Abadia de Sainte-Foy, Conques – A Riqueza da Arte Românica no Caminho dos Peregrinos Rumo à Santiago de Compostela

A abadia de Conques foi fundada em 819 d.C., quando a sua área de construção era tomada por uma densa floresta e seu ambiente fornecia isolamento para oração e meditação. O local foi escolhido por um eremita chamado Dadon, que mais tarde fundou uma comunidade de monges beneditinos.

No mesmo ano em que a abadia foi fundada, as relíquias de São Tiago foram descobertas em Compostela, na Espanha. Fluxos de peregrinos logo começaram a chegar ao santuário. As rotas de peregrinação passaram por santuários menores ao longo do caminho, que logo ficaram ricos com presentes de peregrinos e turismo religioso.

Localizada em Conques, Aveyron, França, a Igreja de Sainte-Foy (Santa Fé) é uma importante igreja de peregrinação a caminho de Santiago de Compostela, no norte da Espanha. É também uma abadia, o que significa que a igreja fazia parte de um mosteiro onde os monges viviam, oravam e trabalhavam. Apenas pequenas partes do mosteiro sobreviveram, ainda estão de pé, mas a igreja permanece praticamente intacta. Embora igrejas menores estivessem no local a partir do século VII, a Igreja de Sainte-Foy foi iniciada no século XI e concluída em meados do século XII. Como uma igreja românica, possui uma nave abobadada, com arcos no interior.

Parte frontal da Abadia de Sainte-Foy ao amanhecer
Igreja de Sainte-Foy, Conques, França, c. 1050-1130

É conhecida como igreja de peregrinação, porque muitas das grandes igrejas ao longo do caminho para Santiago de Compostela assumiram uma forma semelhante. Mas cabe ressaltar, também, que se tratava de uma igreja de devoção dos templários. Ponto e local de refúgio dos cavaleiros para adquirir suprimentos para a sua proteção e dos peregrinos que para Compostela se dirigiam. A principal característica dessas igrejas era o plano cruciforme. Esse plano não apenas assumiu a forma simbólica da cruz, mas também ajudou a controlar a multidão de peregrinos. Na maioria dos casos, os peregrinos podiam entrar no portal ocidental e depois circular pela igreja em direção à abside no extremo leste. A abside geralmente continha capelas menores, conhecidas como capelas radiantes, onde os peregrinos podiam visitar os santuários dos santos, especialmente o santuário de Sainte Foy. Eles poderiam circular pelo ambulatório e sair do transepto ou travessia. Esse projeto ajudou a regular o fluxo de tráfego em toda a igreja, embora a intenção e o uso efetivo desse projeto tenham sido debatidos.


Plano Frontal, Igreja de Sainte-Foy, Conques, França, c. 1050-1130

Planta Plana, Igreja de Sainte-Foy, Conques, França, c. 1050-1130

Quando um peregrino chegava a Conques, provavelmente se dirigia à igreja para receber bênçãos. No entanto, antes de entrarem, uma mensagem importante os esperava nos portais: o Juízo Final. Esta cena é retratada no tímpano, o relevo semi-circular central esculpido acima do portal central.

No centro, está Cristo como juiz. Ele se senta entronizado com a mão direita apontando para cima para os salvos, enquanto a mão esquerda gesticula para os condenados. Essa cena teria servido como um lembrete para aqueles que entravam na Igreja de Sainte-Foy sobre as alegrias do céu e os tormentos do inferno. Imediatamente à direita de Cristo estão Maria, Pedro e, possivelmente, o fundador do mosteiro, bem como uma comitiva de outros santos.

Último Julgamento, Juízo Final, tímpano, Igreja de Sainte-Foy, França, Conques, c. 1050-1130,

Abaixo desses santos, uma pequena arcada é coberta por um frontão, destinado a representar a Casa do Paraíso. Estes são os abençoados, aqueles que foram salvos por Cristo e que permanecerão no Paraíso com ele por toda a eternidade. No centro, encontramos Abraão e, acima dele, notamos a mão estendida de Deus, que acena uma Fé Santa ajoelhada (veja a imagem abaixo).

Os abençoados no paraíso, com a mão de Deus acima de acenar a Saint Foy (Santa Fé) (detalhe), Último Julgamento do Tímpano, Igreja de Sainte-Foy, França, Conques, c. 1050-1130
Os portões do céu e a boca do inferno (detalhe), Último Juízo Final, Igreja de Sainte-Foy, França, Conques, c. 1050-1130.

Dentro do inferno, as coisas não parecem muito boas. É uma cena caótica e desordenada – observe como parece diferente do lado direito do tímpano. Há também um pequeno frontão no registro inferior do inferno, onde o diabo, exatamente em frente a Abraão, reina sobre seu reino aterrorizante.

O diabo, como Cristo, também é um juiz entronizado, determinando os castigos que aguardam os condenados de acordo com a gravidade de seus pecados. Em particular, à esquerda do diabo está um homem enforcado. Este homem é uma referência a Judas, que se enforcou depois de trair a Cristo. Logo depois de Judas, um cavaleiro é jogado no fogo do Inferno e, acima dele, um homem guloso é pendurado pelas pernas pelos seus pecados. Cada um desses pecadores representa um tipo de pecado a ser evitado, do adultério à arrogância, até ao uso indevido dos ofícios da igreja. De fato, este portal não era apenas um aviso para os peregrinos, mas também para o clero que vivia em Conques.

A Igreja de Saint Foy em Conques fornece um excelente exemplo de arte e arquitetura românica. Embora o mosteiro não sobreviva mais, a igreja e o tesouro permanecem como um lembrete dos rituais da fé medieval, especialmente para os peregrinos. Ainda hoje, as pessoas fazem uma longa caminhada até Conques para prestar respeito a Saint Foy. Todo mês de outubro é realizada uma grande celebração e procissão para Saint Foy, continuando uma tradição medieval até a devoção atual.

Fachada da Abadia de Sainte-Foy, Conques, Aveyron, França.

Paulo Edmundo Vieira Marques

Historiador, Professor, Escritor Medievalista.

Este artigo é dedicado ao grande professor e meu querido amigo Francesco De Sio Lazzari (Canuto Decano). Grande mestre da maravilhosa Nápoles.

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