As Ordens Monástico Militares

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Estas ordens, nascidas na Terra Santa (Templária, Teutônica, Hospitalária, etc.) foram a realização do sonho medieval de unir a fé e a guerra justa. Mas, pela sua própria natureza, provocaram uma ruptura grave no seio da Cavalaria secular. Ao retirar do século Cavaleiros de alta envergadura espiritual e temporal, muita vezes originários de grandes linhagens, e votando-os ao celibato, estas ordens quebraram a unidade espiritual e física da Cavalaria secular, privando-a dos seus elementos mais dinâmicos susceptíveis de a manter, no seio do século, num quadro estritamente cristão. Sem as suas referências a Cavalaria mundaniza-se (Séculos XIV-XV) e preocupa-se menos com a fé e o respeito pelas leis evangélicas: ao mesmo tempo que a fé, forte na Idade Média, começa a retirar-se das consciências, a partir do século XV. A dessacralização do poder temporal e a Reforma, que quebra a unidade da Cristandade, não fizeram mais do que agravar seu estado de coisas: daí para frente o Cavaleiro, o guerreiro em geral, forjam uma moral militar que já não tem a defesa de Deus e da Igreja como fim exclusivo, mas de um estado e do seu príncipe, o qual é, em muitos casos, o chefe de uma espiritualidade singular, um reino, um príncipe, uma fé.

Nota-se outra ruptura: se outrora o Cavaleiro foi o homem de todas as causas justas, membro de uma confraria transnacional, o Cavaleiro é um agente executivo votado de corpo e alma à sua ordem, à qual deve fidelidade. O exemplo mais completo é o Templário que deve ser, como estipula um documento do século XIII, “paladino do bem e obediente às regras, casas e interesses da Santa Ordem” antes de o ser para com os “poderes exteriores à casa e outros”, inclusive o Papado.

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A Cruzada é a concretização da teologia cristã da guerra, mas também da dupla vontade da Igreja escapar à dominação da nobreza laico-guerreira e de reforçar o centralismo pontificial visando o dominium mundi em detrimento dos poderes seculares. No que diz respeito a Cavalaria, a Cruzada permite resolver a contradição que atormentava muitos Cavaleiros, quanto à conciliação entre o emprego da força guerreira e a observância dos Evangelhos. Daí em diante, depois de Urbano II e São Bernardo, o Cavaleiro secular podia unir, sem complexo, a via da espada à da fé; união que se tornou mesmo um dever para todo o verdadeiro Cavaleiro, fazendo dele um mile Christ. Mas se a cruzada assegurava uma continuidade da via cavaleiresca, também introduziu uma série de conseqüências para A Cavalaria.

A primeira foi a ruptura entre o espiritual e o temporal, grave por tocar uma instituição sacralizada, é certo mas que ficava, apesar de tudo, no domínio espiritual. A segunda consequência, mais contingente mas não menos importante, prende-se com as rivalidades que a Cruzada gerou entre os Cavaleiros, sobretudo entre os de altas linhagens, para a conquista e a defesa das conquistas territoriais efetuadas.

Em muitas ocasiões as finalidades iniciais das Cruzadas eclipsaram em proveito de interesses temporais, mesmo no seio das ordens, exacerbando as paixões políticas entre os condados, ducados, senhorias, etc. Não eram raras as lutas armadas entre senhores, que não hesitavam em aliar-se ao infiel logo que as cirscunstâncias o exigiam. A terceira consequência é que a Cruzada ocasionou uma perda importante da substância humana da cavalaria, uma vez que se avalia em mais de um terço os Cavaleiros mortos na Terra Santa, privando a cavalaria dos seus elementos mais eficazes. Esta sangria explica em parte o esgotamento sociológico da Cavalaria, tornando-a incapaz de se opor às armadilhas dos poderes seculares e a orientação negativa que tomou a partir do século XIV.

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Paulo Edmundo Vieira Marques

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