Abadia de Fontfroide – O Retiro dos Anjos.

 

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Depois de um dia muito frio e chuvoso o dia seguinte, 28 de abril de 2015, amanheceu perfeito, céu azul, friozinho gostoso, 9 graus e um sol rejuvenescedor. Eu pressentia que algo maravilhoso nos esperava. Seguimos em direção à Narbonne, sudoeste da França, quase na fronteira espanhola. A vegetação e os aspectos das paisagens eram muito parecidos com as regiões próximas ao Mediterrâneo. Ao avistarmos a Abadia o espanto de alegria foi geral. Lugar extremamente preservado, com restaurações muito bem estabelecidas e estudadas e de uma medievalidade ímpar. Realmente todos ficaram impressionados com a beleza do lugar. Abbey Fontfroide ou ou l’Abbaye Sainte-Marie de Fontfroide está localizado no Maciço des Corbières, perto de um riacho. É esta fonte de água fresca (Fons frigidi) que deu origem ao nome do lindo mosteiro. Os braços da abadia também representam uma fonte. Logo quando se entra, no pórtico, somos informados que, originalmente, no auge, tal complexo tinha 24 celeiros e 30 000 hectares de terra. O sol bate no meu rosto e eu sinto uma sensação de paz e de tranquilidade. Se pudesse, se permitissem eu levar o meu ipad para dentro da abadia ficaria anos na companhia dos monges e anjos que creio ainda habitam esta maravilha medieval.

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Adentro às galerias e ao claustro da Abadia e sou invadido por vozes que anunciam que sou bem vindo e que estou em um lugar de muitos conflitos mas que agora mantêm a paz. Caminho para todos os cantos e recantos e quanto mais caminho mais feliz me sinto. Sinto que sou acompanhado por anjos. Apesar de ser um cientista, um historiador, pressinto a companhia agradável. Enfim pode ter sido um momento de emoção extrema. Mas gente, reitero, creio eu eles estavam lá.

Dois monges de Fontfroide, em particular, ganharam grande notoriedade: Arnaud Nouvel foi nomeado cardeal, reitor da igreja e legado papal, No século XIV um dos seus abades, Jacques Fournier, foi eleito papa sob o nome de Bento XII.

Em 1348, a peste negra atingiu Abbey Fontfroide e três quartos dos monges morreram. Em 1476, o mosteiro rico foi colocado sob prebenda, nome utilizado ao rendimento que recebe o pastor, o bispo e outros cargos eclesiásticos. Nos séculos 17 e 18, abades de Fontfroide reconstruíram muitos dos edifícios monásticos e acrescentaram novos recursos, incluindo um laranjal, jardins com terraços, uma parede imensa no pátio, e um grande portão.

Os últimos dos monges deixaram Fontfroide em 1791, mas a abadia não foi danificada e nem sofreu avarias durante a Revolução Francesa. O último abade de Frontfroide, o santo Père Jean, morreu em 1895. Uma lei de1901 pôs fim às comunidades monásticas, e os últimos monges fugiram para a Espanha. A abadia permaneceu desabitada até 1908, quando a propriedade foi vendida em leilão para aqueles que desejavam preservar sua arte e arquitetura. Torna-se privada com fins lucrativos mas com finalidade primeira de preservar um patrimônio tão caro à França.

Sob esta nova propriedade, extensa restauração foi realizado: vitrais foram montados, ferro forjado decorativo preencheu as aberturas das janelas, e estátuas e relevos foram adicionados às paredes e jardins. Em 1990, um jardim de rosas de mais de 3.000 roseiras foi plantada.

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A Abadia de Fontfroide é um excelente exemplo da cidade monástica prescrita pelos santos São Bento e Bernardo, em que tudo o necessário para uma vida simples é acessível dentro do complexo monástico.

Os vários edifícios, assim, proporcionam espaço para a oração (a igreja e o claustro), para o trabalho (o scriptorium e os jardins) e para o descanso (os dormitórios), bem como comida e bebida para sustentar os monges e irmãos leigos e principiantes.

O complexo monástico fechado de Fontfroide consiste em duas áreas principais: um para os monges e um para irmãos leigos e principiantes. A seção reservada aos monges é a mais próxima da igreja e aos claustros, enquanto a seção de irmãos leigos é aquela que se abre para o mundo exterior.

Os edifícios da abadia estão dispostos em torno do fluxo de água, o que gera a necessidade da irrigação para os jardins, os claustros, o moinho de milho e os viveiros de peixes.

Os antigos edifícios da abadia foram completamente restaurados e transformados em área de visitantes, que inclui um restaurante, uma loja de presentes, e uma adega.

Linda Abadia frequentemente ponho-me a pensar nos sussurros que escuto em meu escritório, tenho certeza que são os meus amigos anjos de Fontfroide me chamando para deliciar-me da água da Fons Frigidí, doce lugar onde o isolamento e solidão creio ajudaria em muito aos de boa vontade para fazer um mundo melhor. Até a volta.

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Paulo Edmundo Vieira Marques

Professor, Historiador, Escritor Medievalista.

Este artigo é uma homenagem a minha grande amiga Doutora Gislaine Machado, parceira de viagem e grande incentivadora dos estudos medievais.

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