne do açougue complementam o aprovisionamento. Outros cortes são menos ávidas de caça e reservam-na para ocasiões especiais. à mesa do arcebispo de Arles, só se consome cervo uma vez por ano. Além disso, nenhuma corte consome toda a caça apanhada. É uso dar-se uma parte considerável a aliados ou servidores de alto nível, assim como também se recebe muito frequentemente dos seus vassalos. Aos camponeses que auxiliam os possíveis esconderijos dos cervos maiores também recebem uma pequena parte dos pedaços menos apetitosos. O príncipe, dentro da sua corte, oferece o cervo e a caça grossa aos membros do conselho ducal, aos seus parentes, às grandes abadias e também ao clérigo. A caça materializa os laços de aliança ou de submissão no seio da sociedade política medieval.

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Oxford Bodley. Cervo. Unknown.  Inglaterra, ca 1225-50.

Paulo Edmundo Vieira Marques

 

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