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Uta von Ballenstedt – A Misteriosa Beleza do Medievo Saxônico

Uma das estátuas mais intrigantes do período medieval mostra-nos uma dama esculpida por um mestre desconhecido. Postura emblemática nos atrai de sobremaneira. Marcantes traços nos levam a pensar e refletir quem era esta mulher. Inicialmente a instigante madame Uta, conta quase 800 anos de idade.

Uta de Ballenstedt nasceu em meados do ano 1000 e morreu em 23 de outubro de 1046, foi marquesa de Meissen de 1032 ou 1038 a 1046 como a esposa de Ekkehard II de Meissen. É conhecida por estar representada na estátua feita pelo Mestre de Naumburg.

Era filha do Conde Adalberto I de Ballenstedt e de Hida, filha de Odo I da Marca Oriental Saxã. Ela era a irmã de Esico de Ballenstedt, fundador da Casa de Ascânia. Recebeu uma excelente educação literária a partir dos seis ou sete anos pelas freiras da Abadia de Gernrode, fundada pelo seu tio-avô, o conde Gero. A tia-avó da bela Uta de Ballenstedt, irmã de Gero, foi responsável pela educação da princesa quando criança.

Por vontade do pai, Uta se casou em 1026 com Ekkehard II de Meissen para fortalecer sua influência ao leste de seu território. Meissen havia sido fundado em 965 por Otão I, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. A marquesa foi famosa pela sua força e coragem, tendo construído a Catedral de Naumburg. Contudo, não teve filhos e após a morte de seu marido a dinastia de Ekkehardienne chegou ao fim.

Depois da viuvez, a residência da senhora Uta variava entre a Abadia de Gernrode, onde sua irmã Hazecha era a abadessa, e a corte da Imperatriz Inês da Aquitânia, onde morreu em 1046.

Uta de Ballenstedt e seu marido Ekkehard II

Há mais de 700 anos Uta, de Ballenstedt, observa de cima os visitantes da Catedral de Naumburg: muda, misteriosa, com a gola do manto levantada, orgulhosa, inatingível e, no entanto, vulnerável.  Ao lado dela, no grupo formado por um total de 12 familiares, está o esposo, Ekkehard II. Ao lado do irmão, ele é considerado o patrono desse edifício litúrgico entre os estilos românico tardio e gótico, preservado até hoje.

 O “Mestre de Naumburg” não esculpiu santos na pedra, mas sim nobres, aos quais deu um gestual e almas próprias. Com essas figuras de arenito em tamanho natural, ele concluiu sua principal obra em 1249, após dez anos de trabalho.

Os historiadores também estão seguros de que o escultor e arquiteto viveu 200 anos depois dos patronos que retratou. Mas é como se os tivesse conhecido de perto: jamais antes um artesão-artista produzira figuras tão expressivas e exatas nos detalhes.

 A biografia do próprio escultor, por outro lado, permanece envolta em mistério: nem mesmo seu nome chegou até nosso tempo. Porém tudo indica que essa obra de arte total – que é a catedral da cidade na Saxônia-Anhalt – não se deva a um único artista solitário. Mais provável é que um grupo de artesãos tenha primeiro sido formado e instruído no norte da França, sob a supervisão de um “mestre”, para mais tarde atuar em outras partes da Europa.

Seu estilo de retratar indivíduos em três dimensões – sensacional na época – também se encontra nas catedrais francesas de Reims, Amiens, Noyon, Chartres e Metz. Em seguida, o Mestre de Naumburg deve ter se mudado para Mainz. Supõe-se que também as célebres estátuas da Catedral de Meissen sejam obra sua. É nessa cidade da Saxônia que seus rastros se perdem definitivamente em 1250.

Catedral de Naumburg, Alemanha

O mestre também deixou sua marca artística no portão que dá acesso ao coro leste da Catedral de Naumburg. Trata-se de uma imagem de Jesus pregado à cruz, no rosto uma dor imensa, ao seu lado Maria verte lágrimas amargas. O crucifixo não se encontra em local inatingível para o visitante, mas sim quase à altura dos olhos. Segundo os especialistas em história eclesiástica, assim está caracterizada a presença terrena do Filho de Deus tornado homem, em toda sua dor e sofrimento.

A beleza da estátua de Uta de Ballensdetd nos remete a essência do trabalho do Mestre de Naumburg mas além disto nos faz refletir o olhar, a postura, a imposição desta dama que é um ícone do medievo.

Paulo Edmundo Vieira Marques – Professor, Historiador e Escritor Medievalista.

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