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Castelo de Burg Eltz – O Parceiro das Nuvens

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Uma joia nas montanhas. Guardião do Vale. Mágico privilégio de quem o fite. O céu é companhia de suas exuberantes paredes. O Castelo Eltz é esplêndido, espetacular! Um dos castelos mais bem situados e mais bem preservado da Alemanha e que está nas mãos da mesma família há 800 anos. Está localizado em um cenário maravilhoso, dentro de um “abismo”, rodeado por uma paisagem montanhosa, atraente e majestosa, como um castelo de contos de fadas.

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A construção de castelos na Idade Média começou nos séculos IX e X. Até este período, as construções eram protegidas por muros e cercas, predominantemente feitas de madeira. Entretanto, a ideia de proteção a partir de muros de pedras deu novo impulso à arte de erguer castelos. É neste contexto que surgiu o Burg Eltz. Sua localização é estratégica, já que fica entre o rio Mosel, uma das mais importantes rotas de comércio, e a região do Eifel.

 O Burg Eltz, construído no topo de uma montanha, fica a 70 metros acima do nível do rio que deu nome à fortaleza (Eltz). A construção levou em consideração a geografia do terreno. Diferente de outros castelos da Alemanha, alterados com o tempo, o Eltz permanece intacto há séculos graças à diplomacia de seus proprietários, que preferiram as palavras à guerra.

O Castelo de Eltz (em alemão Burg Eltz), situado por trás de Wierschem, nas proximidades da cidade de Münstermaifeld, no Estado da Renânia-Palatinado, é um dos mais imponentes, intrigantes  e belos castelos da Alemanha. Está situado no vale do Eltz, na separação de Maifeld com a frente do Eifel. Juntamente com o Schloss, o Burg Eltz é a única construção na região Maifeld-Eifel que nunca foi capturada ou destruída, tendo sobrevivido intacto às guerras dos séculos XVII e XVIII, assim como às convulsões sociais causadas pela revolução francesa.

A história completa da construção do castelo se estende por mais de 500 anos. Todos os estilos, do românico ao barroco, se fundem e formam um conjunto simétrico. No total, o que o visitante observa é um grupo de torres “residenciais” agrupadas ao redor de um pátio interno. Mais de 100 integrantes da família proprietária do castelo habitaram os mais de cem quartos.

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Durante o período romântico, com o interesse voltado às coisas medievais, o conde Karl zu Eltz se ocupou em restaurar o castelo da família. O trabalho, começado em 1845, seguiu até 1888. Na restauração, a arquitetura existente foi respeitada. Um verdadeiro e genuíno trabalho de renovação e restauração. O Burg Eltz se manteve como propriedade de uma mesma família por mais de 800 anos.

Os atuais proprietários são a 33ª geração da família Eltz. Para ter acesso ao castelo, é preciso descer uma ruela, que se torna uma cansativa subida após a visita ao Eltz. E como os locais eram muito religiosos, transformaram o trecho em uma Via Crucis, com uma estação a cada 200 metros.

 Parece que o interesse estratégico deste local no curso inferior do Elz (ou Eltz), afluente do Mosel, terá sido um fator determinante para a construção desse primeiro castelo-forte, provavelmente no início do século XII. Foi, assim, elevado junto do referido rio – desde sempre uma das vias comerciais mais importantes – e num lugar onde o acesso ao fértil Maifeld era dos mais fáceis. A localização permitia vigiar de dois lados o acesso ao vale do Eltz, assim como a via que ligava o Maifeld ao Mosel.

O nome Eltz aparece pela primeira vez referido numa carta de doação de Frederico Barbarossa, na qual “Rudolphus de Elze” aparece como testemunha. A tardo-românica torre de menagem Platt-Eltz e vestígios das casas residenciais românicas estão preservadas até hoje.

O pico rochoso de forma elíptica, com 70 metros no seu ponto mais elevado, banhado em três lados pelas águas do Eltz, forma as fundações do conjunto do palácio fortificado que obedecendo às contingências naturais está construído numa planta oval. Isto causou, em parte, o esquema invulgar dos espaços individuais.

Antes de 1268, os irmãos Elias, Wilhelm e Theoderich procederam à primeira divisão do património, ou seja, à divisão do castelo e dos domínios que dele dependiam. Foi então que apareceram três linhagens principais da Casa de Eltz, as quais tomaram os nomes dos seus brasões – Eltz do Leão de Ouro (Eltz vom goldenen Löwen – Kempenich), Eltz do Leão de Prata (Eltz vom silbernen Löwen –Rübenach) e Eltz dos Chifres de Búfalo (Eltz von den Büffelhörnern – Rodendorf) – que ainda hoje se refletem nos nomes das diferentes partes do castelo. Desde então, o Burg Eltz foi, tipologicamente, um castelo detido pelos co-herdeiros, onde viviam juntas várias linhagens da Casa de Eltz numa comunidade de herança e de habitação. “Cartas de paz do castelo” asseguram uma co-habitação pacífica entre os co-herdeiros, fixando os seus direitos e deveres, assim como as modalidades de administração e manutenção do castelo. A mais antigas dessas cartas, que foi conservada, data do ano de 1323. Os co-herdeiros (“Ganerben”, em alemão antigo“ganarpeo”) são membros de uma comunidade de herdeiros que co-habitam em um bem herdado dividido. A comunidade “de pote e de arroto” não era a regra. Os co-herdeiros viviam separadamente com base na divisão do usufruto.

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 No início século XIV, o príncipe-eleitor de Trier, cavaleiro Balduin von Luxemburg, tio de Carlos IV, tratou de consolidar a unidade, a paz territorial do Eleitorado de Trier em torno das cidades de Trier, Coblença e Boppard. A nobreza imediata livre, rica e comn posses, opôs-se à política territorial do príncipe-eleitor. Foi então que, no dia 15 de junho de 1331, as comunidades de co-herdeiros dos Burg Waldeck, Burg Scönecken, Ehrenburg (ambos, os três situados no Hunsrück) e Burg Eltz concluíram uma aliança defensiva e ofensiva. Além das guarnições dos seus castelos, concordaram em levantar contra o príncipe eleitor um total de 50 cavaleiros fortemente armados.

No mesmo ano, Balduin tratou de esmagar esta liga de cavaleiros e mandou edificar num pico rochoso, em frente ao Burg Eltz, um grande castelo de cerco, o Burg Trutzeltz (também chamado de BalduineltzBaldeneltz ou Neueltz): uma torre de menagem de planta quadrada com dois andares, acolhendo apartamentos e  elementos característicos das pequenas fortalezas de Balduin – com caminho de ronda, entrada em ogiva com duplo portal e liças em três dos lados. De lá, mandou bombardear o Burg Eltz com recurso a catapultas que lançavam bolas do gênero daquelas que se encontram ainda hoje no pátio interior do castelo. Com o corte das vias de acesso que permitiam o aprovisionamento do castelo, os cercados de Eltz foram obrigados a render-se após um cerco de dois anos. A capitulação dos três castelos do Hunsrück foi obtida por meios semelhantes. Em 1333, os senhores de Eltz pediram a paz. No dia 9 de janeiro de 1336, a “Paz de Eltz” foi concluída e a “guerra de Eltz” teve fim. A aliança defensiva e ofensiva foi dissolvida e o Burg Trutzeltz permaneceu nas mãos do príncipe eleitor Bauduin que, em 1337, fez de Johann von Eltz o seu burgrave* hereditário. Em 1354, o próprio Imperador Carlos IV deu o castelo em feudo ao príncipe eleitor Balduin e confirmou a doação a Boemund, seu sucessor. Assim, os senhores de Eltz (cavaleiros livres de nobreza imediata de origem dinástica) tornaram-se vassalos dependentes do Eleitorado de Trier e ficaram reduzidos a receber em feudo o Burg Eltz, assim como o Burg Trutzeltz, das mãos do príncipe eleitor. Em toda a história do Burg Eltz, esta guerra permanece como o único caso militar importante.

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No século XV, seguiu-se um período de intensa atividade arquitetônica que conduziu, em 1472, sob Lancelot e Wilhelm do Leão de Prata, ao acabamento da casa Rübenach, no lado oeste (o nome Eltz-Rübenach vem do bailio de Rübenach, perto de Coblença, do qual Richard do Leão de Prata tinha feito a aquisição em 1277)

Na diversidade arquitetônica que atinge o visitante desde a sua entrada no pátio interior, destaca-se particularmente a fachada da casa Rübenach virada para este pátio: As torretas em secções de madeira e de planta poligonal, o corpo-avançado em enxaimel, restaurado, de linha despida e severa, repousando sobre duas colunas de basalto e encimando a porta de entrada da casa e, sobretudo, o encanto do estilo final do gótico do enxaimel abrigando uma capela.

Enfim, o lugar é de prender a respiração, os sentidos ficam fora de órbita, todos os estilos arquitetônicos reunidos em um lugar mágico e exuberante.

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* no Sacro Império Germânico, título do comandante militar de uma cidade ou praça-forte; burgrávio.

Paulo Edmundo Vieira Marques – Professor, Historiador e Escritor Medievalista.

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