Arquivo diários:agosto 13, 2016

Gente do Medievo – O Difícil Cotidiano de um Ferreiro do Século XI.

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É 1096, meu nome é Fray, um ferreiro em formação. Tenho 17 anos e tenho sido um aprendiz por cerca de dois anos. Eu sou o quinto filho, o caçula da minha família, e por questões financeiras meus pais não tiveram escolha, me colocaram no aprendizado de ferreiro. Mas ser um aprendiz não é um feito tão grande como poderia imaginar. Você pensaria que eu estaria aprendendo sobre a arte de ferreiro, mas para mim, tudo o que eu faço são inúmeras tarefas e o trabalho mais sujo. Não é só isso, sou maltratado diariamente pelos meus superiores, apesar de saber ler e escrever.

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Nós residimos em Londres. Nossa casa e a loja são perto do castelo para a conveniência dos cavaleiros que constantemente necessitam reparar as suas armaduras. Nesse exato momento várias pessoas adentram em nossa loja solicitando reparos em suas ferramentas, pois corre a notícia que o Rei William II ordenou a construção de paredões em volta da Torre de Londres para substituir a paliçada de madeira. Isso necessitará de instrumentos de ferro em bom estado.

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Iluminura de ferreiros trabalhando. Início do século XV. Nota-se a lady na forja.

Meu mestre disse que este trabalho é muito importante para a cidade, pois nós fornecemos muitas coisas para ela e o castelo. Por exemplo, um agricultor, o que ele pode fazer sem as suas ferramentas? Bem, ele ainda pode fazer toda a sua obra, mas seria menos eficiente e levaria mais tempo. Outro exemplo que ele me disse foi que sem as coisas que fazemos como poderíamos lutar em guerras ou batalhas contra inimigos sem armas e armaduras? Será que nós usaríamos os nossos punhos? É por isso que a arte de ferreiro causa certo impacto nessa terra. E de fato é verdade, para melhor ou para pior. Eu não sou o primeiro aprendiz que, o meu senhor, teve, ele é bem conhecido em toda a cidade e tem tido vários alunos que me antecederam. Eu ainda tenho um longo caminho a percorrer antes que eu seja libertado, espero que com a graça de Deus e os ensinamentos do meu mestre eu consiga sobreviver de maneira digna e produtiva.

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Bíblia Holkham datada nos anos 1330. Ferreiros e juntamente com uma mulher trabalhando.

Eu acordo todas as manhãs em torno das seis horas, antes do meu senhor acordar e deixo tudo preparado para o nosso longo dia de trabalho. Depois que nós, eu e o meu mestre, comemos pão e tomamos leite, começamos o trabalho. Paramos para o almoço e reiniciamos mais um dia longo, duro e exigente fisicamente. Enquanto estou no trabalho, na maioria das vezes o que eu faço é limpar os tanques e quebrar o carvão. Tem sido assim desde que eu comecei e eu acho que meu mestre não tem a menor intenção de mudar essa rotina.

Ao final do dia eu estou todo dolorido, mas depois ainda tenho que limpar toda a bagunça. Como, pode-se ver o trabalho de um ferreiro não é fácil, pois você é obrigado a trabalhar no calor da forja e sujar as mãos com o carvão, na verdade, não apenas as mãos, suas roupas ficam toda esfarrapada. Recebo um jantar, quando as minhas tarefas são bem executadas. Vou logo dormir, porque eu já sei o que está reservado para amanhã, com exceção dos domingos, que é quando a cidade inteira vai para a igreja. É o único dia em que eu posso fazer uma pausa de todo este trabalho estressante que eu tenho que lidar com os outros seis dias.

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Ferreiro no Trabalho – Blacksmith at work – Harley 6563 f. 68v.

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Ultimamente temos recebido inúmeros clientes de todos os cantos. A maioria deles são cavaleiros ou mercenários que nos procuram para reparar armas e equipamentos. Eles vêm de diferentes regiões, e a maioria deles disseram que estão se dirigindo para Jerusalém. Talvez isso se deva as Cruzadas que o Papa pediu. Parece que a dinastia seljúcida conquistou a Terra Santa e o Santo Pontífice quer lutar e recuperar o nosso território. Para motivá-los, o Papa disse que quem participar e ajudar nessa causa, ficaria livre das indulgências. Bem, a empresa está fazendo o melhor pela causa.

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Vitrais da Catedral de Chartres, França – Ferreiros no trabalho.

Fonte: Medieval Manuscripts Bodleian University

Tradução do Inglês para o Português:  Professor e Historiador Paulo Edmundo Marques

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