Arquivo mensais:setembro 2017

Semur-en-Auxois – A Cidade Criada Por Hércules

Construída sobre uma pedra de granito rosa, ao lado do rio Armançon, Semur-en-Auxois é uma cidade medieval por excelência. De acordo com a lenda, foi construída por Hércules em seu retorno da Espanha, no caminho para completar os doze trabalhos que lhe foi incumbido para se tornar um Deus. Para manter esta ideia “grega” de cidade, foi considerada e estimulada a ser chamada pela elite intelectual que nela residia de “a pequena Atenas da Borgonha” no decorrer do século XVIII. Basta atravessar as suas portas para nos transportarmos até o século XV.

É em 606, na carta de fundação da Abadia de Flavigny-sur-Ozerain, que se encontra o primeiro traço escrito sobre Semur, equivalente a muro, muralhas (paredes antigas) enfatizando assim o caráter defensivo do local. Na Alta Idade Média, o núcleo de habitantes primitivos é agrupado em torno dos muros construídos diante do enorme granito. No século XI, Semur tornou-se a cidade-chefe do município de Auxois, sendo integrada ao ducado da Borgonha. Ao longo dos séculos, Semur desenvolveu-se e, em 1276, tornou-se comuna e se beneficiou com as concessões e benefícios dados pelo duque da Borgonha Robert II. O monarca gostava muito da pequena fortaleza medieval e admirava e até acreditava que o vilarejo fora criado por Hércules.

A cidade assumiu toda a sua importância em meados do século XIV, na época da Guerra dos Cem Anos, quando o Duque Philip, “o ousado”, decide reforçar as defesas naturais do local construindo torres de vigília e proteção, um forte, em um lugar chamado Donjon situado entre o distrito do castelo e o bairro que se desenvolveu em torno do Igreja de Notre Dame.

A vida religiosa também era intensa, com duas paróquias e assentamentos monásticos que cresciam constantemente ao longo do tempo.

Semur-en-Auxois no vale do Armançon uma cidade extremamente fortificada no Auxois, era fiel aos Duques da Borgonha, a ponto de se opor à autoridade real. Uma posição que pagou um preço elevado quando, em 1478, as tropas francesas de Louis XI investiram contra a cidade e a ocuparam.

A cidade perdeu sua vocação defensiva para se tornar a capital administrativa de Auxois, em 1790, tornando-se cidade-chefe do distrito de Semur. Permanece até 1926, quando a sub-prefeitura é transferida para Montbard.

Em termos turísticos é um dos destinos mais concorridos da região atravessada pelo rio Armançon. Suas ruas rústicas com calçamentos medievais nos transportam a vários pontos inesquecíveis. O medievo pulsa.

Seguindo rumo a zona mais alta da cidade chegaremos à chamada Porta do Relógio, que nos leva a uma praça repleta de monumentos históricos que nos deixam boquiabertos tamanha beleza. As Quatro Torres é outro local para se visitar e se encantar pois as estruturas originais do Castelo de Semur ainda permanecem intactas em especial a torre de estilo renascentista em forma de tabuleiro de xadrez.

Cruzando a Ponte Joly que atravessa o rio Armançon podemos divisar as torres e obter excelentes fotografias panorâmicas da cidade, um lugar realmente de conto de fadas. Para um historiador, um museu a céu aberto.

Conhecer a Igreja de Notre Dame levantada no século XIII é uma recompensa para quem ama a arte gótica, por sinal toda a praça principal de Semur nos leva ao auge do gótico. Também vale a pena visitar o Convento dos Jacobinos, construído no século XVII que guarda em seu interior o Museu de História de Semur.  Enfim atrativos não faltam para esta linda cidade medieval, criada, segunda a lenda, por Hércules. Os amantes do medievo agradecem a presença do herói grego em seu contexto. Até um dia linda cidade.

Igreja de Notre Dame de Semur-en-Auxois, maravilha gótica.
 
Paulo Edmundo Vieira Marques – Professor, Historiador e Escritor Medievalista

 

Post Footer automatically generated by wp-posturl plugin for wordpress.

Villefranche-de-Rouergue – Bastides de Rouergue, a Nova Cidade

Villefranche-de-Rouergue é a primeira “cidade nova” fundada por Alphonse de Poitiers em 1252. Esta inovação estrutural das cidades marcou a floração e progresso da região de Midi-Pyrénées durante a Idade Média.

A bastide alfonsina é criada no coração de um vale, num território com abundantes recursos naturais (pedreiras, veias de prata, terras aráveis), e terras agrícolas complementares. Sua vocação é reagrupar uma população dispersa para organizar e criar trocas econômicas favoráveis ao seu fundador e seus habitantes. A bastide de Villefranche-de-Rouergue adota um plano urbano regular, composto por uma série de ilhotas de casas em faixas, que reúnem uma rede octogonal e ruas longitudinais (principais) e transversais (secundárias). Quatro das oito principais ruas se conectam à Praça Notre-Dame, centro de instituições comerciais, políticas e religiosas. Este grande quadrado alinhado com estantes e feiras é aonde o mercado ocorre, e é dominado pela Catedral de Notre-Dame.

As ruas de Villefranche me transportou para a Idade Média, literalmente. Ruelas estreitas de uma peculiaridade marcante. Portas antigas e lindas, janelas decoradas, lojas convidativas, pessoas felizes, enfim, minha mente guarda com carinho os passos que percorri do ônibus até a praça central. Inesquecíveis.

Se você quiser ter um bom exemplo do que é uma bastide*, você encontra em Villefranche de Rouergue, uma vila de origem medieval que foi criada em 1252, e agora tem cerca de 8.500 habitantes, no departamento de Aveyron, no Midi-Pyrénées.

Localizado nas margens do rio que dá seu nome ao departamento, a bastide de Villefranche de Rouergue é organizada em torno da praça de Notre Dame, o ponto central desta cidade, onde se encontra a abadia de Notre Dame, um edifício que começou a ser construído 1260 e foi concluído no final do século XV.

Esta praça é também o local para o tradicional mercado das quintas-feiras, que estabelece em Villefranche, neste dia da semana, uma ótima atmosfera de visitantes atraídos por bancas de rua.

A melhor maneira de ver a bastide de Villefranche de Rouergue é escalar o campanário da abadia com sua escadaria circular estreita de 163 degraus.

Do ponto de vista da torre você tem uma vista esplêndida da bastide, com a praça Notre Dame em primeiro plano. Se você visitar a cidade numa manhã de quinta-feira, a partir daí você pode ver as telas coloridas que cobrem as bancas do mercado, criando uma imagem muito peculiar.

Na minha visita em abril de 2015, não pude ver a feira pois a excursão não visitou a cidade em uma quinta-feira. Mas andando pela praça tive a oportunidade de admirar sua bela configuração medieval e desfrutar das mais variadas perspectivas arquitetônicas da linda cidade. Todo o lugar desperta-nos uma sensação convidativa, um “não quero mais sair daqui”.  A cidade nos intriga positivamente. Também a partir da torre da igreja você pode ver algumas edificações que se destacam na cidade, bem como a aglomeração de edifícios e os becos estreitos que mostram como foi configurada a vila medieval a partir do século XIII. Apesar de contratempos a cidade me cativou. Um dia ainda espero retornar a bastide, de preferência em um dia de feira. Ahh! Doce Villefranche, sinto saudades.

*É um tipo de cidade medieval fortificada que foi desenvolvida especialmente no sul da França a partir do século XIII, que com seu layout urbano especial proporcionou segurança aos seus habitantes e permitiu o desenvolvimento de atividades comerciais.
As bastides eram aldeias fortificadas com casas muito agrupadas pela estreiteza de suas ruas, que estavam dispostas em torno de uma praça central, e que se transformaram em lugares realmente fortes que permitiram defender-se dos ataques dos bandidos.
Atualmente, na França estão catalogados 415 bastides. Todas no sudoeste do país, distribuídas em quatro departamentos.
Paulo Edmundo Vieira Marques – Professor, Historiador e Escritor Medievalista.
Este texto é uma homenagem a minha grande e querida amiga Maria Cristina Aguado Casal. Mulher de extrema sensibilidade e generosidade. Abraço e obrigado por ser minha amiga

Post Footer automatically generated by wp-posturl plugin for wordpress.