Guilherme Marechal: o melhor de todos.

Considerado o “melhor cavaleiro do mundo” pelo rei da França, Guilherme Marechal personificou a idade de ouro da cavalaria e fez uma carreira brilhante até se tornar regente do reino da Inglaterra em 1216.

Efígie de Guilherme Marechal na Temple Church, Londres, onde o guerreiro foi entrerrado em 1219

Guilherme nasceu em 1146 em uma família da pequena nobreza da Inglaterra. Seu pai, João, ocupava o cargo de marechal do rei, oficial responsável pela organização dos exércitos do monarca. Em meio à guerra de sucessão desencadeada pela morte do rei Henrique I, em 1135, o pai de Guilherme ficou ao lado de Matilde, a Imperatriz, na disputa que esta travou contra Estevão de Blois pela Coroa da Inglaterra.

Matilde, que saiu vitoriosa do conflito recompensou a lealdade de João oferecendo-lhe a mão de uma jovem de alta linhagem, Sibilla de Salisbury. O casal teve quatro filhos homens e duas meninas. Um deles era Guilherme, que ficaria conhecido como Marechal por causa do título do pai.

Na qualidade de filho mais novo, Guilherme não herdaria terras nem direitos. Em virtude disso, o pai o enviou para a Normandia, para que fosse treinado na arte da cavalaria pelo camareiro do rei da Inglaterra, Guilherme de Tancarville. O jovem Marechal tinha cerca de 20 anos quando foi sagrado cavaleiro.

Guilherme serviria seu tio materno, Patrício de Salisbury. Em sua primeira missaõ importante, participou de uma expedição encarregada de proteger Leonor da Aquitânia, condessa Poitiers e rainha da Inglaterra, enquanta esta fazia uma visita à França pa conter uma rebelião de seus vassalos. No caminho, o comboio foi atacado de surpresa pelo cavaleiro francês Guy de Lusignan e Patrício de Salisbury foi morto. Guilherme tentou defend~e-lo mas foi ferido e preso.

Impressionada com a sua coragem, Leonos da Aquitânia libertou o cativo em troca de reféns. O fato marcou o início de uma carreira brilhante. Guilherme marechal foi escolhido pelo rei Henrique II para cuidar da proteção e da educação do herdeiro do trono inglês, o príncipe Henriqie, o jovem.

Os cavaleiros, no entanto, necessitavam de treinamentos para futuros embates, e os torneios eram a base disso. Como não havia torneios na Inglaterra partiram para a França. Do outro lado do Canla da Mancha, Guilherme venceu quase todos os torneios, o que aumentou sua fama.

Janela Norte, vitral cofeccionado por Kempe e Co., em 1909. William Marshall, the great, primeiro Condre de Pembroke.

Mas no auge, porém, seus antigos e invejosos “parceiros” o acusaram de cometer adultério com Margarida, esposa do príncipe Henrique, o Jovem, que rompeu relações com o Marechal. O cavaleiro de disse caluniado e partiu em peregrinação rumo à atual Alemanha, mas seu senhor se arrependeu e o chamou de volta.

Mas a má sorte parecia perseguir Guilherme, Henrique, o jovem, morreu de repente em 1183. A sucessão ficou incerta, e Guilherme se juntou a Terceira Cruzada. Vitorioso voltou para a Inglaterra em 1187, Henrique II o integrou à corte e lhe concedeu o feudo de Cartmel, na região de Lancashire. Debilitsado e doente, o soberano lhe prometeu também a mão de Isabel de Clare, a “donzela de Striguil”, o que lhe garantiria a posse de 65 feudos. Mas Henrique II morreu antes de lhe conceder a senhoria.

Efígie Guilherme Marechal, Temple Curch, Londres.

O novo rei, Ricardo Coração de Leão, não gostava de Guilherme desde que este o fizera comer poeira em um torneio. Apesar disso, ao assumir o poder em 1189, honrou a promessa que fizera ao pai; Guilherme Marechal tinha 50 anos quando se casou com Isabel de Clare e se tornou conde Pembroke, entrando para a elite dos grandes senhores feudais.

Súdito fiel de Henrique II e de Henrique, o Jovem, Guilherme cumpriu as suas obrigações feudais com o novo soberano sem muito entusiasmo. Mas manteve relações com Felipe Augusto, rei da França, para poder manter suas propriedades na Normandia.

Manteve a mesma política quando João Sem terra se tornou rei da Inglaterra em 1199. Apesar disso, quando os barões ingleses se rebeleram contra o rei em 1215, Guilherme Marechal apoiou João Sem terra, Por causa disso, á beira da morte, o monarca o nomeou regente do reino em 1216.

Marechal sagrou cavaleiro o pequeno Henrique III, herdeiro do trono, então com 9 anos. Um ano depois, acabou com as pretensões do príncipe Luis da França de herdar a Coroa inglesa ao derrotá-lo na Batalha de Lincoln. Em reconhecimento à sua bravura, o próprio rei da França, Felipe Augusto, qualificou Guilherme como o “melhor cavaleiro do mundo”. Marechal tinha 70 anos na época e morreria dois anos depois.

Gravura, cavaleiro século XIII, fonte: Temple Church, Londres.


Ilustração atual William Marshall

Após a sua morte, Guilherme Marechal entrou para a história como uma encarnação dos tempos de ouro da cavalaria, como afirmou o medievalista Georges Duby “Na pessoa de Guilherme Marechal sobrevivia o século XIII de suas proezas, aquele que da exuberância tumultousa, aquele de Lancelot, de Gauwain, dos cavaleiros da Távola redonda. Ele poderia avançar tranquilamente em direção à morte, orgulhoso de ter sido o instrumento do derradeiro trinfo da honra contra o dinheiro, da lealdade contra o Estado, de ter levado a cavalaria a sua plenitude”.

Paulo Edmundo Vieira Marques

Historiador, Professor, Escritor Medievalista

Fonte: Guilherme Marechal – O Melhor Cavaleiro do Mundo, Georges Duby, Graal, 1995.

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